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Território sagrado: Karine Xokó fala sobre meio ambiente, lutas e direitos dos povos originários

Karine reafirma a importância da defesa dos territórios indígenas na preservação da fauna e flora brasileiras.


Por Gabriela Rosa, Jhennifer Laruska e Thyago Soares



(Foto: Arquivo pessoal)

O Brasil é originalmente uma terra indígena, mas há muito o que questionar acerca do cumprimento dos deveres que competem à União sobre a proteção e o respeito dos direitos originários, como expresso no capítulo VIII da Constituição Federal. Na Carta Magna, estão garantidos o reconhecimento da organização social, dos costumes, línguas, crenças e tradições dos povos indígenas.


O que se vê na prática, no entanto, é a fragilização desse reconhecimento e da sua proteção em decorrência das vulnerabilidades às quais esses povos têm sido expostos no decorrer da história, tanto pela violação dos direitos humanos, quanto pela violação do “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” que diz respeito a todos os cidadãos e implica diretamente na tomada de ação e consciência das práticas individuais e coletivas para se fazer valer. É certo que povos e comunidades tradicionais são parte importante na manutenção ambiental do território brasileiro, pelo simples comprometimento com aquilo que lhes garante a vida e o respeito pelo que consideram sagrado, a terra.


É a partir da relevância das lutas, das pautas indígenas, das articulações entres os povos e o respeito ao meio ambiente que o CONTEXTO entrevistou Karine Xokó, indígena nascida na cidade de Aracaju, mãe, integrante da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e comunicadora Articulação dos Povos e Organizações Indígenas (APOINME) do NE, MG e ES.


[Contexto]: Atualmente, você faz parte da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), tendo também já ocupado a presidência da Associação Indígena de Mulheres Xokó. Como você definiria sua experiência participando dessas organizações que têm na sua pauta central as mulheres indígenas?


[Karine Xokó]: Participar dessas rodas de conversa com as mulheres Indígenas, sempre acaba nos fortalecendo, pois são mulheres sábias e o seu modo de vida é peculiar, sempre compartilhamos experiência de vida e também procuramos dar voz e autonomia às mulheres.


Você também tem atuado enquanto comunicadora da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas (APOINME) do NE, MG e ES. Como se dá o papel realizado por você? Você se vê de certa forma como uma mediadora? Como são transmitidas as demandas dentro das comunidades indígenas para aqueles que não integram essas comunidades?


Sim! Porque através da Comunicação eu consegui passar mais informações para minha comunidade a respeito do que está acontecendo dentro do movimento Indígena. E temos ajudado outros nas divulgações das suas lutas diárias. Sempre informando as pessoas, sejam fatos positivos ou negativos, mas que vêm para ajudar as comunidades Indígenas da área de abrangência da APOINME.


Nesse intermédio, os interesses indígenas costumam ser ouvidos e ganhar espaço dentro da imprensa e meios de comunicação? Quais as consequências disso?


Quando um fato é divulgado nas nossas redes, ele acaba tomando uma proporção muito grande e chegando ao conhecimento de várias pessoas que acabam apoiando a nossa causa.


Você acompanha os fatos que acontecem nas comunidades indígenas abrangidas pela APOINME, certo? Quais os principais acontecimentos e demandas observadas no contexto atual?


Os principais acontecimentos sempre estão ligados às questões territoriais. [Por exemplo], quando as terras são invadidas por posseiros que na maioria das vezes acabam usando de muita violência e muitos parentes chegam até a serem mortos nesses conflitos.


É comum as comunidades de povos indígenas e tradicionais serem apontadas como comunidades que têm uma relação forte com o meio ambiente, entretanto, muitas vezes esse discurso permanece somente enquanto algo romantizado e generalizado. Qual a sua perspectiva sobre isso? Qual a realidade dessa relação para você, como mulher indígena?


É difícil de falar em meio ambiente e não falar dos povos originários dessa terra, pois fazemos parte desse solo. Preservar a mãe e terra tem sido uma grande missão para nós povos Indígenas, pois não preservamos apenas a fauna e a flora, preservamos os nossos costumes. A natureza é sagrada, todo o saber que os nossos antepassados nos deixaram está ligado com a natureza.


Por outro lado, o meio ambiente e as terras indígenas vêm sofrendo cada vez mais ataques, como pudemos acompanhar nos últimos dois meses com as tentativas de votação do PL 490, sobre a tese do marco temporal. Sendo indígena, comunicadora e participante da ANMIGA, de que forma essa luta tem sido encarada por você? O que está em jogo para o povo Xokó?


A tese do marco temporal e a PL 490, são pautas que sempre estão em discussão entre nós, pois é o nosso futuro que está em jogo. O marco temporal é um limite no tempo que quer limitar os direitos dos povos Indígenas, dizendo que só poderão permanecer nas terras aqueles povos que ocupavam as suas terras de origem no dia 05 de Outubro de 1988. Isso é um absurdo quando vários povos Indígenas foram expulsos de seus territórios para tentar sobreviver, onde muitos morreram para tentar permanecer em seus territórios.


Falando especificamente de Sergipe, enquanto indígena pertencente ao povo Xokó, quais as principais problemáticas que você percebe com relação ao meio ambiente e que afetam a vivência dentro do seu território?


Os Xokó, o marco temporal não irá nos atingir de certa forma, pois o nosso território foi demarcado em 1979. A PL 490 ela quer acabar de vez com as demarcações das terras Indígenas. Isso irá impactar o modo de vida dos povos Indígenas, pois os indígenas precisam do seu território para manter viva a sua cultura. Eles queriam acabar com as populações Indígenas.


Existe alguma assistência do Estado em relação às comunidades indígenas de Sergipe? Sejam políticas públicas, auxílios… De que forma o governo estadual tem agido com os povos originários?


Sim! Existe uma parceria com o estado através da desembargadora Lívia Tinoco, que sempre vem ajudando o nosso povo e parceria do Estado e o Colégio Indígena. A Própria vice-Governadora Eliane Aquino também tem nos ajudado.


Na sua posição e a partir da sua vivência, que o poder público de Sergipe e a população podem e devem fazer para defender a existência indígena e apoiar sua luta? Essa defesa e esse apoio também são uma forma de compreender a importância dos povos indígenas na preservação ambiental e manutenção das dinâmicas das vidas originárias?


Conhecer um pouco mais da nossa história, pois tem pessoas que nem sabem que dentro do nosso estado tem uma comunidade Indígena e que até o nome do nosso estado tem influência dos povos Indígenas daqui.


Tendo em vista que a preservação do meio ambiente é uma responsabilidade coletiva, quais ações você acredita que precisam ser tomadas para que isso se torne uma realidade e uma luta de todos?


A luta dos povos Indígenas pela preservação do meio ambiente, também é uma forma de conscientizar a população brasileira que essa luta também é de todos, que os impactos com os desmatamentos será sentido por todos com o aquecimento global. A falta de água é consequência dos rios poluídos, e a população brasileira também pode ajudar na preservação do meio ambiente com atitudes bem simples. Jogando o lixo no lixo por exemplo, evitando queimadas, pois todo mundo pode contribuir para um futuro melhor.



Agnaldo Rezende - entrevistaJoyce e Katiane
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