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A dor na arte

Invisível aos olhos do público, músicos adoecem em busca da perfeição artística


Música é a arte que combina variações de sons e ritmos. Expressa sentimentos, emoções, paixões e uma infinidade de sensações. O músico é o profissional responsável por exercer funções dentro deste campo artístico. Para chegar a excelência musical, o músico precisa realizar movimentos repetitivos durante horas seguidas. Muitas vezes, chega à exaustão, física e mental. É aí onde o compasso perde o passo. O ardor da profissão está diretamente ligado a problemas físicos, e isso está longe dos olhos do público. Ao apreciar um concerto, por exemplo, muitos de nós não consegue visualizar o processo penoso que os músicos levaram para chegarem naquele nível de execução da peça.


Fontes: “Queixas Musculoesqueléticas em Músicos: Prevalência e Fatores de Risco” (UFRGS) e “Trabalho e prática de exercícios físicos: o caso de músicos de orquestra” (UFSC). Imagem: Alisson Mota.


Cada caso é um caso

Um caso famoso de dor na arte é o do ex vocalista e baterista da Genesis, Phil Collins. Ele começou sua carreira nos anos 70 e continuou em atividade até 2011, quando precisou fazer uma pausa por conta de um problema na coluna. Os anos tocando bateria renderam dores que eram suportáveis no início, mas com o passar dos anos foram se agravando. Em 2015, Collins realizou uma cirurgia na coluna e até hoje sofre com sequelas da operação. Por um tempo, precisou realizar os shows sentado.


O saxofonista e professor no Conservatório de Música de Sergipe, José Aroldo, também passou por situação parecida a de Collins. Em 2012, precisou fazer uma cirurgia na mão esquerda que o deixou três meses afastado da música. A lesão foi causada por conta da posição como tocava o saxofone. Primeiro, surgiu um calo na mão, aos poucos já não conseguia mexer o dedo médio e o anelar. A solução foi a cirurgia. O resultado disso é que Aroldo precisou trocar de instrumento. Passou do saxofone barítono para outros mais leves, como o saxofone soprano. Hoje, pratica o instrumento por cerca de 10 a 20 minutos por dia. Mesmo após ter precisado fazer uma cirurgia, ele só procura ajuda profissional quando aparece algum problema. Os incômodos mais leves ele alivia com repouso e gelo.


Apesar de sofrer com tantos problemas físicos, o professor não consegue se desfazer da sua paixão por tocar. “Música deixa todo mundo feliz. É só você tocar um ‘solinho’ de sax ali que quem estava triste fica feliz.”, conta Aroldo com um sorriso no rosto.


Flautista da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal de Sergipe, Daniel Melo, começou na música cedo, com sete anos de idade. Seu corpo então foi se adaptando a prática do instrumento. “Cresci tocando. A maioria das estruturas físicas do meu corpo ainda estava em formação. A minha coluna possui um ponto onde ela é um pouco ‘girada’, é o ponto onde o corpo vira para ficar na posição do instrumento”, lembra Daniel. Os incômodos começaram a surgir nos primeiros cinco anos após o início da prática musical. Aos poucos ele foi diminuindo a intensidade dos treinos, mas nunca parou de fato. Hoje, treina o instrumento duas horas por dia, duas vezes por semana.


Ainda na infância, Daniel fez consultas com um ortopedista que o aconselhou a parar de tocar o instrumento. O rapaz se recusou. Para ele, tocar é muito mais do que um simples hobby, e mesmo com todas as dores, o esforço vale a pena. “Não consigo me ver sem fazer música. O tempo todo estou pensando nisso. Faz parte da minha vida”, reforça Daniel.




Alexandro Chaves, estudante de contrabaixo acústico e elétrico, relata que houveram desconfortos no inicio dos seus estudos por conta da falta de conhecimento. No começo ele sentiu leves desconfortos. A vontade de aprender e o desconhecimento das técnicas acabaram gerando incômodos, que não chegaram a ser graves, segundo o rapaz.


Alexandro nunca procurou um médico para resolver os incômodos. Para se prevenir contra possíveis contusões, ele faz aquecimentos antes de iniciar os estudos com o instrumento, evitando tencionar ou lesionar os músculos. O rapaz também buscou fortalecimento muscular no esporte, praticando ciclismo e surf. Aliado a isso, Alexandro não possui o hábito de tocar por várias horas seguidas. “Eu estudo várias vezes ao dia, cerca de 10 minutos, depois eu paro. Não tenho essa metodologia de tocar várias horas seguidas. Prefiro tocar por pouco tempo várias vezes ao dia”, informa o músico.


Como os outros entrevistados, Alexandro menciona com emoção a sua paixão pela música. Ele optou em diminuir sua carga de estudos para continuar tocando por muito mais tempo. “Música é minha vida. Tudo o que eu faço é música”, confessa alegremente.


Prevenção é o melhor remédio

Maria Goretti Fernandes, professora do departamento de Fisioterapia da UFS, aconselha pausas durante a prática dos instrumentos. Ao realizar uma atividade repetitiva, é necessário realizar pausas constantes para que os músculos tenham um repouso. Esse repouso é importante para que os músculos e tendões se recuperarem. Goretti recomenda pausas de 10 minutos a cada 50 minutos de atividade. Nesses 10 minutos o ideal é fazer um alongamento.



Segundo a professora, a ginástica laboral é uma ótima opção preventiva. Feita por profissionais da área, como fisioterapeutas e educadores físicos, ela tem como objetivo prevenir lesões e outras doenças causadas pelo trabalho repetitivo. Essa ginástica será diferente para cada músico. A depender do instrumento tocado, os músculos utilizados na prática serão diferentes uns dos outros, por isso, é necessário realizar exercícios específicos para cada musicista.


Respeitar o corpo e a própria capacidade física é essencial. Cada um sabe seu limite. Os nervos, músculos, tendões e articulações são insubstituíveis. Uma pessoa que está com lesão por esforço repetitivo perde até 50% da sua capacidade de força. Após lesionar, só resta tratar. O tratamento é feito com fisioterapia e repouso. “O remédio é a prevenção. Já dizia Hipócrates: ‘é melhor prevenir do que remediar’.”, lembra Goretti.


 

Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado I - 2019.1

Repórter - Joyce Felix

Fotos - Francielle Nonato

Orientação - Professores: Josenildo Guerra, Cristian Góis e Eduardo Leite

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