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Foto do escritorPortal Contexto

Uma reforma sem fim…

Obras da Catedral de Aracaju completam 7 anos e a promessa de término é 2022


Foto: Joyce Oliveira

Um antigo ditado diz “o que começa errado, tende a terminar errado”, ou quem sabe, nunca terminar. A reforma da Catedral de Aracaju fez aniversário de sete anos, no último dia 14 de junho. Esse não deve ser o último aniversário dessa obra que parece não ter fim. Já estão previstos mais três anos de reforma. Talvez termine em 2022. Quem sabe? Essa é a primeira restauração da igreja que é de 1862. Todavia, ela só foi inaugurada 13 anos depois, em 1875. O atraso nas obras da catedral até parece um carma.

Em meio a todo abandono do Praça Olímpio Campos, a Catedral de Aracaju ainda surge suntuosa. O desgaste presente em toda a praça parece ter adentrado as enormes portas da igreja e penetrado em seu interior.

As torres, as imagens sacras, o piso, tudo estava em péssimo estado de conservação. Sua arquitetura está ligada aos elementos marcantes do neoclassicismo e do neogótico. A igreja já tinha 150 anos quando a reforma começou em junho de 2012. Nunca mesmo havia passado por nenhum a restauração. A Paróquia Nossa Senhora da Conceição foi elevada à condição de Catedral em 3 de janeiro de 1910 e tombada a nível estadual em janeiro de 1985.


Foto: Sedurbs

A obra previa a restauração de toda a cobertura, revestimento e pintura das fachadas, recuperação das instalações elétricas, substituição do piso interno, serviços de contenção contra umidade, interno e externo, restauração das esquadrias de madeira e metálicas e dos elementos arquitetônicos característicos das fachadas, revitalização dos banheiros. Além da reconstrução da parte externa e pavimentação dos arredores.

Todo o trabalho foi dividido em 5 etapas: 1ª: Recuperação da cobertura e revisão das instalações elétricas; 2ª: Instalação do guarda corpo, restauração dos pináculos, serviço de contenção de umidade (interno e externo), restauração dos elementos arquitetônicos, e característicos das fachadas; 3ª etapa e atual: Pisos, trabalhos de acessibilidade, restauração de rebocos e pinturas artísticas das paredes do pavimento térreo; 4ª: Proteção contra incêndio; e 5ª: Finalização, pavimentação externa. O orçamento geral da reforma ficou em mais de R$6 milhões, sendo que mais R$ 3,8 milhões já foram gastos.

A primeira etapa da obra foi concluída sem atrapalhar as atividades paroquiais. Na segunda, com a remoção do piso, o prédio foi interditado e as celebrações transferidas para o anexo da Rádio Cultura de Sergipe, rua Propriá. A mudança para a sede temporária foi em 08/02/2018 e estava prevista para durar 221 dias. Contudo, um ano e meio depois, a Catedral continua funcionando no templo provisório. A mudança para o anexo trouxe muitos transtornos, tanto para os fiéis quanto para os comerciantes dos arredores.

Segundo a Arquidiocese de Aracaju, a mudança foi necessária. “Graças ao pároco estamos conseguindo sobreviver e manter praticamente todas as atividades, na medida do possível. Mas não temos mais como alugar o espaço para eventos, casamentos e formaturas, e assim perdemos uma parcela grande da nossa receita”, explica Edmilson Brito, assessor da Arquidiocese.

A queda na receita ultrapassa as portas da igreja. Os comerciantes na Praça Olímpio Campos também viram sua renda cair. Seja os donos de quiosques ou as feirantes de artesanato o discurso é unânime: a catedral em reforma chega a reduzir em quase 30% as vendas. “Aqui é uma região abandonada, as pessoas passavam por aqui pela catedral, agora não passam mais. Só quem já sabe de nós aqui ou os turistas que não sabem da reforma ainda”, afirma Maria do Carmo, que há 22 anos vende artesanato na praça. “Não mudamos de ponto ainda para não perder o espaço, porque sabemos que quando a Catedral for reaberta, tudo vai voltar ao normal e aqui vai ficar mais disputado”, analisa a feirante.


Quando vai terminar?

“A reforma da Catedral é muito complexa. O peso histórico das peças e das estruturas exige cuidado e atenção. Por isso, aliada à reforma, tem-se a restauração, fase final e de maior cuidado e de trabalho minucioso”, pontua Katarina Aragão, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em Sergipe, que assina a obra junto com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade (Sedurbs).

“Estamos aguardando o piso chegar para a colocação. Em seguida partiremos para as próximas etapas da obra. A previsão de conclusão é de 2 ou 3 anos” finaliza Katarina.


Foto: Sedurbs

Com a reforma se arrastando ao longo dos anos, quem é o culpado por tanto atraso? A Arquidiocese, o IPHAN e a Sedurbs apontam dois pontos para o atraso: a complexidade das restaurações e a demora no repasse das verbas, provenientes de emendas parlamentares. Contudo, asseguram que as verbas das próximas etapas já estão encaminhadas e agora é só aguardar. Se três anos ou mais, só o tempo poderá dizer. Será que o carma da Catedral finalmente chegará ao fim em 2022?


Um pouco de história


Foto: Arquivo Arquidiocese

A origem da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Aracaju está ligada à criação da própria cidade. O então governador da província, Inácio Joaquim Barbosa, contratou o engenheiro Sebastião Basílio Pirrô para a missão de criar um plano regulador urbanístico para Aracaju.

O projeto da Igreja Matriz era grandioso e foi paralisado inúmeras vezes por questões financeiras. Lembrando que estamos falando lá da criação da igreja, certo?

Depois de muitas campanhas entre os fiéis e mobilização, em 1862, as obras estavam finalizadas, mas a inauguração só aconteceria em 22 de dezembro de 1875. Além dos aspectos financeiros, outros fatores influenciaram a interrupção da construção, como a morte do fundador da nova capital, Inácio Barbosa, e uma epidemia de cólera que dizimou centenas de cidadãos da época.

Desde o início, a Catedral de Aracaju ganhou uma importância que ia além das crenças religiosas. Ao seu redor, desenvolve-se todo um universo social, político e comercial. A localização central foi primordial para virar um ponto de referência em Sergipe.


A praça, o parque, a catedral


Foto: Arquivo Arquidiocese

A Catedral está localizada na Praça Olímpio Campos, precisamente no Parque Teófilo Dantas, Centro da capital sergipana. Além da instituição religiosa, o parque abandonado engloba: o histórico restaurante Cacique Chá, vários quiosques comerciais, a feirinha de artesanato e de comidas típicas.

Ainda que esteja abandonado, um olhar atento consegue perceber que o parque tem lindos detalhes arquitetônicos. Desde sua origem, ele era referência de arquitetura. Projetado e construído pelo arquiteto Corinto Mendonça, trazia em sua ideia inicial a inspiração da antiga Praça de Santa Maria de Belém, no Pará.

A ornamentação do parque era caracterizada por elementos indígenas e naturais, como taba de índios, lago das ninfas, cascatas, aquários. O local, que durante muitos anos abrigou parques de diversões e até um zoológico, está completamente abandonado, fadado a ocupação marginal.

Atravessar o parque, mesmo de dia e sobre as bênçãos de Nossa Senhora da Conceição é arriscado. Durante a noite, passar pela região é quase proibitivo. O local não dispõe de iluminação, nem segurança. As árvores frondosas confundem a visualização e os velhos tapumes que rodeiam a Catedral só dificultam a movimentação na praça.






 

Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado I - 2019.1

Repórter - Joyce Oliveira

Orientação - Professores: Josenildo Guerra, Cristian Góes e Eduardo Leite

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