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Sergipe é destaque na produção de milho, mas monocultura e uso de sementes transgênicas preocupam

Atualizado: 28 de mar. de 2019



Milho crioulo, uma variedade que é passada de geração em geração.
Milho crioulo, uma variedade que é passada de geração em geração (Foto: Ana Clara Abreu)

Na safra 2017/2018, Sergipe registrou a maior produção de milho do Nordeste, superando o Ceará, Piauí e Maranhão, até então os maiores produtores. Mas, o bom resultado foi decorrente do uso, em sua maior parte, de semente tecnicamente modificada, que tem configurado uma situação de monocultura nas lavouras da região. Preocupado com a situação, o governo do estado desenvolveu estratégias para diversificar o tipo de milho, como a distribuição de sementes de milho crioulo.


Cerca de 70% da produção de milho no estado é de semente tecnicamente modificada. De acordo com o assessor da presidência da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), Jodemir Freitas, a variedade de milho transgênico é plantada em Sergipe por apresentar vantagens, como resistências a insetos, a inserção de proteínas que proporciona maior resistência física das folhas do vegetal, além da resistência a herbicida.


A especialista em sementes, Renata Mann, explica que uma semente transgênica é uma semente engenheirada, que “recebeu uma parte de um genoma distinto do dela para expressar uma característica, como a resistência a inseto”. Essa semente “ingere um gene responsável por uma proteína, que é tóxica para o inseto, por isso quando o inseto for causar dano na planta, morrerá”.


Igor Nascimento, produtor de milho transgênico no município de Simão Dias, explica que a elevada produtividade e a resistência às pragas e doenças foram os principais motivos que o levaram a optar pela semente transgênica. Segundo ele, além desses benefícios, as sementes tecnicamente modificadas também possuem “plantas vigorosas, estande de plantio uniforme e são excelentes em respostas às adubações”.


Graças a esses benefícios que, desde 2009 o número de propriedades produtoras desse tipo milho vem aumentando. As cidades que detém as maiores produções de milho no estado, como Carira, Simão Dias, Poço Verde e Frei Paulo, utilizam essa semente de milho transgênico. Desde o período da implantação da transgenia no estado, os produtores do Oeste sergipano começaram a plantar e, atualmente, essa tem sido a única cultura presente na região, ocasionando uma monocultura, que é quando ocorre a produção agrícola de apenas um único tipo de produto.


 

Monocultura


A produção agrícola tem se concentrado em monoculturas com o objetivo de obter aumento na produtividade. No entanto, as consequências ambientais e sociais desse modelo têm sido criticadas por provocar destruição da biodiversidade e esgotamento dos solos.


Segundo Jodemir Freitas, o problema da monocultura aqui no estado é que não há uma rotação entre as culturas. O ideal seria plantar milho e depois feijão. Assim, favoreceria a quebra no ciclo das pragas e a diversificação de nutrientes no ambiente. Além da monocultura, há também outro fator importante a ser ressaltado, a utilização constante das sementes tecnicamente modificadas, que pode causar impactos no meio solo, diminuindo os impactos que seriam provocados pela monocultura sucessiva.


Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a inserção de uma variedade transgênica em uma comunidade de plantas pode proporcionar vários efeitos indesejáveis, como a alteração na dinâmica populacional, a exposição de espécies a novos patógenos ou agentes tóxicos, a geração de super plantas daninhas ou super pragas, a poluição genética, a erosão da diversidade genética e a interrupção da reciclagem de nutrientes e energia, entre outros.


A especialista Renata Mann explica que para utilizar qualquer tecnologia é preciso atender a alguns protocolos que estão sendo desconsiderados pelos produtores da região. De acordo com ela, o protocolo para plantar o milho transgênico é “ associar o plantio a áreas ou faixas que tenham um milho não transgênico, para que os insetos não coo evoluam com aquela nova tecnologia e se tornem uma super praga”. Quando se utiliza o transgênico em uma única área, os insetos vão evoluir com a tecnologia e ficar cada vez mais fortes.


 

Semente de Variedades


Preocupados com a monocultura e com os impactos que poderão ser causados pela grande e constante utilização das sementes transgênicas, a Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural (Seagri) em parceria com a Emdagro, há cerca de três anos, tem distribuído sementes de variedade crioulas entre os agricultores familiares, as comunidades quilombolas e os assentamentos. Segundo o assessor da presidência da Emdagro, “essa distribuição tem como objetivo ajudar o pequeno produtor a ter uma opção de preservação de suas sementes, além de estimular a criação dos bancos de semente”.


Ainda segundo o assessor, o programa de compra de sementes existe desde 1991, mas era destinado somente para a compra de variedades. A partir de 2016 foi implantada também a compra das sementes crioulas. De acordo com ele, no ano passado o governo comprou 45 toneladas só de milho crioulo, que foi distribuídas entre cerca de três mil famílias.


As sementes crioulas são variedades desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas ou indígenas. De acordo o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead), estas sementes, passadas de geração em geração, são preservadas pelos bancos de sementes ou pelos guardiões de sementes espalhados por todo o Brasil.


Adnilson Costa, agricultor e guardião de sementes de variedades crioula há mais de 7 anos (Foto: Ana Clara Abreu)

São considerados guardiões de sementes agricultores que por gerações plantam, armazenam e trocam sementes. Desde 2012, Adnilson Costa, morador da cidade de Salgado, guarda sementes de milho crioulo. Atualmente, ele possui variedade de capuco roxo, cunha, catete, milho branco, entre outros. Em 2014, ele recebeu o título de guardião de sementes crioulas, concedido pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Adnilson diz que para ser um guardião é preciso ter amor e prazer em guardar o grão “A gente fica só esperando chover para plantar, ver aquela semente brotar na terra, emociona ”, ressalta, entusiasmado.


A especialista Renata Mann defende que essa deveria ser a variedade plantada por todos os agricultores do estado de Sergipe. Segundo ela, é possível chegar ao resultado de um plantio de milho muito bom, sem precisar ser geneticamente modificado, como o caso do crioulo.


Esse também é um aspecto observado pelo produtor Rosivaldo dos Santos, que produz milho há mais de 10 anos. Ele conta que sempre utilizou a variedade de milho híbrido, sementes que foram obtidas através de polinização induzida. Mas, há cerca de cinco anos, preocupado com o meio ambiente e com a saúde humana, devido ao uso constante de herbicida, começou a plantar a variedade crioula. “A diferença entre os dois milhos é que o milho crioulo é mais resistente a pragas, porque ele é plantado em consórcio, ou seja, plantado junto com várias culturas juntas”.


 

Risco de contaminação


Apesar da indicação do uso das sementes crioulas, Renata Mann ressalta uma preocupação, o risco de o milho crioulo estar contaminado com o pólen do milho transgênico. Isso ocorre porque em Sergipe, o que separa uma propriedade da outra é a cerca. Então se o produtor planta transgênico e o seu vizinho, outra variedade, a exemplo da crioula, como o milho tem polinização aberta, a plantação vizinha pode ser contaminada.


Há cerca de dois anos, Renata desenvolve uma pesquisa com o milho crioulo, buscando além da uniformidade do milho, testar se o milho crioulo presente em algumas regiões do estado está contaminado com o pólen do milho transgênico. “O crioulo se estiver contaminado com o transgênico, não é mais crioulo, essa é a minha maior preocupação, por isso desenvolvi essa linha de pesquisa”.


Ainda segundo a especialista para que não ocorra essa polinização, a sugestão é que o produtor plante em uma época diferente de quem está produzindo o transgênico e, caso seja possível, manter uma distância de 400 metros ou até mais da produção de transgênicos.


 

Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado II - 2019.1

Repórter: Ana Clara Abreu

Orientação: Prof. Josenildo Guerra

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