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Efeitos

Isolamento e Solidão

Os efeitos de estar ou se sentir sozinho

JAYNNE PEREIRA

Diante do cenário pandêmico, o isolamento social é uma realidade inevitável para grande parte da população. A solidão causada pelo isolamento provoca mudanças e traz consequências para a mente humana, o que tem gerado uma série de discussões e reflexões acerca dos efeitos da necessidade de isolamento com o objetivo de evitar a contaminação pelo no Coronavírus.

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Os efeitos do isolamento na estrutura psíquica estão relacionados a diversos fatores que variam a depender das características de classe, gênero, histórico familiar entre tantos outros. O isolamento e a solidão muitas vezes são impostos a indivíduos por questões de saúde mental, por punição a um determinado crime, ou ainda é uma escolha de determinados indivíduos que consideram saudável se isolar socialmente.

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O ser humano é um animal social que precisa viver entre os seus para sobreviver e se desenvolver. Desta forma, somos seres essencialmente relacionais. Desde o começo da vida, precisamos entrar em relação com familiares. Assim, quando o indivíduo é privado do convívio social de forma quase total, a exemplo do encarceramento, algumas implicações à sua saúde mental podem ser observadas, tais como: estresse, ansiedade, depressão, comportamentos obsessivos e/ou compulsivos (alimentar, de higiene, etc), entre outros, afirma a psicóloga Julianna Macêdo.

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A privação de liberdade não se resume somente à pandemia, é uma realidade antiga, já que o isolamento social se faz presente em diferentes contextos. Há, por exemplo, o isolamento voluntário – quando o indivíduo, ou grupo, se isola por vontade própria, independe da motivação, muito comum em grupos religiosos que realizam retiros espirituais. Além também da privação de liberdade promovida pelo Estado, como o encarceramento do indivíduo ou internação em instituições mentais. Em cada uma dessas situações, a mente humana reage de uma forma diferente.

 

Um dos exemplos mais famosos de isolamento voluntário ocorreu na década de 1960. Michel Siffre, um aventureiro e cientista francês, passou dois meses no interior de uma caverna profunda, sem falar com ninguém, sem nem mesmo saber a hora, dia ou o mês. Depois disso, Siffre ainda realizou mais dois experimentos de longo isolamento.

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Em 1972, o cientista se fechou em uma caverna no Texas por mais de seis meses – um dos mais longos experimentos de auto-isolamento da história. Documentando meticulosamente os efeitos em sua mente durante os 205 dias, o aventureiro escreveu que “mal conseguia pensar” depois de alguns meses. Após cinco meses, o cientista francês estava tão desesperado por companhia que tentou, sem sucesso, fazer amizade com um rato.

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De acordo com a psicóloga Priscila Oliveira, isolar-se não é algo simples para o ser humano, que diferente de outros animais, é desde o início da vida dependente de cuidados e afeto. Porém, os efeitos estão sempre relacionados a características e ao contexto de cada indivíduo. Questões ambientais, sociais e internas são variáveis que podem atingir cada indivíduo de forma diferente. “Enquanto um pode entrar em profunda depressão, outro sujeito pode aprofundar no acontecimento, ficando mais criativo e realizador de seus ideais”, afirma Priscila Oliveira.

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Já a psicóloga Julianna Macêdo avalia que todo tipo de privação de liberdade provoca mudanças e afeta a mente humana, mas nem toda consequência de situações de isolamento pode ser considerada negativa. O ser humano é social, é capaz de se adaptar a em que situações que precisa estar sozinho.

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O isolamento em diferentes aspectos

O isolamento está intimamente ligado à solidão, um sentimento que muitos indivíduos encontram dificuldade em administrar. Estar sozinho, por livre e espontânea vontade, é uma situação bastante diversa do sentimento de estar sozinho mesmo que, às vezes, o indivíduo esteja rodeado de outras pessoas. Julianna Macêdo chama atenção para essas diferenças: “há a diferença entre isolamento social e psicológico. No isolamento social há mais uma privação física de convívio e companhia. Já no isolamento psicológico, há a sensação e sentimento de solidão. Essa é a mais adoecedora”.

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Estar sozinho não é um fato necessariamente negativo. Um indivíduo pode estar só, mas ter a sensação de que pode contar com pessoas que podem oferecer amor e amparo em momentos difíceis.“Por mais que a pessoa esteja sozinha fisicamente, por escolha ou necessidade, ela não precisa se sentir sozinha, havendo formas de poder preencher seu tempo com algum tipo de contato social seja por meio da tecnologia, arte ou meios de comunicação”.

 

Há indivíduos, ainda, que sentem prazer em estarem sozinhos, saboreando esses momentos e se voltando para a reflexão e a busca de autoconhecimento. Ainda assim, mesmo o isolamento por escolha pode ser intercalado com momentos de interação social, aconselha a psicóloga Julianna Macêdo. “Quando há uma privação da liberdade de ir e vir não necessariamente há privação de contato social”.

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Lidando com as emoções diante da privação de liberdade 

A mente humana e, por consequência, o corpo humano, funcionam de diferentes formas diante de situações de privação de liberdade e os efeitos que elas podem causar. Ansiedade, angústia, solidão, alterações de humor e estresse, esses são alguns dos sentimentos gerados através do isolamento. “Também afeta o físico, gerando fadiga no corpo, dores de cabeça ou em outras áreas do corpo, entre outras afetações. Um outro exemplo é a ansiedade, que quando patológica, manifesta uma angústia interna no externo, como falta de ar, taquicardia, agitação corporal, sudorese intensa, entre outros”, acrescenta a Julianna Macêdo.

 

Algumas atitudes são necessárias para diminuir os efeitos gerados através do “confinamento”, permitindo assim o gerenciamento das emoções e possibilitando uma nova relação com a nossa mente. A psicóloga Priscila Oliveira alerta que as crenças e a forma que os indivíduos se reconhecem no mundo são fundamentais para lidarmos com situações difíceis. “Nossas crenças são fundamentais para alcançar curas, sejam autogeridas ou não, uma grande parte vem das oportunidades que cada sujeito possui diante da realidade que o envolve, os apoios que terá dos outros e da sua própria confiança em si”.

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Diversos contextos de isolamento

Por: Fernanda Souto e Larissa Barros

Uma das primeiras atitudes necessárias é reconhecer o que estamos sentindo, para que possamos lidar com nossas emoções, nominá-las e observar o que elas causam em nós e utilizar métodos que possibilitem a “autocura”, como por exemplo, a prática da meditação, que possui vários benefícios – comprovados através de estudos científicos –,   para a saúde física e mental. “No final das contas, é isso o que precisamos em tempos de isolamento social: aprender a se relacionar. Com nossos pensamentos, emoções e comportamentos. Com nosso corpo. Com o outro e com o mundo”, comenta Julianna Macêdo.

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