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Oportunidades

Novos hábitos na quarentena

O tempo livre a favor de si

GABRIELA 0LIVEIRA E LUCAS EMÍDIO

O Ócio Criativo foi tema de pesquisa do sociólogo italiano Domenico De Masi que analisou o seu próprio cotidiano para entender a relação entre tempo livre e trabalho criativo. O autor De Masi considera, em seu livro “O Ócio Criativo”, que o tempo livre pode melhorar a execução do trabalho, pois aumenta a criatividade e a maneira como as pessoas enxergam suas obrigações, uma reflexão difícil de ser feita em meio ao dia a dia conturbado do mundo trabalho.

 

Em meados de março deste ano, a chegada da pandemia do novo coronavírus no Brasil obrigou muitos brasileiros a ficarem em suas casas, em quarentena. Essa medida foi adotada pelas secretarias de saúde de estados e municípios sob recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) como medida para conter o avanço da Covid-19 pelo território nacional.

 

O fechamento do comércio, bancos, escolas e outros serviços considerados como não essenciais trouxe uma nova rotina para os brasileiros que não estavam na linha de frente do combate à doença. O escritório e a sala de aula foram substituídos pelo quarto ou sala de estar; o ambiente doméstico passou a ser ambiente de trabalho, de lazer, de aprendizado, entre outros, 24 horas por dia.

 

Além disso, fora as obrigações de trabalho e/ou estudos, muitos tiveram bastante tempo livre, já que suas rotinas foram modificadas. Não havia mais tempo parado no trânsito ou fazendo quaisquer outras coisas que os ocupassem.

 

Com esse tempo livre, as pessoas passaram a se dedicar a novas atividades. Atividades estas que não eram possíveis de serem realizadas no dia a dia corrido. De atividades físicas a maratonas de filmes, os brasileiros buscaram novos hábitos e habilidades pessoais para se dedicarem durante o período do isolamento social. Era também uma forma de distração, uma fuga da realidade, que ajudou a mitigar as questões psicológicas de cada um, fator bastante preocupante durante a quarentena. 

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Palavras mais buscadas na internet durante a pandemia, não relacionadas a temas comerciais. Por: Franciele Fernandes

Mesmo com a reabertura parcial da maioria dos setores econômicos, esses novos hábitos foram mantidos e já fazem parte das rotinas desses brasileiros.

Através da internet e das redes sociais, várias possibilidades foram abertas. Matheus Borges achou, por meio de uma publicação no Instagram, um curso intensivo de francês. O estudante de 22 anos já tinha interesse em aprender o idioma, mas não havia começado ainda. A partir do primeiro curso, Matheus foi buscando outros canais de aprendizado e inserindo o novo idioma na sua vida.

 

Para ele, além de uma realização pessoal, o curso de francês será importante no seu futuro profissional, por isso pretende continuar mesmo depois do isolamento.

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Matheus fez curso on-line para aprender idioma (Foto: arquivo pessoal).
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Arquivo pessoal
A música como hobby e terapia

A música está presente em quase todos os momentos das nossas vidas, representando alegria ou tristeza, trazendo lembranças, divertindo, entre outros sentimentos que podem ser aflorado por essa expressão artística.. De acordo com uma pesquisa realizada por pesquisadores do Darthmouth College, cujos resultados foram publicados nos Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), a música traz efeitos para a mente, coração e saúde. Além disso, segundo os pesquisadores, canções provocam os mesmos padrões de movimento e emoções em diferentes culturas, como EUA e Camboja, onde os experimentos do estudo foram realizados, criando um laço social entre pessoas geograficamente e culturalmente distantes.

 

Pensando em conciliar a paixão pela música com a quarentena, as estudantes Bruna Alves e Jessica Carvalho utilizaram dos seus tempos livres para aprender a tocar violão e ukulele, respectivamente. Ambas utilizaram a internet para aprender a tocar e se descobrirem através de seus instrumentos.

 

A paixão pelo violão junto com o canto na vida de Bruna Alves. Ela iniciou os estudos do instrumento pouco tempo antes do início da pandemia e precisou parar com as aulas; depois de um tempo em casa, ela decidiu buscar opções onlines de aprendizado.

 

Além disso, Bruna ressalta a importância do violão como algo modificador na sua vida; algo que melhora sua autoestima e traz momentos de felicidade. O instrumento também a motivou a procurar novas habilidades que ela tenha vontade *áudio 2-entrevista* e também já pensa em possibilidades futuras que o violão pode lhe trazer.

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Bruna com seu ukulele (Foto: arquivo pessoal).

Outras duas paixões foram conciliadas por Jéssica Carvalho. A jovem já escrevia algumas coisas e gostaria de transformá-las em músicas, por isso sentiu a necessidade de aprender um instrumento para complementar, no caso, o ukulele. A estudante aproveitou do seu tempo livre para estudar o instrumento antes de aprender a tocar. Através de pesquisas na internet, Jéssica começou a conhecer o ukulele, as notas, as cordas buscando uma identificação. Ela também ressaltou como o ukulele trouxe mudanças positivas para sua vida e a ajudou durante o isolamento.

Paixões pessoais que viraram “trabalho”

Uma das atividades mais desenvolvidas durante a quarentena foi a maratona de filmes e séries. Algo que sempre foi considerado como atividade de lazer realizada principalmente aos fins de semana passou a ser a grande distração para aqueles que estavam em casa 24 horas por dia. Relatório do instituto de pesquisa Nielsen sobre audiência nos EUA em eventos que obrigam a população ao isolamento social como furações e a pandemia indicam que as o tempo gasto com redes sociais, streaming e mídia tradicional tendem a aumentar cerca de 60%. Porém nem todos utilizaram os filmes como lazer, a estudante de letras de 18 anos, Letícia Mota, transformou sua paixão por filmes em conteúdo no Instagram.

Letícia já compartilhava suas opiniões sobre os filmes com seus amigos mais próximos, mas sentia a necessidade de deixar salvo seu conteúdo. Foi a partir daí que surgiu a página “Um Filme Todo Dia” (@_umfilmetododia) onde ela compartilha suas opiniões sobre filmes, documentários e animações. A página já conta com mais de mil seguidores e busca compartilhar conteúdos relacionados a causas sociais como os movimentos negro, feminista e lgbtqiap+ (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, e mais.)

 

Para ela, a rotina de assistir filmes ou outras produções audiovisuais e produzir conteúdos a respeito disso serviu como um novo olhar para a vida. Hoje, Letícia sente a importância de ter um tempo do dia dedicado para si mesma, para relaxar perante suas outras obrigações. Este hábito que foi criado durante quarentena, que surgiu como um hobby, agora é considerado como um trabalho, que a estudante se sente a vontade para realizar.

Letícia fala sobre como canal a ajudou
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Letícia fala sobre a continuidade do canal
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Letícia fala sobre a ideia do canal
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Novos hábitos agregados aos antigos

Em 2019, Karina Feitosa começou a praticar pole dance; a atividade física que mistura dança com sensualidade trouxe um novo hábito na vida de Karina, as aulas eram semanais e já estavam inseridas na sua rotina. Com o início da pandemia e o fechamento do studio (local onde ela praticava), Karina precisou adaptar suas atividades físicas a nova realidade; porém, a prática do pole dance é bastante restrita já demanda o uso da barra, (aparelho essencial para prática, e  espaço apropriado.

 

Foi quando Karina encontrou um floorwork como uma nova possibilidade de hobby e uma nova atividade física que pudesse ser praticada em casa. Os studios de pole dance começaram a vender esse novo estilo de dança como aula para manter seus alunos interessados e com bom condicionamento físico;

 

Atualmente, com a reabertura do studio de pole dance, Karina encontrou uma forma de conciliar as duas modalidades, ela destaca como os dois estilos de dança podem caminhar juntos e como o floorwork agrega para o pole dance, sua verdadeira paixão.

Ainda não há previsão para o fim da pandemia do novo coronavírus. A expectativa da população é a chegada da vacina, que já está sendo produzida em alguns países, mas cuja chegada de fato ao Brasil, e a consequente vacinação em massa, ainda é uma incógnita. Enquanto isso, o mundo está vivendo adaptado ao vírus, com várias incertezas. Não se sabe o que acontecerá com o mundo pós Covid-19, mas esperasse que um novo estilo de vida seja estabelecido, respeitando e valorizando mais cada indivíduo.

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Vestibular: Criando novos hábitos para executar antigas tarefas

 

Situação totalmente diversa é a mudança no cotidiano dos alunos que cursam terceiro ano do ensino médio. Esses estudantes esperam prestar vestibular ou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para ingressar no ensino superior. Nesse caso, o dilema não é encontrar novas formas de preencher o tempo livro decorrente da pandemia, mas seguir executando tarefas cotidianas, como estudar, em meio a mudanças drásticas. A situação é ainda mais desesperadora para alunos que precisam estabelecer uma rotina de estudos para prestar os concorridos exames que dão acesso a cursos superiores.

 

Readaptar o ambiente de ensino para pandemia de Covid-19 o ambiente de ensino tem sido um grande desafio. Em determinadas escolas públicas, algumas alternativas foram criadas. Enquanto isso nas instituições privadas, ações além das aulas e atividades remotas, foram pensadas maneiras para esquivar os alunos de possíveis dificuldades. E como toda essa situação se aplica aos estudantes em preparação ao vestibular? Como conseguem contornar os problemas?

 

As escolas da rede pública estadual precisaram adotar medidas para conter o atraso do calendário e não prejudicar os alunos que estão em preparação para o vestibular. Em algumas instituições como, por exemplo, a escola Ivo do Prado, ações como aulas online pela plataforma google meet, e atividades em formas de módulos impressos foram repassados aos alunos.

 

As dificuldades enfrentadas pelos alunos estão relacionados ao próprio ambiente mediado pela tecnologia e não pela abordagem dos professores nas aulas. As mudanças impostas pela pandemia vem sendo muito sentidas pelos estudantes. “Tenho dificuldade em matérias básicas como português e matemática, não por conta dos professores mas pelo ensino remoto em si” disse Fabrício Barros. Já para Thales Santos, houve uma preocupação com os alunos, do interior, e com outros em situação de vulnerabilidade.

 

As dificuldades enfrentadas por alunos da rede privada em razão da mudança de cotidiano não difere muito dos casos encontrados nas instituições públicas de ensino. As escolas dispõem de aulas onlines fazendo o uso das mesmas plataformas, e também de atividades remotas, e os alunos possuem quase as mesmas dúvidas. É o caso de Gabriel Soares. “Foi uma coisa totalmente diferente, tive dificuldades de adaptação, pois não era a mesma coisa de estar em uma sala de aula”.

 

Mais uma vez a mudança no ambiente de ensino-aprendizagem e não o trabalho dos professores é apontado como o grande vilão. “Os professores ajudam em tudo, buscam sempre envolver os alunos, sempre inovando”. Por fim, a educação nunca mudou tanto como nos últimos meses, são sempre novos desafios, e nesta corrida pela vaga em uma universidade lidar com incertezas e medos ocorre para todos os alunos.

Por: Claudia Porto. Imagens de arquivo pessoal.

Os professores que estão na linha de frente da educação em tempos de pandemia. A professora da rede estadual Patrícia Lima relata que há alunos passando por problemas psicológicos e outros que passaram ou passam por dificuldades econômicas devido ao desemprego dos familiares. Essas questões estão mais próximas da realidade de alunos das escolas públicas, e dificultam o processo e o acesso ao ensino, resultando em desvantagem nas provas de acesso ao ensino superior.

 

A professora Patrícia Lima relata que as escolas públicas vem tentando se reinventar para que esses alunos não percam o foco. “Essa é uma dificuldade a ser enfrentada pois a educação é feita pela relação aluno-família-escola, e toda essa relação foi afetada pela pandemia, deixando esse aluno solitário, perdido.”

 

Os alunos da 3º série do ensino médio, amparados em decreto do governo do Estado, retornaram às escolas, mas mesmo assim não puderam ter acesso a todas as aulas de forma presencial, porque os professores integrante dos grupos de risco em caso de contaminação por Covid-19 não puderam retornar também.

 

O governo do Estado vem tomando medidas para “amenizar” os problemas dos alunos em preparação ao vestibular. Antes da situação da pandemia ocorria o Pre-Seed, um curso de pré-vestibular gratuito oferecido pelo governo do estado. Mas para este ano, cerca de 10 mil conteúdos foram disponibilizados pelo portal  “Estude em Casa” no site da Seduc contemplando todas as disciplinas, e ainda mais ocorrendo o plantão do Enem; que são uma série de videoaulas pelo Youtube. Além disso, programas educativos estão sendo disponibilizados através de transmissão via rádio e TV.

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