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Nomofobia: medo, dependência digital e exclusão social

Atualizado: 21 de jan. de 2020

A doença atinge milhares de pessoas tornando-as dependentes do aparelho celular

O receio de ficar incomunicável acaba aprisionando a sociedade na teia da tecnologia, gerando a dependência digital dessas pessoas e, consequentemente, a Nomofobia (foto: Pedro Nascimento)

Grande parte da sociedade contemporânea vive num mundo altamente tecnológico. Mas toda essa modernidade às vezes custa um preço alto à saúde. O uso excessivo do celular, por exemplo, pode causar sérios problemas, um deles é a Nomofobia. Esse termo surgiu a partir da expressão "no mobile" - que significa "sem celular" - unida a "fobia" - que significa medo. Ou seja, é um transtorno causado pelo uso desenfreado do celular, onde a vítima não consegue se ver sem o aparelho.


De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada no quarto trimestre de 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o celular está presente em 93,2% dos domicílios, o telefone fixo caiu de 33,6% para 31,5% e as TVs estão presentes em 96,7% dos domicílios. Dados que revelam o crescimento do uso de aparelhos móveis.


A psicóloga Izabela Bezerra trabalha há 13 anos se dedicando a atender pacientes com diversos transtornos, inclusive com Nomofobia. Ela destaca que as pessoas que convivem com o vício, necessitam estar conectadas ao telefone o tempo todo. Não se imaginam ficar sem conexão de internet, bateria ou o smartphone. “Hoje a gente tem pesquisa tratando que o maior número de viciados são jovens e adultos na faixa etária dos 18 a 24 anos de idade, onde 77% desse número não consegue realmente se ver, se apartar do celular. Logo em seguida, a segunda faixa etária é um grupo etário dos 25 aos 34 anos. A última pesquisa mostrou que o número de homens nesse processo de Nomofobia está por volta de 58% e o de mulheres 47%”, enfatiza.

Izabela já atendeu diversos casos interligados a Nomofobia (foto: arquivo pessoal)

Izabela ressalta que esse uso desmoderado do aparelho é prejudicial para a saúde mental das pessoas e está ligado aos avanços tecnológicos em que fomos inseridos ao longo dos anos. Ainda segundo ela, para o usuário é mais difícil identificar o vício em utilizar o celular e que quem nota melhor são as pessoas ao redor. “Geralmente o parceiro percebe porque é um companheiro que perde muito o tempo dessa relação tão próxima, tão olho no olho, tão mão na mão. ‘Mas eu estou lhe dando atenção’, mas eu não posso deixar de responder minha mensagem do trabalho, o e-mail ficou de chegar e eu preciso dar conta. Eu vou ao banheiro e aproveito o momento para esse fim; Acordou, mas antes de levantar, de fazer uma meditação, de pensar sobre o seu dia, automaticamente a pessoa já lança a mão no seu telefone, e aí vai. Há uma negação muito grande. Uma resistência de aceitar.”


Na maioria das vezes, a pessoa que sofre com o transtorno acaba sendo afetada no comportamento, se tornando impaciente e até mesmo agressiva. “A gente ver uma irritabilidade, uma agressividade, uma intolerância e uma impaciência, isso quando não gera atos mais graves, [chegando] ao extremo de violência, de irritabilidade muito grande, onde na maioria das vezes eles buscam suprir isso muito rápido.”


O uso da psicoterapia


Para cada pessoa haverá uma forma específica de tratamento, um deles é a psicoterapia, utilizada por Izabela com seus pacientes. Ela explica que através deste método busca trabalhar as questões emocionais que estão atreladas ao uso do aparelho, bem como fazer com que a pessoa se questione. “ Porque preciso ficar conectado por tanto tempo? Por que tenho medo de ficar sozinho, de estar desatualizado e de ficar para trás? É a partir destes questionamentos que a gente vai trabalhar o autoconhecimento e a autoestima no que gere ansiedade e esses medos” ressalta.


Outro ponto colocado pela psicóloga é que o maior desafio deste método é fazer com que a pessoa perceba o vício e que está dependente, e com isso ela aprenda a utilizar o celular de forma saudável e equilibrada. Ela destaca também que a dependência pode levar não só a problemas psicológicos, mas à acidentes e até atrapalhar nas relações interpessoais. “A pessoa quando se conecta ela perde a noção de tempo e na maioria das vezes o sinal de trânsito abre e se mantém conectadas. Precisa de uma buzina ou de uma chamada de atenção por parte de alguém que esteja no carro com ela, quando não ocorre os acidentes. Aí a fatalidade é ainda maior”, alerta.


As crianças e o controle dos pais


Nessa nova era, todo o cuidado com as crianças é pouco diante de toda essa evolução tecnológica. Muitas já crescem tendo acesso fácil ao mundo tecnológico e a tudo o que ele oferece. É aí que os pais precisam ficar atentos, fazer o controle necessário do uso de aparelhos celulares e servirem de exemplos positivos para os filhos. “Não adianta eu dizer ‘guarda enquanto faz o dever, guarda quando você está se alimentando’ se eu, papai e mamãe, vou pra mesa da janta com esse telefone na mão. Então assim é preciso que os adultos se atente ao uso do telefone.”


Izabela salienta que todo esse uso constante do aparelho móvel pode prejudicar bastante no comportamento e aprendizado desse público. Pensando nisso, ela dá algumas dicas de suma importância e que podem ser aplicadas na rotina, tanto dos pequenos como também dos jovens, adultos e idosos: “10 minutos ou 20 minutos antes de se dirigir ao seu leito já desligue o telefone ou deixe distante; desligue a sua conexão do aparelho [com internet]; evite usar o celular nas suas rodas de amigos, na roda de conversa; e trânsito e sala de aula não combinam com telefone”.

"Todas as pessoas que convivem comigo são literalmente viciadas em celular"


Felipe compartilha sua rotina diariamente através das redes sociais (foto: arquivo pessoal)

O aracajuano Felipe Douglas da Conceição Oliveira tem 24 anos. É digital Influencer há um e diariamente utiliza o aparelho de celular para se comunicar com seus seguidores. Nas redes sociais ele dá dicas de beleza para homens, fala sobre diversos assuntos envolvendo desenvolvimento pessoal e compartilha momentos do seu dia-a-dia. Um total de quatro horas de sua rotina, inteiramente dedicadas aos internautas. "Minha relação é algo muito íntimo. É como se fosse meu próprio filho. Como trabalho como digital influencer, eu utilizo muito para meu trabalho e hoje não consigo viver sem o celular. Não tem condições.”

Mas ele sabe bem o poder desse uso desregrado do aparelho e a importância de controlar o acesso. Ele revela que antes ele levava o celular para onde fosse e compartilhava tudo o que acontecia nos locais em que frequentava, mas hoje ele consegue controlar melhor. “Eu costumo deixar minha vida pessoal em geral bem reservada. Muitas vezes vou para o shopping com amigos e deixo meu celular, já para poder evitar o uso excessivo. Vou para a academia pela manhã e não levo. Quando chego de lá eu não ligo. Só ligo a partir de 11h30, 12h, pra poder usar ele. Mas na maioria das vezes quando saiu eu deixo meu celular desligado em casa. Já pra poder evitar usar tanto", disse.


Mas nem sempre esse controle foi presente na vida do jovem influenciador. Ele revela que já chegou num estágio onde o vício estava grande, mas que ele conseguiu perceber a tempo, pois seu corpo reagiu aos efeitos desse uso exagerado do telefone. "Meu corpo ele demonstra através de dores. Eu vou pra academia e treino todos os dias, mas sinto dores na coluna. E se eu passar muito tempo digitando no celular eu fico com a mão e braço dolorido. Quando começo a sentir as dores eu já sei que passei um tempinho utilizando o celular".


Felipe conta que um simples passeio com os amigos sempre era interrompido pelo uso do aparelho móvel. Todos ficavam atentos ao objeto e isso não estava sendo saudável. Um dos fatores que, segundo ele, acaba afetando aquele contato mais próximo das pessoas hoje em dia. É cada um no seu celular e aquele olho-no-olho se perde. "Todas as pessoas que convivem comigo são literalmente viciadas em celular. Inclusive, quando a gente sai eu guardo meu celular e também pego o deles, porque senão a gente não tem condições de sair porque fica todo mundo no seu celular e ninguém interage com ninguém".


Com os avanços tecnológicos, a criançada agora vive conectada ao mundo digital, realidade diferente da infância de Felipe e que hoje ele sente falta de ver na vida dos pequeninos. "Quando eu tive um celular eu já tinha 12 anos, então minha família nunca controlou [o acesso] porque eu já era adolescente, até porque na época eu usava o celular mais para ligações e mensagens com amigos. Hoje em dia é mais comum em relação a crianças e jovens, acredito, porque eles já cresceram com a internet, com o celular, então por eles já terem crescido nesse mundo - que foi o mundo que eu não cresci, pois eu tive minha infância na rua. Todos os dias eu corria, pulava, brincava. Quando eu tive celular eu já tinha aproveitado muito a infância e hoje em dia é mais difícil", lembra Felipe.


 

Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado II - 2019.2

Repórteres - Anneli Rodrigues e Pedro Nascimento

Orientação - Professores: Cristian Góes, Talita Déda e Vitor Belém

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