O distanciamento social causado pela pandemia mostrou a importância do convívio entre alunos e professores, ainda que de forma remota.
Por Thereza Maria
A adoção do ensino remoto durante a pandemia do coronavírus (COVID-19) trouxe à tona dificuldades dos alunos em concentração na sala de aula. As aulas remotas realizadas no contexto do coronavírus são atividades de ensino mediadas pela tecnologia, mas que se orientam pelos princípios da educação presencial. A ideia é que as aulas remotas deem continuidade à escolarização e a tecnologia sirva de ponte para o contato entre aluno e professor. As lições são encaminhadas às turmas de acordo com a dinâmica da escola.
Felizmente, para a prevenção à saúde de todos, estamos há quase dois anos vivenciando o ensino de forma remota. A professora de história do ensino fundamental, Nathalia Thais consegue descrever o que poderia ter acontecido sem as aulas remotas. Para ela, a situação do desenvolvimento do aluno que já não está no ideal por não vivenciar o acompanhamento no presencial, estaria pior. ‘‘Sabemos que a escola é uma parte importante para desenvolver relações sociais, autonomia entre outras coisas, mesmo com o ensino remoto os alunos têm acompanhamento dos professores, mesmo que não seja tão frequente quanto o presencial. Contudo sem aulas não existiria esse contato, dificultando ainda mais o processo educativo’’.
Durante o período em que houve a impossibilidade de realizar os encontros presenciais entre professores e alunos, devido às medidas de isolamento social, as aulas remotas surgiram como alternativa para reduzir os impactos negativos no processo de aprendizagem. Além disso, em muitos casos surge uma proximidade entre a criança e o adulto responsável que possibilita a este conhecer uma versão da criança que antes poderia passar despercebida. ''Se não fosse pela pandemia não teria dado a atenção necessária ao meu filho e principalmente, não teria percebido o transtorno de déficit de atenção - TDHA'', informa a advogada Alessandra Santos que quando finalmente acreditou ter entendido a dinâmica da escola percebeu que não estava sendo a melhor forma de aprendizado para seu filho. Como solução, essa mãe esquematizou as aulas e as atividades oferecidas pela escola junto com atividades específicas para o desenvolvimento de crianças com TDAH. Atualmente seu filho de 6 anos, que antes da pandemia frequentava a escola privada, hoje estuda em uma escola pública. ''O processo para educação em casa não foi fácil pois não recebemos instruções da escola privada ou pública, que também não buscou um desenvolvimento técnico para instruir os responsáveis pelos alunos''. Com as aulas suspensas, muitas escolas, educadores, pais e alunos tiveram que passar do ensino presencial para o ensino remoto sem muito tempo de preparação, o que é um desafio bem grande para todos.
A aluna do ensino fundamental, Maria Claudiana, de 13 anos, conta que "a dificuldade em entender o professor em sala de aula já existia mesmo antes do modo remoto". A adaptação ao remoto é diária como conta a discente "todos os dias depois da aula reviso os assuntos para ter certeza que entendi e não ficar atrasada no conteúdo". Alunos como a Maria sentem a ausência não só das aulas como também da socialização em sala. A estudante de psicologia, Catarine Correia conta sobre a necessidade da socialização para os alunos juvenis e o quanto essa fase é importante para o desenvolvimento pessoal e social: “as aulas remotas são um local onde os alunos podem interagir com seus colegas e professores. Um momento de desligamento sobre a pandemia, que trouxe à tona casos de ansiedade, pânico e depressão”.
A possibilidade da não interrupção do processo de aprendizado em tempos de distanciamento físico é a esperança não só de manter a mente da criança ativa como alimentar sua base de aprendizagem, ainda para a estudante “em meio a Graças às aulas remotas, o social do aluno não foi totalmente perdido e o autoconhecimento foi mais valorizado’’.
O cronograma de vacinação avança e a cobrança pelo contato presencial acompanha o progresso da campanha de imunização. É imprescindível que fique claro que voltar às aulas no modo presencial não é apenas reorganizar o plano de ensino, usar álcool em gel e manter o distanciamento social como grande parte da população murmura.
O não retorno ao ensino presencial vai além de “os professores estão com preguiça” ou “eles -professores- estão curtindo e viajando por outros estados enquanto fico aqui tentando educar esse menino” como ouvi de pais de alunos enquanto apurava dados para esse artigo. São riscos. São vidas. Hoje, depois de mais de 600 mil mortes, deveria parecer assustadora a ideia de voltarmos à rotina, existente há menos de dois anos, de ir e vir do local onde estudávamos e dividirmos a sala de aula com trinta ou até quarenta alunos. A você, leitor, deixo a seguinte pergunta: Depois da pandemia causada pelo COVID-19, você voltaria a frequentar espaços com mais de vinte pessoas em um ambiente fechado por mais de quatro horas durante cinco dias na semana como se nada tivesse acontecido?
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