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Efeitos

Silêncio nos estádios

Como a pandemia alterou o relacionamento entre torcida e clubes em Sergipe

ROBERTA CÉSAR

Os estádios estão em silêncio. Se antes, as torcidas lotavam as arquibancadas em momentos decisivos e eram parte essencial da atmosfera das disputas futebolísticas com seus cânticos e instrumentos musicais, a pandemia de Covid-19 obrigou o mundo do futebol a se acostumar com arquibancadas vazias. De todas as adaptações feitas para tornar o ambiente seguro em relação à contaminação contra o Coronavírus, a ausência de espectadores é aquela que mais transformou o ambiente de competição. Testagem de atletas e comissão técnica e outras regras sanitárias são centrais para que as competições possam ocorrer, mas não mudam o clima da disputa.

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Contudo, não contar com a presença de torcida modifica totalmente o entorno da competição para os atletas ao mesmo tempo em que afasta pessoas comuns de algo a que muitos devotam uma verdadeira paixão. O futebol no Brasil é mais que um esporte, é um elemento central da identidade nacional, uma das principais manifestações culturais do país. Por isso, assim como no resto do país, em Sergipe os mais fanáticos sentem faltam de ir ao estádio envergando a camisa que consideram sua “segunda pele”.

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Em Sergipe, o torcedor do Confiança, desde o acesso para a Série B em setembro de 2019, contava os dias para assistir o esquadrão do time proletário buscar o ascenso para a divisão mais importante do futebol brasileiro. É o caso do universitário Paulo Santos que gostaria de vivenciar essa nova fase do Dragão Sergipano. “Está sendo muito difícil, principalmente no caso do Confiança, porque ficou 28 anos sem ir para a série B [do Campeonato Brasileiro], mesmo sendo uma campanha excelente como mandante, a gente sabe como a torcida faz diferença”.

 

O coração torcedor de Paulo considera que a presença de torcedores nos estádios poderia influenciar a campanha dos times. “A gente vê como está diferente neste período, pelo fato de a maioria das vitórias neste período de pandemia serem dos times visitantes, porquê? Porque não tem pressão no estádio”. Os jogadores também contam com o elemento torcida como uma variável a seu favor, e sentem falta desse aspecto durante as partidas.

 

Esse sentimento é externado por Hugo, zagueiro e capitão do Itabaiana, recentemente eliminado na segunda fase da Série D do campeonato brasileiro pelo Floresta do Ceará após derrota fora de casa e empate no jogo de volta. “Com certeza é negativo. A torcida ela é o nosso 12° jogador. Sempre acabo conversando com meus companheiros sobre essa situação, como é importante ter aquele torcedor, aquele momento que muita das vezes a gente até está dentro de casa, perdendo uma partida, e a torcida empurra e a gente consegue uma virada, consegue um empate”.

 

No entanto, os números de vitórias dos mandantes, pelo menos na Série B de 2020, indicam um movimento contrário ao apontado pelo torcedor Paulo Santos. Se na série B de 2019, os mandantes venceram 154 partidas entre as 380 disputadas, ou seja, 40,52% dos embates; na edição de 2020 do mesmo torneio até o dia 13 de dezembro, os mandantes venceram 122 partidas de 278 disputadas, o que significa que os mandantes venceram 43, 88% dos mandantes até o momento.

 

Há uma pequena diferença no número de derrotas dos mandantes. Em 2020, os donos da casa foram derrotados em 99 oportunidades, ou seja, 26,05% dos jogos, enquanto em 2019 as equipes foram derrotadas dentro de seus domínios 75 vezes, o que significa 26, 97% das partidas.

 

Diante desses números, o que explica a sensação de que algo se perdeu tanto do torcedor Paulo quanto do atleta profissional Hugo talvez seja a vibração, toda atmosfera que emana das arquibancadas. “A atmosfera é diferente, a sensação, muita das vezes até na casa do adversário, a maior torcida é do adversário, você consegue se motivar em cima daquele empurrão do torcedor contrário.

 

Então, com certeza é bem negativo e já está fazendo muita falta os nossos torcedores dentro de campo”, pondera Hugo. Paulo, um apaixonado torcedor do Confiança, admite que possui uma percepção parecida, mas do ponto de vista de um torcedor aficionado, apaixonado pelo turbilhão de emoções proporcionado por frequentar um estádio de futebol. “Está sendo muito difícil porque você não tem aquele calor humano, aquelas amizades que você faz no estádio, que você só encontra no estádio, então é cada um na sua casa e esperar voltar”, contou Paulo.

 

Entretanto, a paixão pelo Dragão Sergipano independe da presença nos estádios, e os torcedores apaixonados pelo Confiança encontraram outras formas de demonstrar seu apoio. Questionado sobre como a torcida está se mobilizando para apoiar o Dragão durante os jogos do Campeonato Brasileiro Série B, Paulo afirmou que nas partidas maiores, os torcedores vão até a porta do estádio com máscaras para receber o time. “Na primeira rodada do Brasileirão, teve uma carreata [seguindo] o ônibus do Confiança saindo de um hotel na orla.

 

No jogo contra a Chapecoense, aqui no Batistão, houve uma recepção. Em alguns jogos você consegue se organizar para fazer a recepção na porta do estádio, a carreata para que pelo menos tenha um apoio”, explicou. O técnico do Olímpico Esporte Clube, equipe sediada em Itabaianinha e que disputa a Série A2 do campeonato sergipano também lamenta a ausência de torcedores nos estádios e considera que um elemento importante de toda a atmosfera que envolve uma partida foi retirado, mas compreende a situação. “É negativo porque a torcida é o diferencial do futebol, mas entendo que não é o ideal arriscar as vidas dos torcedores e as nossas que trabalhamos no futebol”.

Futebol profissional sergipano durante a pandemia

Por: Fernanda Souto e Larissa Barros
Covid-19 nos times sergipanos

Apesar de todos os times das Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro terem sofrido desfalques por conta de atletas contaminados por Coronavírus, os atletas e membros de comissões técnicas de times sergipanos seguem confiando nos protocolos sanitários para a disputa de competições. Com a retomada dos campeonatos no Brasil, a testagem dos jogadores e de todos os envolvidos nas competições virou rotina no país. Um dos casos mais emblemáticos dos ricos a que os profissionais do futebol como jogadores, árbitros e comissão técnica se submetem é o caso de surto de Covid-19 acontecido na 22ª segunda rodada do brasileirão em que 56 jogadores de 12 diferentes clubes desfalcaram suas equipes.

 

O zagueiro e capitão do Itabaiana, Hugo, relatou à reportagem como este momento de pandemia alterou a rotina dos jogos. “Acredito que as principais mudanças que nós jogadores, atletas notamos foi a questão dos cuidados, essa questão para não proliferar o vírus, essa questão de sempre estar usando gel, máscaras e o distanciamento para que nós pudéssemos retornar”.

 

O atleta do Itabaiana que disputou a Série D do campeonato brasileiro em 2020 considera que os casos de contaminação por Covid-19 vão surgir, mas estariam dentro do esperado e a maioria dos casos podem ser evitados a partir de testes. Tem aquele aumento de casos, vão aparecer casos no meio do futebol como a gente está vendo hoje até no Brasileiro série A, B, C, D. Nós somos testados uma ou duas vezes por semana e nisso sempre aparece algum caso ou outro, mas quando tomamos os cuidados acaba que isso é evitado”, destacou.

 

Apesar da confiança do capitão do time de Itabaiana, surtos recentes como o que aconteceram no Marcílio Dias, time sediado em Itajaí (SC), desmentem essa sensação de segurança. Às vésperas do jogo de volta da segunda fase contra a Ferroviária do Ceará, o time catarinense se viu às voltas com a contaminação de 17 pessoas entre atletas e comissão técnica.

 

Entre atletas e comissão técnica, 20 profissionais estavam sem condições de atuar, pois alguns profissionais estavam em recuperação de contaminações ocorridas antes do surto. Diante da situação de poder contar apenas com 12 jogadores, a equipe pediu o adiamento da partida marcada para acontecer no Ceará no dia 13 de dezembro. Entretanto, a CBF negou o pedido do time catarinense.

 

O futebol sergipano também foi afetado por um surto de Covid-19. Após ter seis jogadores contaminados pelo novo Coronavírus, o Confiança tentou adiar a partida contra a Ponta Preta pela décima primeira rodada do campeonato brasileiro da Série B, mas não obteve sucesso. O Dragão acabou derrotado pela Macaca em Campinas por 2x1.

 

Já no jogo contra o Juventude, em setembro, o presidente do time azulino, Hyago França, expôs em seu Twitter que a equipe foi “forçada” a jogar com sete jogadores que testaram positivo para Covid-19. O presidente questionou a arbitragem do jogo após o Confiança levar dois gols em lances considerados irregulares. “Como se já não bastasse forçar o Confiança a jogar com 7 positivos com covid, tiraram a nossa vitória de forma descarada! Gol impedido e falta fora da área, é penalti?”, escreveu em sua rede social Hyago França.

 

O técnico do Olímpico Esporte Clube, Caio Simões, todavia, avaliou que o futebol em Sergipe teve grandes mudanças durante a pandemia de covid-19. “Minha análise é que o futebol sergipano realmente mudou e realmente se adaptou às normas cabíveis para se ter um campeonato seguro”. Como ponto positivo para estas transformações, Caio citou as preocupações de todos envolvidos nos campeonatos para não contrair o vírus. O Olímpico disputa a Série A2 do Campeonato Sergipano.

 

O zagueiro Hugo, afirmou ter contraído Covid-19 enquanto as partidas de futebol estavam paralisadas, mas não apresentou qualquer sintoma. O zagueiro ainda relatou que sua preparação física mudou por causa da pandemia. “Muda porque você perde tudo aquilo que você tinha, um ritmo de jogo que você estava, teve que parar, teve que treinar em casa e nesse momento foi que a gente percebeu o quanto é legal, o quanto é importante a gente estar ao lado dos nossos colegas, ao lado dos nossos amigos porque você sentia falta de treinar com eles e não podia”, contou Hugo.

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