
Na linha de frente: Pesquisadores da UFS se juntam aos esforços no combate à Covid-19
Roberta César e Lucas Emídio
A aprovação em caráter emergencial do uso das vacinas Coronavac e Astrazeneca/Oxford pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi um sopro de esperança em meio a políticas erráticas de combate à pandemia e ao descrédito com que o Governo Federal trata a ciência. Os bons ventos que trouxeram a vacina têm origem no trabalho de cientistas de várias partes do mundo. Os pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) são parte desse esforço em larga escala, e contribuem na produção de conhecimento sobre o vírus Sars-Cov-2.
As pesquisas acadêmicas da UFS vêm desempenhando um papel muito importante na luta contra o coronavírus. Foram várias pesquisas acadêmicas publicadas, testes, produção de insumos, entre outros. A atuação dos pesquisadores da UFS ressalta a importância das universidades e das pesquisas acadêmicas no enfrentamento da maior crise sanitária da história da humanidade. A “Força Tarefa Covid”, um grupo de pesquisa ligado à universidade, por exemplo, já possui vários feitos, entre eles o de ter conduzido cerca de trinta mil testes rápidos e também de publicarem cerca de 17 artigos sobre a doença causada pelo novo coronavírus.
Fonte: radioufs.ufs.br/Arte: Jéssica Barros
Teste de eficácia das vacinas
Em meio ao esforço de vacinação, uma importante pesquisa é gestada nos laboratórios do departamento de Farmácia da UFS: a testagem de eficácia da vacina Coronavac, que está em distribuição no estado. O coordenador da “Força Tarefa Covid”, professor Lysandro Borges, é responsável por esse projeto de pesquisa. Borges defende a importância da pesquisa ao ressaltar os riscos de uma segunda onda de contágio em Sergipe. “Possivelmente após o carnaval teremos um novo aumento com projeções indicando uma segunda onda [...] principalmente depois da detecção de sete novas linhagens, e uma dessas assusta a comunidade científica por ter maior índice de infectividade e poder fugir da formação de anticorpos”.
O teste de eficácia da vacina consiste em coletar, em indivíduos vacinados, uma porção do anticorpo com uma proteína específica do vírus Sars-Cov-2 e um subddomínio dessa proteína conhecido como RBD. O anticorpo anti-RBD é que que confere realmente a imunidade. Para realmente estar imunizado, o indivíduo precisa apresentar a proteína anti-RBD após a vacinação. Um kit específico detecta o índice IgG, o mais utilizado, e o sRBD, teste feito pela equipe do professor Lysandro Borges para cravar a eficácia das vacinas. Aqueles que apresentarem índices altos de anti-RDB estão imunizados, caso contrário o indivíduo precisará tomar uma terceira dose”, acrescentou o pesquisador.
Diferença entre as vacinas
Até o momento, duas vacinas começaram a ser aplicadas na população sergipana, a Coronavac e a Oxford/AstraZeneca. Sobre a diferença entre as duas, o professor Lysandro Borges explica que a Coronavac usa o vírus inativado, a substância induz a formação de anticorpos no nosso organismo contra várias partes do vírus, a proteína S, a proteína N, M e a E.
Enquanto o imunizante produzido pela Oxford/Astrazeneca se baseia em um protetor viral, ou seja, um vírus DNA que é encontrado em macacos e tem sua estrutura interna vazia. Para produzir a vacina, retira-se o material genético desse vírus e, em seu lugar é colocado pedaços do RNA do SARS COV 2. Quando esse vírus entra no organismo a partir da vacina e se conecta às nossas células, induz a produção de proteínas “spike”, que estimulam a formação de anticorpos contra essa proteína. Imitando assim a ação do vírus ao fazer com que nossas células formem um pedaço da espícula do coronavírus. Ao criarem estruturas semelhantes às encontradas no novo coronavírus, nossas células estimulam a criação de anticorpos.
Caixas de desinfecção de máscaras
Um outro projeto que vale a pena destacar é o das caixas de desinfecção de máscaras n95. A idealizadora do projeto, a professora de física médica da UFS, Susana Lalic, explicou que a caixa funciona através da luz ultravioleta. De acordo com a docente, o ultravioleta C é fortemente absorvido pelas moléculas de DNA e RNA e, cedendo capaz de romper as moléculas do DNA ou do RNA. O rompimento provoca danos que podem inativar aquelas moléculas. Caso essas moléculas sejam forem vírus, vai inativá-los, tornando-os não patogênicos, incapazes de causar doenças.
Foram elaboradas seis cabines de desinfecção. “Cada cabine esteriliza seis máscaras por vez. Esse tempo de esterilização são 2 min. Então, seis cabines, seis máscaras por vez, cada vez 2 min. Mas a gente já foi solicitado para fazer outras”, ressaltou a docente.
A professora destacou que após a caixa de desinfecção, outros projetos foram elaborados. Uma dessas iniciativas são equipamentos para uso de ar-condicionado em hospitais sem que o ambiente fechado, necessário para o resfriamento do ambiente, se torne propício para a transmissão da Covid-19. A ideia consiste em esterilizar o ar para a população. Conforme informou Susana Lalic, o equipamento já foi instalado no Hospital Universitário de Lagarto (HUL) e estima-se que poderá ser instalado também no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse).
À reportagem, Susana Lalic ressaltou a importância das pesquisas no combate à covid-19 não só em Sergipe, mas também num cenário geral. “Acho que as pesquisas são fundamentais. É uma doença nova, desconhecida. Se não houvesse pesquisa, não haveria como a gente trabalhar, porque a gente não saberia o que fazer para não se infectar”.
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