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Quem é você na fila da alface?

As implicações nutricionais e o custo de uma alimentação vegetariana


Fonte: Unsplash

Saúde, meio ambiente e respeito a vida dos animais. Essas são as três principais razões que motivam os adeptos da alimentação vegetariana. E o número de militantes e simpatizantes desta causa tem aumentado cada dia mais. Em 2018, de acordo com uma pesquisa da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) encomendada ao Ibope, cerca de 14% da população brasileira se declarou vegetariana, o que corresponde a cerca de 30 milhões de pessoas.


Talvez, o dado mais relevante é que o número de vegetarianos tem crescido. Em 2012, era apenas 8% da população. Como no ano passado chegou a 14%, temos um aumento de 75% nos últimos seis anos. E esses números poderiam ser muito maiores. A pesquisa mostra, ainda, que 60% dos entrevistados comprariam mais produtos veganos se os preços fossem iguais ao dos produtos que estão acostumados a consumir.


Apesar do crescimento do consumo de produtos vegetarianos e veganos, o Brasil continua sendo o segundo maior consumidor de carne bovina do mundo. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a expansão da agropecuária aumenta a ameaça à biodiversidade, ao acesso sustentável à água, além de elevar os gases do efeito estufa. Para reduzir esses impactos, o órgão mundial estimula a diminuição no consumo de alimentos de origem animal.


Dados de 2017, revelados pela SVB, apontaram que 63% dos brasileiros querem reduzir o consumo de carne. A pesquisa também descobriu que 73% dos brasileiros se sentem mal informados sobre como a carne é produzida, e 35% tem preocupação de saúde quanto ao seu consumo de carne. Embora faça parte da cultura alimentar brasileira, viver sem consumir carne é possível e cientificamente seguro.


Cadê as proteínas?

Uma das maiores preocupações na hora de retirar a carne do prato é como suprir seu valor alimentar. Segundo a nutricionista Angie Marques, especializada em alimentação vegetariana, é indicado que a transição seja conduzida por um profissional. Ele deve acompanhar os cálculos nutricionais a partir de exames bioquímicos e mostrar o que deve ser incluído no novo cardápio de acordo com as necessidades do paciente.


Ilustração: Paulo Marques

O vegetarianismo pode ser classificado como uma dieta, pois se configura como um conjunto de alimentos que constituem um hábito alimentar ou um modo de vida. Todavia, não tem ligação com um regime restritivo com intenção de perda ou ganho de peso, no sentido que comumente é atribuído a essa palavra.


De acordo com a nutricionista, uma alimentação vegetariana deve conter o grupo das leguminosas como feijões, lentilha, ervilha e grão de bico, pois esse é o principal grupo alimentar que substitui a carne. Além de cereais como arroz, trigo e aveia, sementes e oleaginosas como castanhas e gergelim, e frutas, verduras, legumes e folhas em geral.


Ilustração: Paulo Marques

Quanto custa ver vegetariano?

O preço é um fator decisivo na hora de fazer qualquer escolha e com a alimentação não seria diferente. Por isso, a questão econômica entra em pauta e muitas vezes vira empecilho para quem quer tentar uma alimentação mais saudável. Um dos argumentos mais utilizados pelos carnistas é que “ ser vegetariano é caro”. Será?


A estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Sergipe, Mariel Pinheiro, 26, é vegetariana há quase dois anos. Ela conta que, com essa mudança na alimentação, passou a ter o hábito de ir à feira. “Comecei a frequentar mais a feira de rua do que de mercado [...] na minha casa nunca falta feijão, amendoim, banana, arroz e salada de folhas”, afirma a estudante. Ela e seu companheiro, também vegetariano, gastam em média R$ 80,00 por semana, sendo R$ 50,00 na feira e R$ 30,00 com itens de supermercado.


Angie Marques diz que a alimentação sem carne tem como base os vegetais, cereais e frutas e, dessa forma, há de ser barato. “O processo de industrialização é que vem colocando, no mercado, produtos vegetarianos e, assim, torna o cardápio mais caro”, explica a nutricionista.


Assim como qualquer outro modelo de alimentação, a vegetariana também possui opções de itens caros a disposição no mercado. Produtos como cogumelos e carnes vegetais possuem valor mais alto, mas são alimentos dispensáveis. “Os industrializados costumam ser mais caros porque como a demanda é menor e não tem tanta concorrência, eles colocam os preços lá em cima”, explica Luiza Allan, 22, social media e consultora vegana idealizadora do Não Como Só Alface.


A estudante Isadora Torres, 20, que é vegetariana há dois anos e vegana há seis meses, conta que compra seus alimentos em feiras de rua, supermercados e lojas de produtos naturais. Ela gasta, em média R$ 200,00 por mês. Independente da refeição, o que nunca falta no seu prato são grãos: de bico, feijão preto, feijão fradinho, ervilha e lentilha. “É uma boa fonte de proteínas e também é muito versátil, dá para fazer de várias formas, como hambúrguer, purê, pastinhas, incluir em saladas frias e comer cozido”, afirma Isadora.


No mercado

Em companhia do estudante de Direito, Tarcísio Freitas, 22, que fez a transição alimentar há pouco mais de três meses, conferimos quanto custa ser vegetariano em Aracaju. Os valores abaixo são de um hipermercado da capital, onde encontramos grãos em variedade e a granel, e as quantidades são referentes ao consumo mensal.


Ilustração: Paulo Marques

Na feira, as compras são feitas semanalmente e o gasto é em média R$ 25,00, em frutas como banana, mamão, melão e laranja; verduras e legumes como batata, cenoura, abóbora, cebola, tomate, abobrinha; e folhas de alface, rúcula, espinafre, couve, coentro e cebolinha. Apesar do pouco tempo, o estudante conta que já sentiu duas grandes mudanças: na saúde e no bolso. “A minha feira ficou muito mais barata, eu passo o mês tranquilo com R$ 200,00 ”, conta Tarcísio.


A gourmetização do vegetarianismo

Comida vegetariana não é cara, o quanto se paga vai depender de muitos fatores. O problema é a gourmetização, que é a venda de versões refinadas de um produto tradicional, por um preço muito mais alto. Para Valter Palmieri Júnior, pesquisador em economia da Unicamp, a prática da gourmetização é uma forma simbólica de marcar diferenças sociais. É um produto mais sofisticado e somente quem tem um gosto mais refinado consegue apreciar. A partir dessa ótica entende-se que o encarecimento do vegetarianismo se dá pela visão de que esse estilo de vida só é possível para uma elite.


A autonomia na cozinha e a paz no prato

Para a digital influenciar vegana Luiza Allan, é importante saber preparar sua própria comida para garantir, além da autonomia, um maior conhecimento dos grupos alimentares. “Quando você não depende de ninguém fica mais fácil as pessoas não ficarem reclamando da sua alimentação, porque elas não vão precisar fazer para você, fora que você passa a ter um contato muito maior com a comida que você come”, afirma.


Dicas para comer bem e comer barato

  • Sazonalidade: fique atento aos alimentos de cada estação, quando é época de produção ele tende a ficar mais barato e com menor índice de agrotóxico

  • Faça uma horta em casa: tenha em casa alguns vasinhos de temperos como manjericão, salsinha, cebolinha

  • Aproveite todo o alimento: use as cascas, talos e folhas em seus preparos

  • Dê preferência aos orgânicos: eles custam mais, porém são livres de agrotóxicos, são mais saborosos, e garantem o sustento de pequenos produtores


 

Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado I - 2019.1

Repórter - Beatrize Oliveira

Orientação - Professores: Josenildo Guerra, Cristian Góis e Eduardo Leite


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