Oportunidades
Isolados em abrigos, idosos experimentam mudanças brutais em seu cotidiano
Mudanças no cotidiano e adoção de novos hábitos, devido pandemia, afetam diretamente as Instituições de Longa Permanência para idosos (ILPI)
JAMES JÚNIOR
O Conselho Estadual dos Direitos e Proteção do Idoso visita ILPIs em Sergipe.
Fonte: Arquivo pessoal de Manuel Durval, diretor do Cedipi
A pandemia causada pelo novo Coronavírus impôs mudanças drásticas nas rotinas de pessoas de diferentes classes sociais, faixas etárias e gênero. Porém os idosos são um dos grupos que mais sofrem as consequências do isolamento social para a prevenção contra a Covid-19. Segundo o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde do dia 3 de dezembro, foram confirmados 2.319 óbitos. Dentre essas pessoas, 25% eram idosos de 70 a 79 anos. Dessa forma, os cuidados envolvendo idosos devem ser redobrados, o que causa desconforto, pois torna necessário o afastamento de parentes e pessoas de outros grupos etários e de círculos sociais mais próximos.
A necessidade de evitar a contaminação de idosos por Covid-19, se por um lado preserva a vida de pessoas da terceira idade, por outro, promove uma mudança drástica em suas rotinas. Por esse motivo, as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) tiveram que fechar as portas. Sendo assim, os idosos que vivem em lares de acolhimento agora enfrentam o isolamento social, que se configura de forma ainda mais dura para esse grupo etário. Para proteger essas pessoas, que são consideradas grupo de risco, familiares, visitantes, e outros grupos de pessoas que não fazem parte dos profissionais das instituições passaram a ser impedidas de visitá-las.
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A restrição a visitas não é suficiente para evitar que idosos contraiam a doença nas ILPIs. Algumas dessas instituições precisaram tomar medidas que transformam radicalmente o dia a dia dessas pessoas. Como o distanciamento entre os próprios idosos. O Same Lar de Idosos é uma dessas instituições. O diretor da ILPI, Diácono Antônio Costa, relata que, além do isolamento social, outras precauções mudaram o cotidiano do lar. Entre elas está o uso obrigatório de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) como luvas, máscaras, jalecos e toucas pelos profissionais do Same.
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A pandemia não trouxe apenas problemas de ordem cotidiana para as ILIPs, mas também fez surgir impasses relacionados ao abastecimento. O Conselho Estadual dos Direitos e Proteção do Idoso alega ter tomado uma série de medidas para mitigar os efeitos da pandemia nas instituições que abrigam idosos. Manuel Durval, diretor deste órgão que pertence a Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência Social e do Trabalho, desde Junho está visitando as ILPIs em Sergipe e efetuando planos de ações. “Nós recebemos um desafio do Conselho Nacional, de que todos os estados que tivessem fundos públicos, promovessem uma ação em benefício das pessoas idosas abrigadas”, relata Durval. Uma das iniciativas implantadas pelo Conselho de Sergipe foi a distribuição de cestas básicas. De acordo com um levantamento de preço e levando em conta que seriam duas cestas básicas para cada idoso, foi reservado R$73.200 reais. No interior, 11 (onze) unidades receberam 656 cestas básicas.
Distribuição de cestas básicas para as ILPIs em Sergipe.
Fonte: arquivo pessoal de Manuel Durval, diretor do Cedipi
Em um momento tão delicado, a solidariedade vinda da sociedade civil é de fundamental importância. O Centro de Ação Social Católica de Itabaiana e o Lar de Idosos Solar da Vovó, também receberam auxílios imediatos, originários de doações, que minimizaram as consequências negativas da pandemia. Segundo a diretora da ILPI de Itabaiana, Freira Josefina Lima, diversos órgãos e empresas apoiaram o Lar com doações. Foram, cestas básicas, produtos de higiene e de limpeza e equipamentos de proteção contra o coronavírus, álcool em gel, máscaras e jalecos.
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Condição de Isolamento
Todas essas mudanças e dificuldades não foram aceitas de bom grado por alguns idosos. Na opinião de Lima, isso ocorre pelo desejo de estabilidade que os idosos alimentam. Quando alguém apresentava sintoma de covid, esse indivíduo era afastado dos demais. “Eles não gostam de estar mudando de local. Por mais que a gente explicasse, que era porque ele estava tossindo, ou o colega, e que precisava afastar um do outro, eles reagiam”, relembra Lima.
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Os primeiros meses de pandemia foram difíceis no Lar de idosos Solar da Vovó. Desde o início foi decretado o isolamento social e, consequentemente, as visitas presenciais de familiares foram interrompidas. Essa nova rotina não foi bem assimilada pelos idosos do lar. Isso é perceptível no relato da Debora Cristiane, Assistente social do Solar da Vovó. “Os idosos não se conformaram e alguns familiares também. Alguns idosos falavam que a gente era as culpadas, que estávamos proibindo os familiares de visitá-los”. Mas, de acordo com Cristiane, o tempo e as rodas de conversa diminuíram essa insatisfação.
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Os idosos do Same também passam por dificuldades para se adaptarem à nova realidade. De acordo com Antônio Costa, até hoje ainda é necessário fazer esclarecimentos. Os idosos do Lar participam de reuniões com equipes técnicas, que buscam explicar a situação e alertá-los sobre a importância de tomar cuidado e se manter protegidos. Mas, Costa reitera, “A percepção dos riscos de contágio e da necessidade de adoção dessas medidas para alguns é difícil e não demonstram preocupação”.
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O isolamento social acabou com as visitas externas, com o contato físico entre familiares e idosos e com as atividades recreativas que aconteciam rotineiramente. Mas, com a ajuda da internet, essas instituições conseguiram elaborar outras alternativas para promover entretenimento e contato emocional e afetivo.
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O Same Lar de Idosos, em parceria com alguns grupos, preparou diversos eventos que estão acontecendo regularmente. Segundo Costa, semanalmente ocorre a tarde da poesia, em colaboração com o Grupo Sementes-SP, que consiste em ler poesias e conversar sobre elas, num momento de um “dedo de prosa”. A rede social Instagram também está ajudando nesse processo. Os idosos seguem a página @TricotandoSaberes, que publica conteúdos relacionados à terceira idade. E, completando essas atividades, há leitura de cartas e de mensagens motivacionais. Além disso tudo, numa colaboração com o Grupo Votorantim de Laranjeiras/SE, existe uma comemoração com o aniversariante do mês. O idoso recebe um kit, com bolo de aniversário, lembrancinhas e uma conversa em chamada de vídeo com o doador.
“A gente se deteve mais em música, dança, oração e exercícios. A gente passou esse período assim, sobretudo quatro meses”, conta Lima. No Centro de Ação Social Católica de Itabaiana, a promoção de entretenimento foi mais difícil. Pois houve a necessidade de suspender a permanência da banda que tocava no local, dos voluntários que faziam barba e cabelo dos idosos e das visitas recreativas. Mas, mesmo com o enxugamento da equipe de cuidadores, os idosos continuaram com os exercícios e caminhadas. O contato com os familiares, em todas essas instituições, ocorre de formas parecidas. “Para manter o relacionamento e o fortalecimento de vínculos afetivos, o Same realiza chamadas de vídeo para os familiares dos idosos residentes” explica Costa.
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A ILPI de Itabaiana e o Lar de Idosos Solar da Vovó tem um pequeno diferencial. Além das chamadas de vídeo e ligações de telefones, ocorre, desde setembro, visitas assistidas, onde o familiar, que permanece na parte externa do prédio, pode conversar presencialmente com o idoso.
No Lar de Idosos Solar da Vovó, os idosos esperam, com uma distância de 2 metros um do outro no interior do prédio, a chegada de seus familiares que permanecem na parte exterior.
Fonte: Débora Cristiane, assistente social do Lar de Idosos Solar da Vovó
O que ainda pode ser feito ?
O Governo Federal vem liberando o auxílio emergencial direcionados às ILPIs. Esta ação, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, reservou R$160 milhões de reais para apoiar instituições que foram afetadas pela pandemia. Em todo o Brasil, 2.118 ILPIs estão cadastradas, 70% já receberam. O plano deste auxílio é reservar R$ 2.332 reais para cada idoso abrigado.
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“A Secretaria de Estado da Assistência, junto com o conselho, fizemos uma live, e convidamos todas as instituições do nosso estado para se cadastrar”, comenta Durval. Essa reunião exibiu um passo a passo de como realizar esse procedimento. E, de acordo com o diretor do Conselho de Idosos, em Sergipe 14 ILPIs conseguiram se cadastrar.
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O Same Lar de Idosos, o Lar de Idosos Solar da Vovó e o Centro de Ação Social Católica de Itabaiana foram contemplados com esse auxílio emergencial. Algumas instituições ainda esperam o recurso ser liberado para uso e outras iniciaram uma pesquisa de mercado para saber a melhor maneira de aproveitar o dinheiro.
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