Problema permanece há mais de 30 anos e não há mudanças positivas
Mais um alagamento aconteceu, na última semana, na margem direita do canal da rua
Tenente Durval Chaves, no bairro Novo Paraíso. As chuvas intensas ocorridas na
capital fizeram o canal transbordar, a água suja alagar as ruas adjacentes e causou
diversos transtornos aos moradores da região. O problema se arrasta há mais de trinta
anos e, segundo os moradores mais antigos, a água chega a subir mais de um metro,
invadindo as residências e causando prejuízos materiais e à saúde.
Ana Paula Ramos, 35, mora na região há 15 anos e conta que quando chove a situação é
sempre a mesma: caos, perdas e muita preocupação. "Aqui ninguém dorme quando está
chovendo. A gente [família] tinha saído, alugou um canto, porque não aguentava mais
perder as coisas, só que retornei devido ao aluguel caro e desde então já troquei os
móveis umas quatro, cinco vezes", relatou a moradora.
Ela reclama do descaso do poder público com relação aos habitantes do Novo Paraíso. "A gente perde os móveis, perde nossas coisas e não tem ajuda de ninguém para nada. Fica aquela água, lama, dentro de casa e ninguém se preocupa em saber se tem problema de saúde, higiene, além de ficar com o psicológico abalado. A gente queria que alguém fizesse alguma coisa pelo nosso bairro", desabafa Ana.
Para amenizar os impactos das enchentes, Ana Paula precisa fazer uma barreira com
madeira, bolsa plástica e tecidos ao redor do primeiro portão que dá acesso à sua casa.
Além disso, na varanda ela construiu um batente de blocos para tentar impedir que a
água invada sua residência e cause mais prejuízos, mas, mesmo assim, a água consegue
entrar de outras maneiras.
"Coloco toalhas e lençóis nos cantos das paredes, porque mina e isso ajuda a molhar os
móveis; e, às vezes, o nível da água quando sobe é tão alto que arrebenta o rejunte de
dentro de casa e começa a infiltrar água pelo piso. Eu procuro me proteger subindo
minhas coisas, coloco na cadeira, no banco, vou fazendo assim, mas quando a água
invade, têm coisas que não dá para salvar", relata a dona de casa, que vive no local com o marido e seus dois filhos.
Para aqueles que precisam sair, estudar ou trabalhar, a situação se torna ainda mais
complicada, pois o nível da água é alto ao ponto que impossibilita os moradores de saírem de suas residências a pé ou de carro, como é o caso de Reginaldo Barbalho, 50, que é motorista de aplicativo. Além do receio de ter o carro inundado, ele não consegue sair de casa para trabalhar.
"Na chuva de 2013, eu perdi meu carro. Mesmo com a garagem alta, o carro encheu de
água e eu fiquei três meses sem carro. Quando enche [a rua], eu não deixo ele mais aqui,
já retiro [de casa]. A gente se sente um pouco rejeitado pelo governo por não dar
nenhum apoio com relação a esse problema", conta Reginaldo, que vive no bairro há 25
anos.
Para Ana Paula, vivenciar toda essa situação é um sentimento de tristeza e impotência,
principalmente por saber que a cada nova enchente se vai a possibilidade de viver uma
vida segura e tranquila na localidade. "O sentimento é de tristeza, da gente não poder
fazer nada. É um sentimento de que você se sente incapaz, porque você não pode
resolver um problema que tanto lhe faz mal. Uma coisa que lhe prejudica tanto e você
não pode fazer nada para poder melhorar", lamenta.
Os canais do Novo Paraíso
De acordo com a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), que presta
serviços de limpeza em Aracaju, o canal do Novo Paraíso, localizado na Zona Oeste,
recebe águas dos bairros América e Siqueira Campos e que com a chuva forte em um
curto espaço de tempo, o canal enche rapidamente e transborda.
A empresa disse que uma das causas que contribui para que isso aconteça é o descarte irregular de lixo e ressaltou que ações vêm sendo feitas com o objetivo de sanar esses problemas no Novo Paraíso e em outros bairros da capital. "Aracaju, atualmente, tem poucos canais que transbordam. Desde 2017, por meio de um cronograma planejado, teve início o serviço de limpeza preventiva dos canais. A cada três [meses] e, a depender da necessidade, até antes, as equipes realizam a limpeza, seja pelos métodos manual, mecanizado ou barragem".
Nossa equipe tentou entrar em contato com a Empresa Municipal de Obras e
Urbanização (Emurb), que presta serviços de drenagem em Aracaju, mas não fomos
atendidos.
Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado I - 2019.1
Repórter - Pedro Nascimento
Fotos - Pedro Nascimento
Orientação - Professores: Josenildo Guerra, Cristian Góis e Eduardo Leite
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