Apresentações natalinas buscam resgatar o passado com programação que se estende a Praça Camerino até este sábado
Este ano foi a primeira vez que o Natal abriu a porta do Museu da Gente Sergipana e se expandiu para a Praça Camerino. Um parque para o público, com direito a roda gigante, além de uma feirinha de artesanato para despertar as lembranças das antigas comemorações natalinas, marcaram presença no evento.
Para unir o tradicional e o contemporâneo, grupos da cultura popular do estado, assim como bandas do momento, têm espaço nos palcos do Natal da Gente, fomentando a identidade cultural sergipana. Luzes, presépio e estrelas indicavam que a celebração de uma das comemorações mais importantes tinha chegado em Aracaju. A programação que acontece até o dia 21 de dezembro procura resgatar os típicos natais que aconteciam nas praças públicas e que marcaram a vida de várias gerações de sergipanos.
“Nos natais de outrora as pessoas comemoravam nas praças, reuniam as famílias, os amigos pra comemorar com feiras, parques de diversão, então, a temática deste ano é essa. O Natal [da Gente] é um ambiente que reúne as pessoas para confraternizar” conta a assessora de comunicação do Instituto Banese, Tarcila Olanda.
Movido pelas memórias, o professor de história, Cláudio, de 45 anos, parafraseou Mário Quintana, e ressaltou que “a riqueza de uma nação é o povo e a cultura”, por isso a importância de resgatar as antigas festas dos natais da cidade para a cultura sergipana.
E foi juntando a cultura nordestina com o Natal, que o presépio em tamanho natural, do artista Toscano, feito de fibra de coqueiro extraído em Sergipe, tecidos de couro e adereços, é a atração especial do Museu da Gente Sergipana, que está instalado na fachada principal do prédio. Nos dias da programação o museu vai funcionar em horário diferente, das 16h às 22h. A programação é gratuita e aberta à todos.
Lembranças
A chuva quase tomou conta da tarde do último sábado (14) na Praça Camerino, no centro de Aracaju. Mas o que chamou mesmo a atenção foi o cheiro da pipoca que reinou enquanto crianças, jovens e idosos esperavam - jogando conversa fora - a abertura do Natal da Gente Sergipana com o Espetáculo Pastoril de Cheiroso, do grupo Mamulengo de Cheiroso.
O som do triângulo ecoou juntamente com a zabumba e o pandeiro. Era o sinal de que o grupo já estava preste a dar início à sua apresentação: o auto de natal - dirigido por Gustavo Floriano.
Momentos antes, enquanto se maquiava para a apresentação, o diretor da companhia, Augusto Barreto, contou que o espetáculo foi pensado para transmitir a verdadeira cultura sergipana no palco, através dos 30 elementos cênicos, entre bonecos e adereços, produzidos pelo próprio grupo. “A gente se preocupa com quem está nos assistindo para dar o melhor”, conta.
Olhos vidrados, bocas abertas, pernas inquietas, assim estavam as crianças pequenas e as de cabelos brancos, como se quisessem fazer parte daquele espetáculo e se juntar ao pequeno Ícaro, garoto miúdo de um pouco mais de um metro de comprimento com cachos no cabelo, que fazia o papel do menino Jesus. Mas o que roubou a cena, não por estar fazendo o papel do personagem principal do Natal, mas por conta das suas frases de improviso que fez com que as gargalhadas competissem com a caixa de som que reproduzia a peça natalina.
Enquanto o grupo se apresentava era possível visualizar na primeira fileira da plateia uma mulher com um sorriso largo, brincando com a filha pequena, cantando todas as músicas e se divertindo feito criança. O nome dela é Norma de Paula, filha de Aneli Almeida, uma das fundadoras do Grupo Mamulengo de Cheiroso de Aracaju.
Aquele momento na praça, rodeada de pessoas sorrindo e comendo pipoca, fez Norma relembrar o passado, quando ela acompanhava a sua mãe nos ensaios e que agora estava com a sua pequena filha para apreciar o espetáculo. “Reviver isso é sempre bom, e hoje com minha filha… resgato a minha infância”, desabafou com os olhos cheios de lágrimas e com o sorriso cheio de afeto.
Era possível notar a semelhança, não de idade, mas de admiração, entre aqueles de cabelos brancos e dos pequenos de camisa de super-heróis e de lacinhos nos tons de rosas e vermelhos na cabeça. A diferença era que os mais experientes utilizavam o celular para gravar todo o espetáculo e poder reproduzir depois, já os pequenos mal tinham tempo de piscar.
No banco da praça
Do outro lado da praça, sentada no banco de madeira, ao lado de um senhor que parecia ter a mesma idade, estava Ana Cristina, 60 anos. Os seus cabelos castanhos claros com uma mecha na cor verde denunciava o seu espírito jovem, apesar das rugas estampadas em seu rosto. Ainda que os seus olhos estivessem baixos por conta do peso das pálpebras, Ana estava atenta à apresentação que a fez reviver os natais lindos vividos quando criança e adolescente.
Ao mesmo tempo em que as crianças assistiam o auto, algumas tomavam sorvete e, enquanto outras tentavam tirar o óleo da pipoca esfregando as mãos na roupa sem se preocupar em levar bronca dos seus pais em estar sujando a roupa, os pipoqueiros que estavam na praça não paravam de pôr milho na pipoqueira.
Não foi só a apresentação do Mamulengo que teve espaço na praça, o cheiro da pipoca também teve o seu cantinho. O som dos estrelados das pipocas e do reclame dos pipoqueiros gritando “ a melhor do estado! Essa aqui é verdadeira!” anunciava o desejo de venda.
Seu Valdomiro, pipoqueiro há 40 anos, com a sua camisa de botão de xadrez e um boné desgastado na cor cinza, ressaltou que a pipoca sempre faz a festa para as crianças, traz lembranças da velha infância e ainda faz bem para a saúde. Era assim que o cheiro não saia daquela praça.
“A nossa jornada já vai terminar”, e foi assim, repetindo esse verso de canção que o grupo se despediu deixando o ar de recordação pairar sobre todos que estavam ocupando aquela praça, criada em 1951.
A programação segue até este sábado. confira:
Dia 19 (Quinta)
18h- Coral do Banese
18h30 – Coro Univox
DIAS 20 E 21
PALCO SERIGY – MUSEU DA GENTE SERGIPANA
Dia 20 (Sexta)
18h – Orquestra Sinfônica de Sergipe
E participações especiais: Amorosa, Patrícia Polayne e Bárbara Sandes
19h – Pastoril de Forges (Japaratuba)
20h – Show Tributo à Ismar Barreto
Dia 21 (Sábado)
18h – Orquestra Jovem de Sergipe
E participações especiais: Saulo Ferreira e João Ventura
19h – Reisado São José (Japaratuba)
20h – Show ‘Clube do Rei’
21h30 – Reisado Estrelinha do Nordeste (Aracaju)
22h – Show The Baggios
Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado II - 2019.2
Repórteres - João Vitor Moura e Pedro Ramos
Orientação - Professores: Cristian Góis, Talita Déda e Vitor Belém
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