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CasAmor auxilia LGBTQ's que precisam de apoio emocional e financeiro em Sergipe

Atualizado: 28 de mar. de 2019


1- Logomarca da instituição 2- Militantes LGBTQI+ no lançamento de Projeto Conte 3- A CasAmor durante participação dos Mãos Amigas da TV Sergipe (Foto: Reprodução Instagram) 4- Visita do escritor e cineastra João Silvério Trevisan à CasAmor (Foto: Reprodução Instagram)


Prestes a comemorar um ano de funcionamento, a CasAmor já atendeu cerca de 45 pessoas pelo serviço de assistência psicossocial e oferece, além de promover debates e palestras sobre a causa LGBTQI+ em Aracaju, oportunidades para que esse público possa ser inserido no mercado de trabalho.


O trabalho da casa é fazer com que as pessoas LGBTQ's que estão passando por dificuldades financeiras e em situação de rua, possam se reestruturar socialmente, como destaca Linda Brasil, transfeminista e idealizadora da casa. "A casa busca capacitar, encaminhar as pessoas LGBTQ’s para cursos, entrevistas de emprego, para que elas possam ter sua autonomia, sua emancipação. Ela não funciona apenas com a finalidade de ser um abrigo".


Há um plano de atuação para que os profissionais dessa associação possam receber essas pessoas. Inclusive, já existe uma lista de espera, segundo afirma Renata Oliveira, psicóloga voluntária da CasAmor. "A ideia é traçar um planejamento futuro de curto, médio e longo prazo para a pessoa e entender o que a trouxe à CasAmor. Assim, buscar estruturas sociais, políticas públicas, apoio de parceiros da casa para, a depender do caso, entender como a casa pode direcionar essa pessoa”.


A casa visa proporcionar um ambiente de diálogo a respeito dessa população, a exemplo do lançamento do Projeto Conte, no último dia 22 de novembro. O Conte é um site em que as pessoas LGBTQ’s poderão compartilhar relatos de dramas familiares , de agressões de cunho físico, verbal, psicológico e simbólico, a fim de reunir mensagens como suporte para as pessoas que sofrem ou sofreram com essa realidade. Além disso, a casa está organizando o casamento comunitário, que teve sua primeira reunião no dia 11 de novembro e, também, realizou o mutirão para retificação de gênero e nome civil, no dia 10 de novembro, bem como diversas outras ações.


Apesar desse tempo de atuação, só agora a casa parece estar próxima de resolver questões burocráticas para seu pleno funcionamento. “Existem vários alvarás para a casa poder funcionar e acolher pessoas, mas a gente está regulamentando, porque teve um obstáculo, que foi a questão do nome social no processo de regulamentação, que a Receita Federal não aceitou de alguns dos nossos diretores. Já conseguimos o CNPJ e agora já está tudo encaminhado, só falta sair esses alvarás”, destaca Linda Brasil.


Os alvarás que estão sendo aguardados são de responsabilidade da Prefeitura de Aracaju e do Corpo de Bombeiros. Devido a questões de segurança, incêndio e de acessibilidade, os documentos se encontram sob análise para receber sua concessão. “Estamos fazendo uma análise da casa com profissionais de segurança do trabalho e engenharia Civil, para realizarmos as reformas necessárias na casa e, assim, conseguirmos esses alvarás”, reforça Renata Oliveira.

 

Como e porquê funciona a casa


Inspirada em modelos como a "Casa 1" no Estado de São Paulo e a "Casa Nem" no Estado do Rio de Janeiro, a CasAmor conta com uma diretoria composta por nove pessoas que atuam, principalmente, na gestão da casa. Além disso, há uma equipe com mais de 50 voluntários das áreas de Publicidade, Direito, Psicologia, Assistência social, dentre outros profissionais.


O surgimento da casa contribuirá para que se possa combater a invisibilidade e o preconceito contra o público LGBTQI+ no Estado de Sergipe em situação de vulnerabilidade socioeconômica, principalmente travestis e transexuais. Em Sergipe, segundo afirma Linda Brasil, ainda não existem dados no Estado que mostrem a realidade do público LGBTQI+ em situação de rua. “Não é de interesse do Estado, porque ia demandar, através de pressão dos movimentos, políticas públicas, mas a gente percebe que muitos LGBTQ’s estão em situação de vulnerabilidade social. É tanto que há uma ocupação do MTST, a Beatriz Nascimento, onde tem uma rua que a grande maioria é composta por pessoas LGBTQ’s”.


Em São Paulo, apenas em 2016 a populaçaõ LGBTQI+ passou a ser identificada no censo de população em situação de rua. Os Dados mostraram que cerca de 10% da população em situação de rua pertence ao grupo LGBTQI+, sendo o primeiro censo que tornou visível essas pessoas no processo de acolhimento.


No Brasil, como mostra uma matéria produzida pela revista Exame, dos 11,5% de desempregados constatados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em pesquisa no ano de 2016, quase 9% é representado por pessoas LGBTQ’s, ou seja, cerca de 18 milhões de pessoas.

 

“Eu não escolhi ir embora”


Aos 15 anos, Bruna, como pediu para ser identificada, quase fez parte dessa população invisibilizada no Estado de Sergipe. Sua mãe, ao mexer em seu celular, descobriu a orientação sexual dela, devido uma conversa com uma garota num aplicativo de relacionamento. “Ao ler as mensagens, minha mãe me questionava se eu havia saído da igreja para ‘isso’, dizia que eu estava louca e que ia me internar. Depois disso, ela veio me bater. Foi uma surra ‘tremenda’, mas o que mais me chocou foi o meu pai assistir tudo e não intervir. Ele só pediu para que ela parasse quando eu já estava bastante machucada”, relatou Bruna, hoje com 19 anos.


Além das agressões físicas, Bruna precisou lidar com o peso das palavras da sua mãe. “Ela me mandou ir embora. Disse que eu não iria ficar em casa, porque ela não me queria lá. Eu pensei em ir, mas para onde eu iria com apenas 15 anos? Eu não tinha ninguém que tivesse alguma autonomia e pudesse me dizer ‘eu te acolho em casa por um tempo”, continuou a universitária.

Bruna só não foi expulsa de casa, de fato, por conta de seu pai que não permitiu, mas ela foi restrita a muitas coisas, por exemplo, o acesso ao celular e ao computador. Diante disso, ela ressalta a importância de se ter um lugar para acolher pessoas que passam por essa situação. “Quando eu descobri sobre a CasAmor e de como ela acaba sendo uma forma de abrigo para as pessoas que são expulsas de casa, fiquei feliz, porque seria importante que eu tivesse tido esse amparo, não necessariamente, como abrigo, mas emocional mesmo”. Ela ainda continua “ter um apoio de pessoas, mesmo não sendo da minha família, mas que se tornariam a minha família, é muito importante nessa situação. Que bom que hoje as pessoas que vierem a passar pelo o que eu passei terão esse apoio com a casa”.


Hoje, para acolher as pessoas que vivenciam o que Bruna passou e oferecê-las uma nova perspectiva, a CasAmor sobrevive de doações de mantimentos e de dinheiro. A arrecadação acontece, também, com a realização de eventos, a exemplo de bazares, para pagar os gastos de água e luz, uma vez que não há despesa com aluguel da casa, pois ela foi concedida através de uma cessão de uso pelo seu proprietário. No momento, a casa não recebe ajuda da prefeitura nem do Estado, porém, segundo Linda Brasil, “quando a casa estiver regulamentada, serão buscadas parcerias para ajudar na manutenção”.


 

Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado II - 2018.2

Repórter: Samuel Santos

Orientação: Prof. Josenildo Guerra

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