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Ascensão da indústria da "alimentação consciente": reflexão sobre práticas alimentares sustentáveis

Por Gabriela Rosa, Jhennifer Laruska e Thyago Soares


O que constitui uma alimentação consciente? Em tempos de crises ambientais e de aumento da fome no Brasil e no mundo, refletir sobre a alimentação requer não somente a luta pela garantia de um direito básico, capaz de assegurar a vida e a saúde, mas também a tomada de ações com vistas à redução de danos ao meio ambiente. Hábitos alimentares que excluem o consumo de carne vêm sendo pautados como uma saída mais sustentável e que busca pensar o alimento a partir das relações sociais, da diminuição dos impactos ambientais e de uma produção livre da crueldade animal.


Um longo caminho de inacessibilidade, incompreensão e insatisfação foi percorrido para que práticas de alimentação vegana e vegetariana pudessem se tornar tendências como são hoje. Não que esses tipos de consumo sejam completamente acessíveis, compreendidos e causem satisfação nos tempos atuais, mas com o auxílio de ferramentas, como as redes sociais, essas pautas e hábitos ganharam maior espaço para debate e notoriedade. No entanto, não podemos presumir também que esse tipo de alimentação é algo acessível a todas as camadas da sociedade - ou tão pouco legitimado. Apesar disso, houve, sim, atores sociais que souberam se apropriar do “boom” desses movimentos nas redes sociais nas redes sociais e utilizá-los para benefício próprio: foi o caso das grandes empresas e dos conglomerados que compõem a indústria alimentícia.


As diferentes marcas enxergaram nas dietas com exclusão de carne e produtos animais um nicho de mercado, o que caiu como uma luva para a ampliação de lucro e aproveitamento de resíduos alimentares resultantes de diversas etapas de processamento, como a soja. Esse cenário se sustentou sob a oferta de uma dieta plant-based (à base de vegetais) que se dissocia dos termos “veganismo” e “vegetarianismo” apesar de se afirmar livre de crueldade animal, orgânico e até sustentável. Bom, isso é o que consta pelo menos nas embalagens feitas em tons terrosos, verdes e com materiais aparentemente reciclados, mas qual a verdade sobre essa indústria?


Essa análise é mais complexa do que aparenta e depende de um ponto de vista que ultrapasse a compreensão do consumo individual dos alimentos e entenda as diferentes variáveis que estão envolvidas nesse processo. De acordo com a Euromonitor International, empresa de pesquisa de mercado, a indústria de carne vegetal no mundo teve um crescimento de 24% em 2020. Conforme a demanda por produtos nesse nicho cresce, especulações empresariais elegem o setor “vegano” como umas das grandes apostas para o futuro do mercado alimentício. A JBS, por exemplo, expandiu sua fabricação de alimentos plant-based mais cedo esse ano através da compra de empresas que já trabalham com esse tipo de mercado.


Entretanto, esses novos produtos lançados sob o rótulo da sustentabilidade parecem estar dissociados dela durante a sua produção. Isso acontece pois o interesse das empresas é, acima de tudo, o lucro: a escassez de notícias e discussões sobre essas questões e os impactos ambientais em grandes portais jornalísticos parece ser uma das ações do lobby.


Há também que se apontar um crescimento do consumo de ultraprocessados, como é o caso do uso de proteínas vegetais como a da soja em produtos, que substituem comidas “de verdade” e tendem a ser uma opção “mais fácil” em tempos de crises econômicas como as que estamos vivenciando, assim como o uso excessivo de agrotóxicos no cultivo desses produtos. A própria indústria insiste em desvincular esses tipos de alimentos, que são danosos principalmente à saúde, dos males que causam. Além disso, se aproveita para criar um cenário em que se alimentar é caro, mas se alimentar bem é ainda mais, quando torna as saídas para um consumo fora do que é produzido por ela mais difíceis e inacessíveis.

Assim, retornamos a outros - e aos mesmos - questionamentos: O que seria, portanto, uma alimentação consciente? Aquilo que chega à nossa mesa se conecta com as pautas que defendemos em prol de uma vida mais saudável e de práticas mais sustentáveis? Para garantir conscientização sobre aquilo que comemos, é fundamental que a informação e a transparência das empresas sobre as produções realizadas sejam acessíveis para todos, levando-se em conta um consumo de alimentos com redução de danos ambientais, que cumpra a função de nutrir e não ameace a segurança alimentar.Dessa forma, é preciso que esse olhar sobre alimentação abrace a coletividade e não seja pautado unicamente pela indústria alimentícia, esta que obedece majoritariamente às demandas do agronegócio e é destrutiva à natureza e aos seus recursos.


Agnaldo Rezende - entrevistaJoyce e Katiane
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