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Julho das pretas na Epiphânio Dória

Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez e Marielle Franco foram homenageadas no último domingo (14) na Biblioteca Pública Epiphânio Dória (BPED)


Roda de leitura “Versos para elas” aconteceu na Biblioteca Pública Epiphânio Dória (BPED) , quando completou um mês de reinauguração. Foto: Ayrana Lopes

A roda de leitura “Versos para elas” rememorou a história de três ativistas negras, Beatriz Nacimento, Lélia Gonzalez e Marielle Franco, que lutaram até o fim pelo empoderamento e igualdade da população negra, especialmente das mulheres. O evento aconteceu no último domingo (14) na Biblioteca Pública Epiphânio Dória (BPED), como parte das atividades do Julho das Pretas.


O mês de julho mobiliza uma agenda conjunta de movimentos de mulheres negras da região Nordeste e de alguns outros estados, em virtude do Dia Internacional da Mulher Afro-Latino Americana e Afro- Caribenha (25/07). A data foi criada a partir do dia dedicado à líder quilombola Tereza de Benguela.


“Além do ativismo, são três mulheres que moraram na periferia de grandes cidades do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo”, explica a professora Roseneide Santana, coordenadora do evento. “Todas três passaram por vida em favela, tiveram muitas dificuldades. Elas têm uma história muito forte de ativismo no sentido de dar visibilidade ao povo negro e principalmente à mulher negra”.


A roda de leitura abordou o racismo em suas mais diversas facetas, desde as antigas propagandas da indústria do cosmético que utilizavam termos como “domar cachos”, “desmaiar cabelo”, entre outros termos que negavam o cabelo crespo e cacheado, até a desigualdade salarial. Gigi Poetisa, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), disse que os negros começaram a perceber que não podiam caminhar sozinhos. “A gente precisava se unir. Muita gente diz ‘ah, mas vocês querem o apartheid’, não! Nós, negros, nunca quisemos isso, nunca lutamos por isso, em separar as raças. A gente começou a entender que precisávamos nos organizar para dizer à branquitude que nós também somos seres humanos de direito”.


Maria Beatriz Nascimento

No dia 12 de julho, Beatriz Nascimento completaria 77 anos. Nascida em Aracaju-SE, filha de dona de casa e pedreiro, migrou com a família para o Rio de Janeiro na década de 50. Aos 28 anos, Beatriz iniciou a graduação no curso de História na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sendo a única negra da turma. Desde a sua formação, passou a estudar com profundidade as temáticas relacionadas ao racismo e aos quilombos, abordando a correlação entre corporeidade negra e espaço com as experiências diaspóricas dos africanos e descendentes em terras brasileiras.


Beatriz publicou artigos em veículos de comunicação de grande relevância, como o Folhetim da Folha de S. Paulo. Ao lado de pesquisadores, como Lélia González, ela trabalhou e lutou para que a temática étnico-racial ganhasse visibilidade nas universidades e fortalecesse o discurso dos movimentos negros.


Beatriz Nascimento foi autora e narrou o documentário “ÔRI”, dirigido pela cineasta Raquel Gerber, lançado em 1989. O longa aborda a questão da identidade negra e relatos pessoais da historiadora.


No dia 28 de janeiro de 1995, Beatriz foi assassinada ao defender uma amiga de seu companheiro violento, deixando uma filha.


Lélia González

A penúltima de dezoito irmãos, nascida em Minas Gerais no ano de 1935, Lélia era filha de um ferroviário e de uma mãe indígena, doméstica, que lhe deu as primeiras lições de independência. Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro na década de 40 e graduou-se em história e filosofia. Exerceu a função de professora da rede pública, fez mestrado em Comunicação Social e doutorado em Antropologia Política e Social em São Paulo. Desde então, dedicou-se às pesquisas sobre as temáticas de gênero e etnia.


Através do candomblé, da psicanálise e da cultura afro-brasileira, assumiu sua condição de mulher e negra. Lélia se destacou nas participações no Movimento Negro Unificado (MNU), do qual foi uma das fundadoras e contribuiu para a sua repercussão nacional.

Militante incansável, ela atuou em diversas organizações, dentre elas o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e o Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga. Lélia também contribuiu nos estudos sobre o que chamava “negros da diáspora” e foi membro do Conselho Nacional do Direito da Mulher (CNDM).


Lélia foi vítima de problemas cardíacos e faleceu no dia 10 de julho de 1994.


Marielle Francisco da Silva

Conhecida como Marielle Franco, a ativista, socióloga, política, feminista e defensora dos direitos humanos, nasceu e cresceu em uma favela no Complexo da Maré, no subúrbio do Rio de Janeiro no dia 27 de julho de 1979. Elegeu-se vereadora da cidade do Rio de Janeiro, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), nas eleições de 2016 com a quinta maior votação.


Marielle era crítica da intervenção federal do Rio de Janeiro e da Polícia Militar, denunciava constantemente os abusos de poder por parte dos policiais nas comunidades carentes. Dentre suas pautas, estava a causa LGBTQ+ e as políticas de inclusão social. Em 2014, Marielle defendeu sua dissertação intitulada “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro” no mestrado de Administração Pública na Universidade Federal Fluminense (UFF).


Marielle foi executada e morta com três tiros na cabeça e um no pescoço na noite do dia 14 de março de 2018, quando saía de um debate sobre a juventude negra, organizado pelo seu partido. Até hoje, as investigações não revelaram quem a assassinou.


 

Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado I - 2019.1

Repórter - Ayrana Lopes

Orientação - Professores: Josenildo Guerra, Cristian Góis e Eduardo Leite

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