Reforma da previdência e cortes na educação foram as principais pautas dos atos
Na última sexta-feira, sindicalistas, estudantes e educadores saíram às ruas do país para se manifestar contra a reforma da previdência e em defesa da educação. Os atos foram convocados por centrais sindicais de diferentes categorias. Os repórteres do Contexto, Irllen Sousa, Bianca Machado, João Victor Vasconcelos e Romário Cidrão,foram acompanhar de perto o desenrolar da paralisação nacional na cidade de Aracaju/SE.
UFS é paralisada pela Greve Geral
A Greve Geral refletiu no expediente da UFS na última sexta-feira, 14. Cadeados, cones e estruturas metálicas impediram o acesso à instituição, que ficou fechada durante os três turnos, apesar de não ter havido manifestações no local. A mobilização se deslocou para o portão da garagem de ônibus da Viação Progresso, que reuniu os manifestantes para impedir a saída dos ônibus.
As atividades programadas para o dia na UFS foram todas interrompidas.O fórum e a agência bancária que funcionam dentro do câmpus não abriram, mas o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) operou normalmente. Os seguranças terceirizados também se mantiveram no local.
Ao contrário da manifestação do dia 30 de maio, a Associação dos Docentes da UFS (Adufs) não participou do fechamento dos portões da UFS, mas aderiu à greve contra à reforma da Previdência e o corte de 30% nas universidades públicas do país. A Adufs corria o risco de ser multada em R$ 50 mil caso voltasse a bloquear o acesso à UFS, conforme decisão da Justiça Federal, atendendo a um pedido do Ministério Público Federal (MPF).
Garagens bloqueadas
A concentração dos manifestantes ocorreu em frente a uma empresa de ônibus, próxima à instituição. À frente dela estava o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação da UFS (Sintufs).
Um funcionário da empresa de ônibus, que preferiu não ser identificado, contou como foi a chegada dos manifestantes. “Eles chegaram após 1h da manhã e se concentraram nas duas vias que ligam São Cristóvão a Aracaju. Próximo ao horário da saída dos ônibus, começou a negociação com a empresa. Observei que levavam muitos pneus, e logo os distribuíram na rodovia, alguns estavam com combustíveis. Embora a tentativa de bloquear a saída dos veículos, 40% dos ônibus foram liberados da garagem e até o momento [10h] a circulação está normal”.
O Grupamento Tático de Motos (Getam), a Polícia Militar (PM) e o Grupo de Operações Táticas do Interior (GATI) estiveram no local. “A PM articulou ainda
na noite anterior ações para minimizar um possível confronto. Os manifestantes chegaram às 2h, houve a negociação, fizeram a manifestação e por volta das 7h deixaram o local. Mesmo com o atraso na saída dos ônibus o fluxo dos veículos
na rodovia Marechal Rondon está normal, a previsão é de que assim permaneça durante todo o dia”, relatou o Capitão da PM, Alexandre Freitas.
O coordenador ceral do Sintufs, Wagner Vieira, contou ter havido truculência dos policiais com os manifestantes. “Diziam palavras pejorativas a integrantes do grupo. E enquanto em outros locais havia oito viaturas, em nosso percurso para a empresa fomos abordados por cerca de vinte. Eles dispararam balas de borracha e nos ameaçaram com bombas de gás lacrimogênio, alguns já estavam até com máscaras. Um dos comandantes bateu continência para o dono da empresa e afirmou que iria nos tirar do local”.
A decisão tomada pelo coordenador foi de retornar à UFS. Ele avalia
que a forte repressão policial no local não é comum, e que ao contrário das últimas manifestações, nesta houve abuso de poder e que o direito à liberdade de expressão – que é garantido pela Constituição - não foi assegurado. Em reunião na CUT, o Sintufs e os demais sindicatos que aderiram à Greve vão emitir uma nota requerendo do Governador do estado, Belivaldo Chagas, explicações acerca da forte truculência sentida pelos manifestantes das forças policiais.
Aracaju não parou
Greve geral, 14 de junho, Aracaju não parou. O movimento nacional contra a reforma da previdência e os cortes da educação propôs parar os setores públicos e privados. Em Sergipe, o apoio dos sindicatos foi expressivo, mas a adesão dos trabalhadores à greve, não. Órgãos de serviços públicos não essenciais, pararam. O transporte e o comércio, não. Apesar disso, a manifestação reuniu milhares de pessoas, em passeata que partiu do centro até 13 de Julho.
As lojas do centro da capital abriram normalmente e continuaram abertas durante o ato, mesmo com a decisão coletiva do Sindicato dos Empregados do Comércio de Aracaju (SECA) de acatar a greve. Segundo um dos integrantes do sindicato, o que prejudicou a adesão da greve foi a liminar concedida pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que obrigou o funcionamento de 40% dos trabalhadores das empresas de ônibus que atendem a região metropolitana de Aracaju. Ainda segundo ele, o receio da demissão ou de outras medidas administrativas levou os funcionários do comércio a trabalharem normalmente.
Na contra-mão de outros sindicatos, o Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários (SindPFA) não teve adesão unânime. Apenas 50% dos votantes foram a favor da greve. Porém todos os escritórios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e demais espaços assistidos pelo SindPFA pararam, segundo o delegado sindical de Sergipe Bruno Gomes Cunha.
Outras organizações presentes no ato que aderiram em uníssono a greve foram:
Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe (ADUFS);
Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação da UFS (Sintufs);
Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (Sintese);
Sindicato do Fisco do Estado de Sergipe (SindFisco) ;
Sindicato dos Trabalhadores Efetivos do Ministério Público de Sergipe (SindSemp);
Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações (Sintell-SE);
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Purificação e Distribuição de Água e Serviços de Esgotos do Estado de Sergipe (Sindisan);
Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telegrafos do Estado de Sergipe (SINTECT/SE);
Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social no Estado de Sergipe (Sindprev).
Os demais sindicatos a seguir não foram apurados a participação na passeata, porém apoiaram e fizeram o chamamento para a greve:
Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe);
Sindicato dos Bancários de Sergipe (SEEB);
Sindicato Unificado dos Trabalhadores Petroleiros, Petroquímicos, Químicos e Plásticos nos Estados de Alagoas e Sergipe (Sindpetro);
Sindicato dos Servidores em Conselhos e Ordens de Fiscalização Profissional e Entidade Coligadas e Afins do Estado de Sergipe(Sindiscose);
Sindicato dos Trabalhadores da Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Sergipe (Sinter-SE);
Sindicato dos Profissionais do Ensino do Município de Aracaju (Sindipema).
Reivindicações da greve:
O arquivamento da proposta de Reforma da Previdência e o fim do contingenciamento dos recursos da educação foram os dois principais pontos de reivindicação da Greve Geral do dia 14 de junho. O Governo Federal apresentou um projeto que eleva a idade mínima e o tempo de contribuição, a fim de combater o déficit previdenciário, e realizou um contingenciamento de mais de cinco bilhões para os recursos da Educação, especialmente das universidades públicas federais, a fim de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A principal pauta dos grevistas foi o combate à Reforma da Previdência, apresentada ao Congresso Nacional em fevereiro pelo Governo. De acordo com Caroline Santos, secretária de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Sergipe, além de não resolver os problemas do país, esse projeto tem como objetivo favorecer determinados grupos e penalizar os trabalhadores.
“A solução dos problemas do Brasil passa por outras questões que não é a Reforma da Previdência”, defende Santos. “Essa Reforma tem dois objetivos: penalizar os mais pobres e abrir um amplo mercado para o sistema financeiro, para os bancos. Os bancos são os mais interessados na Reforma da Previdência porque são eles que vão oferecer o plano de capitalização”, argumenta.
Além de prejudicar todos os trabalhadores, ela ressalta ainda que as mudanças no sistema de Previdência apresentada pelo governo Bolsonaro afetam de forma mais incisiva as mulheres, especialmente as professoras. “A Reforma da previdência para o magistério, em que 85% dele é formado por mulheres, é quase desumana. É fazer as professoras trabalharem mais 15 anos pra receber 100% da média salarial. Aí você imagine isso dentro da sala de aula”.
A ideia é que, com essas paralisações, os parlamentares em Brasília sintam-se pressionados a votarem contra a PEC 6/2019, apresentada pelo Governo Federal e que ainda será votada no Plenário da Câmara dos Deputados.]
No projeto de Reforma da Previdência apresentado pelo Governo, ficou estabelecida a idade mínima de aposentadoria de 62 anos para mulheres, com 30 anos de contribuição e 65 anos para homens, com 35 anos de contribuição. As regras valem para servidores públicos federais e trabalhadores da iniciativa privada. O Executivo também havia proposto um sistema de capitalização, porém esse ponto foi retirado do projeto pelo relator Deputado Samuel Moreira (PSDB-SP).
Cortes na educação
Além do combate à Reforma da Previdência, outro ponto de reivindicação da Greve Geral foi o fim do contingenciamento dos recursos da educação anunciado pelo governo federal. De acordo com Durval Siqueira, militante do Levante Popular da Juventude, um dos movimentos organizadores da Greve, a mobilização popular é fundamental para pressionar o Governo a não realizar novos “ataques” a Educação. “O ataque a Educação é um processo, não um ato em si. Nos próximos anos podem ocorrer outros ataques, cortes e contingenciamentos, além de outras perspectivas de ataques por parte desse governo”.
Na quarta-feira da semana passada, 12, o desembargador federal Carlos Moreira Alves, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, revogou liminar que suspendia os cortes feitos pelo MEC, expedida pela juíza Renata Almeida de Moura, da 7ª Vara Federal, em Salvador, no início de junho. A decisão foi baseada em recurso apresentado pela Advocacia-Geral da União (AGU) que argumentou a necessidade do contingenciamento para ser cumprida a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A greve em Aracaju minuto a minuto
15h10: A Greve Geral, marcada para acontecer na última sexta-feira(14), coincidiu com as chuvas de junho. Os manifestantes se abrigavam nas lojas do centro que permaneceram abertas, mesmo com a indiciação dos sindicatos para fechar.
15h30: Com pausa da chuva, a concentração na Praça General Valadão começou a aquecer. Jovens afinavam os instrumentos, sindicatos hasteavam suas bandeiras e organizadores começavam seus discursos.
16h: A passeata começou pela Travessa Hélio Ribeiro. Segundo os organizadores, o evento contou com a presença de 30.000 manifestantes. A Polícia Militar do Estado de Sergipe(PMSE) não fez estimativa de público. Estavam presentes estudantes, professores da UFS e do IFS; representantes do Sindicato dos Professores (Sintese); representantes do Sindicato do Fisco de Sergipe (Sindfisco); representantes do Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio no Estado de Sergipe (Sintec), entre outros.
16h35: A manifestação fez uma parada em frente ao Terminal Rodoviário Governador Luiz Garcia, no centro de Aracaju,que estava com policiamento reforçado na entrada. Os grevistas demonstraram apoio aos motoristas de ônibus, que não aderiram à greve devido a um acordo feito com as empresas de transporte público.
17h02: A greve geral reuniu vários grupos, em sua maioria estudantes e sindicatos que reivindicam mudanças na reforma da previdência e no corte de gastos da educação.
17h33: Estavam presentes no ato vários líderes políticos de Sergipe, entre eles o candidato a deputado federal Marcio Leony (PSOL), a candidata a deputada estadual Linda Brasil (PSOL), o vereador Camilo Lula (PT) e a candidata à presidência da República Vera Lúcia (PSTU), que concorreram nas eleições de 2018.
17h40: Muitos curiosos foram às portas dos prédios para acompanhar a caminhada dos manifestantes. Pessoas contrárias ao ato assistiram e vaiaram de suas varandas.
18h10: A polícia tentou impedir a manifestação, mas , após alguns minutos de negociação e muita insistência dos organizadores, a passeata continuou até o seu destino final: a rotatória que liga a Treze de julho à Coroa do Meio.
Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado I - 2019.1
Repórteres - Bianca Machado, João Victor Vasconcelos, Irllen Sousa e Mário Cidrão
Orientação - Professores: Josenildo Guerra, Cristian Góes e Eduardo Leite
*Matéria atualizada em 15/07/2019, às 10h24, para substituição da retranca "UFS é paralisada" e acréscimo do intertítulo "Garagens bloqueadas" e do podcast .
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