Alguns dos incentivos do órgão público aracajuano são 24 academias espalhadas pela cidade, 14 torneios no último ano e um valor simbólico de 200 mil reais para o Confiança e o Sergipe
Moradores do bairro Santos Dumont, em Aracaju, na Academia da Cidade (Foto: Francielle Oliveira)
Das praças ao estádio, o esporte é feito para ser uma atividade democrática. Em Aracaju, desde as práticas de lazer até os jogos profissionais, o esporte está presente no dia a dia do aracajuano. Entre o incentivo público e o ímpeto dos amantes das atividades físicas, a cidade é recheada com as mais diversas atividades para serem praticadas, vistas ou acompanhadas.
Para saber mais disso, nós do Portal Mais Contexto fomos em busca de descobrir o que há de lazer esportivo, amador e profissional na capital sergipana.
Lazer
Em Aracaju, uma opção de lazer e esporte aberto ao público é o Projeto Academia da Cidade (PAC). Desenvolvido pela Prefeitura de Aracaju, em parceria com a Secretaria da Saúde, tem como objetivo principal melhorar a saúde e qualidade de vida dos aracajuanos, sendo aberto para todos os públicos, desde crianças até idosos.
Atualmente o PAC conta com 24 polos espalhados pela grande Aracaju. No Bairro Santos Dumont as atividades são realizadas durante toda semana. O professor de Educação Física Walter dos Santos, que é um dos profissionais deste polo, conta “as atividades são bastante variada. Com o intuito principal de promover a saúde dos participantes, trabalhamos com exercícios localizados, multifuncional, aula de ritmos, são diversas”.
Os professores fazem um acompanhamento e uma pré-avaliação da saúde do aluno, podendo dessa forma o encaminhar para uma unidade de saúde básica se necessário. “Quando chega um novo aluno nós fazemos uma anamnese para avaliar as suas condições, e com os que já participam a maioria são idosos, têm problemas como pressão, qualquer problema enviamos para a unidade de saúde mais próxima.”, ressalta o professor.
Dona Roseli da Silva e Dona Vanessa da Paz, aposentadas, amigas e presentes diariamente nas academias. Vanessa, que já é frequentadora assídua há 8 anos, conta que fez uma visita e desde então não saiu mais.“Me convidaram, eu vim, fui gostando e participo tem muitos anos. Só acredito que poderia ter um pouco mais de investimento, como em aparelhos que não temos, bicicletas, coisas do tipo”, disse ela.Já Dona Roseli, conta que começou a frequentar por orientações médicas. “Eu estava com um problema na tireoide e estava ganhando muito peso, então meu médico sugeriu, fui e adorei, aqui a gente se distrai e esquece um pouco os problemas, consegui perder peso e melhorei a minha saúde ainda’’, afirmou.
Polo Santos Dumont da Academia da Cidade, em Aracaju (Foto: Francielle Oliveira)
Esporte amador
A prefeitura municipal de Aracaju disponibiliza, por meio da secretaria municipal da juventude e do esporte (Sejesp), torneios anuais de diversas modalidades. Luis Carlos Bossa Nova, ex-jogador de futebol e hoje Coordenador do Esporte de Inclusão, explica que as competições acontecem desde 2011. No ano passado, entre os meses de março a novembro, foram desenvolvidos 14 torneios. As modalidades foram futebol masculino e feminino, futsal masculino, futebol de areia feminino e vôlei de praia masculino. Segundo dados da própria secretaria, um total de 4.622 atletas participaram das competições.
Além de eventos esportivos, a secretaria também disponibiliza um serviço em prol do lazer. José Cleisson é coordenador de atividades e de lazer da Sejesp. Cleisson cita as práticas como “atividades lúdicas, recreativas e psicomotoras”. Os locais que o coordenador leva essas práticas atualmente são os Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e alguns abrigos. Porém, o coordenador explica que as ações estão disponíveis para qualquer órgão ou comunidade que faça o pedido.
“O esporte não é pensado como promoção social, como educação e como saúde pública” - Ailton Oliveira
Ailton Fernando Santana de Oliveira é professor do Departamento de Educação Física na Universidade Federal de Sergipe e atual coordenador do Centro de Pesquisa em Políticas de Esporte e Lazer do Estado de Sergipe (CDPPEL/SE). O especialista afirma que a mais de 30 anos o departamento estuda as políticas públicas para o esporte em Sergipe. Recentemente a CDPPEL viajou por todo território sergipano enumerando dados sobre a prática de atividades físicas da população sergipana.
Sobre a atuação dos políticos Ailton admite que “a política do esporte e lazer em sergipe é o abandono do esporte e lazer”. Além disso ele critica o fato de da ausência de ações contínuas e que as ações políticas são assistencialistas e eleitoreiras. O professor desaprova também a falta de profissionais públicos para orientar as pessoas nas praças. “As pessoas não estão praticando esporte com orientação e com qualidade devido a ausência do poder público. As pessoas não vão a praça praticar o seu lazer porque sente insegurança na prática e não tem um profissional público que possa orientar”, analisa Ailton.
Uma das críticas do professor é que apenas 11,9% das pessoas que praticam esportes praticam na intenção de competir. Isso demonstra a falta de importância de um dos principais fundamentos do esporte, a competição, e consequentemente, a vulnerabilidade da atividade física no estado, segundo Ailton. A principal razão para a prática desportiva seria o divertimento e relaxamento (33,9%). Melhorar a qualidade de vida (25,6%), Manter o desempenho físico (14,4), indicação médica (9,5) e socialização e fazer amizades novas (0,9%) foram outros motivos que os entrevistados deram como resposta.
Esporte profissional
A profissionalização do esporte na capital é um assunto delicado. Com poucos recursos e nem sempre o maior dos apreços por parte do público, executar um projeto a nível profissional é uma tarefa extremamente árdua para os envolvidos na parte administrativa. Maior expoente disso é o futebol. Confiança e Sergipe são os maiores times da cidade e do estado, e mesmo com toda a tradição e grandeza, ainda sofrem regularmente com dificuldades financeiras para conduzirem seus projetos.
O Dragão do Bairro Industrial, como é popularmente conhecido o Confiança, possui uma estabilidade maior que o seu rival. Disputando competições no âmbito nacional, recebe bonificações de patrocínios privados e da televisão que incrementam o caixa do clube e o deixam numa posição menos “dependente” do incentivo da Prefeitura.
Já o Sergipe, atualmente disputando apenas o Campeonato Sergipano, necessita em um grau maior do apoio público na parte financeira. Ainda que também possua patrocínios, a ausência de calendário reduz e muito o atrativo financeiro do clube perante o mercado.
Confiança e Sergipe, durante clássico no Campeonato Sergipano de 2020 (Foto: Felipe Rosendo)
A Prefeitura de Aracaju possui um convênio no valor de R$ 200 mil com os dois clubes, valor este que é repartido em igualdade. Mesmo sendo um valor consideravelmente alto, o mesmo é fornecido apenas uma vez ao ano aos clubes. Dessa forma, torna-se um patrocínio abaixo do que a realidade de ambos pede.
Isso porque, quando diluído ao longo do ano, não supre as demandas financeiras que um clube profissional de futebol gera. Obviamente, a prefeitura não deve ser a responsável por sustentar os clubes. Todavia, há o exemplo de outros estados, como a Paraíba, onde a Prefeitura de João Pessoa forneceu ao Botafogo-PB o valor de R$ 800 mil para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série D de 2013. Desde então, o clube cresceu exponencialmente, encontrando-se hoje muito mais estruturado e consolidado no cenário nordestino.
O exemplo explica-se por si só. Enquanto lá o incentivo foi para uma única competição num valor quatro vezes maior, aqui é para durar o ano inteiro, e ainda sendo repartido entre duas instituições. Cenário que torna difícil o crescimento na esfera nacional do esporte sergipano.
Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado II - 2019.2
Repórter - Fabrício Santos, Francielle Oliveira e Victor Santos
Orientação - Professores: Cristian Góis, Talita Déda e Vitor Belém
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