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  • Foto do escritorEduardo Leite

Cidade desenfreada: crescimento urbano ameaça às áreas verdes da capital sergipana

por Antonio Juarez, Lucas Lima, Maria Letícia Oliveira e Thereza Maria Correia

Em Aracaju, os processos de degradação da paisagem natural, por conta da intensa ação do homem, não ocorrem de modo diferente do contexto brasileiro. O município está localizado em uma região de vegetação de Mata Atlântica com intensa presença de manguezal aos seus arredores, mas hoje, ao observar a cidade, o que se nota não são os manguezais e a mata, mas o conflito entre o espaço de preservação e o espaço urbano, representado pelo asfalto, carros e setor imobiliário.


Nas cidades, os espaços com vegetação preservada ou inserida, são chamados de áreas verdes públicas urbanas e incluem praças, canteiros e parques, que atendem a três funções básicas: preservação ecológica, embelezamento da cidade e lazer para a população. Apesar das funções, Aracaju, como outras cidades, cresce sem a devida atenção para essas áreas.


A situação causa apreensão entre especialistas que acompanham o avanço do impasse entre zonas verdes e desenvolvimento urbano. Em estudo, a professora do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Sergipe, Rosemeri Melo e Souza, ressalta que a falta de medidas urbanísticas mais incisivas por parte do poder público municipal tem contribuído para problemas específicos no tocante à escassez do acervo arbóreo urbano.


Dentre os problemas apontados pela pesquisadora, estão a falta de amortecimento do som em ocorrência da poluição sonora e a falta de árvores para diminuir o calor na cidade e filtrar os poluentes.

Trânsito do Calçadão Formosa, no bairro 13 de Julho. Crédito: Thereza Maria


Fonte: EMURB, 2013. Elaboração da consultoria.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o índice recomendável de áreas verdes por habitante deve ser de 12 metros quadrados. Enquanto isso, a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana afirma que esse índice deve, no mínimo, ser de 15 metros quadrados. Em Aracaju foram desenvolvidos estudos que apontam que o índice médio é de apenas 3,4 metros quadrados por habitante.


Além desse panorama, de acordo com dados da Empresa Municipal de Obras e Urbanização (EMURB ), os bairros com melhor concentração de presença de áreas verdes são Centro e São José, com apenas 5,7 m² e 3,1 m² por habitante, respectivamente. Os bairros Inácio Barbosa, Treze de Julho e Aeroporto apresentam índices entre 1,5 m² e 2,5 m². Os demais bairros da capital apresentam números inferiores a 0,5 m², o que corresponde a 78% do total dos bairros da cidade.

Mapa da cobertura verde no município de Aracaju. Fonte: MapBiomas Brasil

A arquiteta e fundadora do coletivo Camaleões, Dauane Santana, afirma que a definição da Prefeitura Municipal para o conceito de áreas verdes ainda é muito frágil. A arquiteta aponta que a classificação das zonas verdes perante o plano diretor vigente é ampla e problemática. ‘‘Em áreas verdes ainda se inserem praças, mesmo se ela não possuir árvores. Existem áreas como canteiros e lugares de vegetação rasteira que são incluídos na classificação. Portanto, eu ainda acho a conceituação frágil e consequentemente difícil de se entender e preservar’’, explica.


Avante à arborização da cidade


A prefeitura Municipal de Aracaju, através da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), possui um plano de arborização da cidade vigente desde 2014 que atualmente está passando por reformulação. Segundo o plano, a cidade tem como meta o plantio de mais cem mil árvores ao longo de 15 anos e a sua aplicação deve ser feita através de planejamentos que considerem os demais projetos de infraestrutura do município.


De acordo com a coordenadora ambiental da Secretaria Municipal do Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplog), Heloísa Thaís Rodrigues de Souza, para o avanço de um novo plano de arborização, primeiramente, é preciso realizar um inventário para identificar o panorama arbóreo da cidade e enfim efetuar ações de manejo.


Apesar da meta do plantio de árvores, o cenário atual aponta uma investida no sentido contrário. O caso do corredor da Avenida Hermes Fontes, iniciado no final de 2018, foi motivo de críticas à gestão municipal por ambientalistas e pela sociedade civil devido a derrubada das árvores de toda extensão da avenida para a construção de uma faixa exclusiva para ônibus.


Na ocasião, o prefeito do município, Edvaldo Nogueira, defendeu a obra alegando que traria melhorias para a mobilidade urbana da cidade. Sob críticas, o gestor explicou que a retirada das árvores seria compensada com o plantio de novas mudas ao longo calçamento da avenida – anúncio que repercutiu de forma negativa entre os comerciantes da região que não estavam dispostos a ceder o espaço para o plantio das mudas.


Entretanto, o Plano de Mobilidade Urbana de Aracaju defende o oposto da justificativa dada pelo prefeito. No documento, consta que “mobilidade é o trânsito de pessoas e deve ser sustentável através da busca de equilíbrio entre desenvolvimento econômico, proteção ambiental e justiça social”.


O coletivo Projeto Muda o Mundo foi uma das entidades que se manifestou contrária à medida. Segundo Alana Ayone, membro da organização, o caso se trata de um crime ambiental e foi realizado sem qualquer planejamento.



Árvores da Hermes Fontes derrubadas. Crédito: Maria Franciele


A devastação causada pelo mercado imobiliário

O aquecido mercado imobiliário na cidade tem crescido exponencialmente. Segundo levantamento do jornal O Globo, em quatro anos foi aprovada a construção de 47 edifícios apenas no bairro Atalaia. Esse crescimento preocupa ambientalistas e especialistas da área, que ressaltam o receio de uma destruição desenfreada das zonas verdes da cidade. Essa preocupação é ainda mais reforçada devido a casos similares já terem sido presenciados no município. A investida imobiliária em bairros como 13 de Julho e Jardins deixam hoje um rastro de devastação da vegetação de manguezal, nativa da localidade.

Avanço de prédios na região da 13 de Julho Crédito: Thereza Maria

Hoje, as investidas nos bairros Jabotiana e Inácio Barbosa levantam indícios da repetição de problemas ambientais vistos nas demais regiões da cidade e suas consequências já podem ser sentidas. Com o avanço vertical desenfreado na Jabotiana, durante o período de chuvas, a região enfrenta constantes alagamentos por estar situada em uma localidade com presença de mangue.

Ainda assim, a coordenadora ambiental Heloísa Rodrigues afirma que a Prefeitura Municipal possui um planejamento estratégico que envolve as demais pastas como Sema, Seplog, Emsurb e Emurb destinado à questão ambiental. Para ela, a existência desse planejamento representa um grande avanço na pauta e demonstra um compromisso da gestão municipal atual com o desenvolvimento urbano sustentável.


Plano Diretor e desafios na arborização da cidade


A cidade de Aracaju vive um impasse desde 2002, ano em que o Plano Diretor, construído ainda no ano 2000, deveria ser reavaliado. Vinte anos depois desse primeiro impasse, a situação se mantém, pois o documento ainda segue sem atualização. Tal questão acirra os problemas urbanísticos do município, pois a cidade cresce em um ritmo desenfreado e sem uma regulamentação ambiental atualizada.


Segundo o vereador Breno Garibalde (União Brasil), a revisão do Plano Diretor é a principal medida que deve ser realizada pelo governo para criação, aumento e manutenção dessas áreas de Interesse público e ambiental, como os corredores ecológicos.

Vereador Breno Garibalde ressalta a importância do Plano Diretor e a necessidade de mantê-lo atualizado


O espaço verde e qualidade de vida


Apesar dos conflitos, da falta do Plano Diretor e de planejamentos mais efetivos visando o desenvolvimento sustentável de Aracaju, a cidade possui parques que além de embelezar a cidade, contribuem com a população como espaços de lazer e de preservação ecológica. Frequentar esses espaços é não só um ato de autocuidado, como também uma forma de reivindicar um uso social e reafirmar a importância da preservação ambiental na cidade.


Parque Augusto Franco (Sementeira)

Entrada do Parque da Sementeira. Crédito: Letícia Oliveira

Popularmente conhecido como parque da sementeira é uma ótima alternativa de lazer em família e está localizado na Av. Jornalista Santos Santana, no conjunto Jardins em Aracaju. O parque tem uma área de 396.019 m² no total. Ao chegar no parque, turistas e aracajuanos podem encontrar diversas formas de lazer, quadras poliesportivas, campo de futebol, quiosques e uma boa iluminação para aqueles que pretendem passear e admirar a fauna e flora presentes no parque da sementeira.


Atualmente, o parque está em processo de revitalização, graças a uma parceria entre a Prefeitura Municipal e a Emurb. O projeto é financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e inclui não só a arborização e revitalização da parte externa, essas já realizadas, mas também a reforma da parte interna, a fim de ampliar a área arborizada, incluindo espaços para a prática esportiva e para shows.


Parque Poxim

Área interna do Parque Poxim. Crédito: Lucas Lima


O Parque Ecológico Poxim foi inaugurado com atraso no ano de 2020, devido à pandemia de covid-19. Construído em parceria com a Energisa, o parque se localiza em uma região de preservação de mangue, no bairro Inácio Barbosa. Segundo a Emurb, o local foi construído com materiais sustentáveis, com o intuito de proporcionar uma experiência mais próxima com a natureza. No local há quiosques, brinquedos e um píer no que o turista pode contemplar o rio Poxim.


Parque dos Cajueiros

Estrutura interna do Parque dos Cajueiros. Crédito: Lucas Lima

Nomeado como Parque Governador Antônio Carlos Valadares, é um local que conta com várias atrações de lazer, ciclovia, quadras poliesportivas e quiosques. Ele está localizado na Zona Sul de Aracaju, na avenida Beira Mar. O local é utilizado pelos visitantes para lazer e especialmente para caminhadas.


O coletivo Camaleão, fundado pela arquiteta Dauane Santana, possui o projeto Reviva o Parque com o intuito de plantar mudas de árvores pela cidade. Com parceria firmada com a Universidade Federal de Sergipe, o projeto busca dialogar com a sociedade a fim de conscientizar sobre a importância da cobertura verde e engajar para o plantio de árvores.


‘‘O pessoal que participou, engajou bastante. E com essa cooperação com a UFS, o projeto tem a possibilidade de ampliar sua atividade. O primeiro lugar de atuação foi no Parque dos Cajueiros, pois a gente já estava realizando uma pesquisa participativa com a administração do parque para uma intervenção. Agora, para na próxima edição do projeto, temos intenção de atuar na zona norte’’, destaca Dauane.


Parque da Cidade


O Parque Governador Rollemberg Leite, ou Parque da Cidade, está localizado na Rua Fortaleza, e se estende entre os bairros Industrial e Porto Dantas, Zona Norte de Aracaju. O parque se tornou um ponto turístico por conta da vasta reserva ambiental e de um teleférico que proporciona uma paisagem de toda vegetação ao seu redor. O horário de funcionamento é de terça a domingo das 6h00 às 18h00. O parque se trata de um dos resquícios da vegetação de Mata Atlântica preservada na cidade




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