O PULSAR DO RAP EM SERGIPE
Por: Thyago Soares
Eternizado como o “país do forró” nos versos do cantor Rogério e terra natal do fenômeno Calcinha Preta, Sergipe apresenta uma diversidade musical que pode surpreender muitos. Do samba de coco ao rock, uma gama de diferentes ritmos ecoa nos diferentes cantos do estado. Um desses gêneros, que vêm cada vez mais solidificando sua presença na cena contemporânea sergipana, é o rap.
Etimologicamente falando, a palavra “rap” possui uma história diversa de significados, aparecendo inicialmente como rappe, de origem escandinávia que significava algo como “estouro”, e mais tarde como uma gíria britânica onde rap erado usado como sinônimo para “falar” ou “proferir”. Esse último significado se aproxima do termo que nomeia o gênero musical, cujas raízes estão traçadas para o final dos anos 70, tendo sido popularizado pela comunidade afro-americana nos anos 80. O ritmo, que surgiu através das fusões de elementos do funk, soul e disco, é apontado por alguns como uma parte fundamental da cultura hip-hop, tendo sua responsabilidade na consolidação de figuras como as do MC e a do DJ no cenário da música. Hoje, 40 anos depois do seu boom inicial, o rap segue sendo um dos estilos musicais mais escutados ao redor do mundo de acordo com estatísticas das principais plataformas musicais de streaming.
Mesmo com sua alta popularidade, o rap ainda é frequentemente estigmatizado e relegado à, ao que parece ser, uma condição vitalícia de ritmo “marginalizado”. Muito além de indicar a suas origens, esse rótulo é constantemente utilizado com conotação negativa, a fim de diminuir a importância do gênero. Diferente da subalternização atribuída a outros ritmos, a questão da inferiorização do rap está intimamente ligada ao seu lugar de origem: a periferia, em especial a comunidade negra. Ou seja, está estreitamente ligada ao racismo. Um caso que se relaciona com essa situação aconteceu na aparição do artista Martinho da Vila no programa Roda Viva, onde a jornalista Vera Magalhães fez questão de abordar a suposta ligação das milícias com o samba, um gênero que também tem raízes negras.
Não são poucas as críticas conservadoras que até os dias de hoje insistem em apontar o rap como um gênero musical raso, sem profundidade e exclusivamente comprometido a tratar de questões tidas como negativas e controversas.
Em contramão, são inúmeros os exemplos da “lírica rapper” que propõem um ouvido atento e a constante reflexão do ouvinte, desde as narrativas cruas da realidade em que se vive à valorização da ancestralidade do seu povo. Não é à toa que o álbum seminal do grupo Racionais MC’s, "Sobrevivendo no Inferno”, se tornou parte da leitura obrigatória para o vestibular da Unicamp em 2018. Em um de seus ensaios, a escritora bell hooks chama atenção para o poder de subversão da linguagem, discutindo o vernáculo afroamericano e a potência do mesmo ao inverter as armas do opressor contra ele mesmo. É possível apontar que o rap segue essa mesma lógica.
No Brasil, o cenário de ascensão no rap se deu no final dos anos 90 e seguiu fortemente no início dos anos 2000, contando nos dias atuais com o sucesso nacional de artistas concentrados ao sul do país como Criolo, Emicida, Djonga e a recém-chegada N.I.N.A.
Já no nordeste, o rap começa a dar as caras enquanto um movimento de força nas últimas duas décadas, em meio à discursos de xenofobia e discussões acerca da intersecção entre negritude e a nordestinidade. Baco Exu do Blues, Don L, Vandal e Matuê são alguns dos expoentes mais bem sucedidos e ativos dessa cena nos últimos tempos.
Em Sergipe, o cenário vem sendo construído aos poucos, mas sem dever nada a qualquer outro lugar. Com pouco e praticamente nenhum apoio estatal, a cena rapper do menor estado brasileiro avança organicamente pelos artistas locais que constroem e fortalecem as alianças entre si. Dentre de alguns nomes, a cena de rap sergipana conta com alguns artistas como DANI DK, Pardal MC, Caiane, BW, Pérola Negra, Txkx, Volúpia, Clay, Mali e Marvin Lima.
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