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Praças da capital sofrem com falta de estrutura, segurança e lazer

Por Eduarda Juliana, Nívea Estela e Tatiane Macena

 

Balanços quebrados na praça José Andrade Góis
Balanços da praça José Andrade Gois destruídos. Foto: Tatiane Macena

Praças são espaços de extrema importância para a sociedade. Elas contribuem para a interação social de comunidades distintas e também na estética dos centros urbanos. De acordo com o presidente da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emurb), Antônio Sérgio Ferrari, na cidade de Aracaju, há cerca de 400 praças. Nelas, é possível observar a presença de árvores e flores, que auxiliam no meio ambiente e embelezam a capital sergipana.


As praças Tobias Barreto, localizada no bairro São José, Dom José Thomaz, no Siqueira Campos e a José Andrade Góis, no Getúlio Vargas fazem parte da história de vida dos moradores da cidade de Aracaju, não só por conta do tempo de existência, mas também devido às atividades que são desenvolvidas em seus entornos.


No entanto, esses espaços não atendem às necessidades dos frequentadores. De acordo com moradores e trabalhadores das regiões, ao longo dos anos, a gestão municipal abandonou a preservação dessas praças e não investiu em atividades culturais ou geradoras de renda. Insegurança, descaso e depredação são algumas queixas frequentes. A falta de atenção para com esses espaços de lazer, fazem com que a vida cultural nesses espaços deixe de existir.


Questionado sobre a segurança dessas praças, o superintendente da Guarda Municipal, Fernando Mendonça indicou que a ausência ocorre devido a grande quantidade de praças espalhadas desde as zonas norte e sul da capital sergipana. “A capital possui muitas praças espalhadas nas mais diversas áreas da cidade, por causa da quantidade, se torna inviável a presença de nossos guardiões durante boa parte do dia nesses locais, sob pena de enfraquecer o policiamento em outros espaços, equipamentos e logradouros públicos. Dessa forma, o planejamento é realizado de forma tal que nos momentos mais necessários nossas equipes estejam presentes garantindo a segurança da população”, explica.


Segundo o presidente da Emurb, o órgão é responsável pela revitalização das praças e pelos projetos que pensam como esses locais servem à população. Ele alega que é difícil a manutenção constante de todos os espaços públicos, por depender do repasse de verbas da prefeitura. “O recurso do município não está sendo suficiente para fazer a manutenção dessas praças”, afirma Sérgio Ferrari.


O trabalho da Emurb também foca nos levantamentos do que precisa melhorar em cada praça. Dentro deles, são feitos orçamentos do que é necessário para a recuperação e de que forma pode ser feita. Depois de feitos, esses levantamentos e projetos feitos pela empresa, precisam da aprovação da prefeitura.


As três praças, em pontos distintos da cidade, foram escolhidas com objetivo de abordar a questão mais ampla do descaso da gestão municipal com a preservação desses ambientes. As três servem de ponto de encontro, pois estão localizadas em pontos estratégicos da cidade, que facilitam a locomoção da população.


PRAÇA TOBIAS BARRETO


A Praça Tobias Barreto, localizada no bairro São José, na zona sul da capital, foi fundada em 1835 e é uma das mais antigas e importantes da cidade de Aracaju. Rodeada por hospitais, escolas, padarias e igreja, a praça leva o nome de uma das maiores figuras históricas de Sergipe, Tobias Barreto de Menezes(1839-1889), que foi jurista, filósofo e poeta. Hoje, o local sofre um abandono do poder público e, em muitas situações, se torna um lugar perigoso.


Parte arborizada da Praça Tobias Barreto - Foto: Eduarda Julianna


Maria José, que trabalha há um ano no quiosque de comidas da praça, relata a falta de segurança no ambiente de trabalho. “Aqui a gente já teve registro de água quebrado, fio de cobre roubado, toda semana acontece alguma coisa.”, conta. Quando questionada sobre uma resposta do poder público, ela desabafa: “Eu já entrei em contato com a Secretaria de Segurança Pública várias vezes, mas eles não dão jeito.”


Leandro Santos, há três anos, sai todos os dias do município de Carmópolis para trabalhar na praça como jardineiro. Ele relata que desenvolve um trabalho tranquilo, com uma boa rotina, mas também reclama da segurança. “De vez em quando um rapaz vem aí e toca fogo nas plantas, quebra uns bancos, mas fora isso eu gosto de trabalhar aqui, depois da pandemia o movimento voltou mais”, conta.


A praça Tobias Barreto, que é uma das mais antigas, passou por uma reforma em 2017, na qual foi adicionada uma parte de acessibilidade e espaço para atividade física. Isso mostra como as praças mudam sua função ao decorrer do tempo e a depender das demandas e transformações sociais.


“Isso é um conceito atual, para as praças que estão sendo construídas agora. As praças que já existem quando a gente faz reforma, procura adaptar nesse conceito, mas têm muita praça que foi feita há muito tempo atrás e esse conceito não existia e nem sempre é fácil tentar recuperar”, afirmou o presidente da Emurb, Sergio Ferrari.


Há mais de 30 anos acontece a feira de variedades na praça Tobias Barreto, onde os comerciantes vendem comidas típicas, lanches, tapetes, redes, panos de pratos e acessórios. A feira acontece tradicionalmente aos domingos e já foi considerada uma das maiores atividades da cidade. Hoje, o número de barracas diminuiu, não há muita divulgação e investimento dos órgãos responsáveis e os feirantes acabam trabalhando por conta própria.


Produtos variados vendidos na Feira Artesanal da Praça Tobias Barreto aos domingos. Foto: Eduarda Julianna

Zônia Maria, trabalha na feira da praça há oito anos. Ela relata que o movimento da praça varia muito e que falta mais divulgação para as pessoas. “Se tivesse mais divulgação seria melhor, porque a gente sente falta mesmo [da divulgação]. Aqui não aparece muito turista por causa disso”, relata.


Zônia Maria, comerciante da feira de artesanato há oito anos, com seus produtos. Foto: Eduarda Julianna

Edvan Santos, trabalha na feira há 30 anos e falou sobre como a praça não tem investimento para receber a população e reforçou que a feirinha está abandonada pelos setores responsáveis. “Falta divulgação, falta ter aquela cultura né, o folclore que não tá tendo", conta.


Edvan Santos, comerciante de lanches na feira de artesanato há 30 anos. Foto: Eduarda Julianna

PRAÇA JOSÉ ANDRADE GÓIS


A praça José Andrade Gois, localizada na Avenida Visconde de Maracaju, Zona norte da capital, é utilizada por moradores dos bairros 18 do Forte, Palestina e adjacências. Diariamente, diversas atividades, como a realização de ginástica para idosos e partidas de futsal disputadas por jovens, acontecem no local, no entanto, de acordo com frequentadores, o poder público tem deixado de zelar pela segurança e pela manutenção dos equipamentos do espaço.


Os balanços da praça estão completamente destruídos - Foto: Tatiane Macena


O aposentado Antônio José Rodrigues mora em frente à praça e afirma que ela não atende às necessidades dos frequentadores. “Ela é cheia de buraco, cocô de cachorro, não há a poda correta das árvores e os quiosques estão quebrados. Aqui até tem atividade com os idosos, mas eles se machucam muito. Acredito que eles fazem por não ter outro lugar”, relata o idoso.


Ele cobra uma resposta do poder público e diz que a única ação da prefeitura na área é a varredura. “Aqui eles só fazem varrer. Todos os dias tem duas ou três pessoas fazendo isso, fora isso não fazem nada. Até o telhado do quiosque foi consertado pelos idosos, que trouxeram telhas de suas casas. Essa praça está precisando de uma restauração urgente, pois desde que a foi feita não houve manutenção”, relata.


O aposentado José rodrigues relatou ter visto muitas pessoas tropeçando por causa de buracos na praça. Foto: Tatiane Macena

Ainda de acordo com o aposentado, a segurança também é um ponto crítico. “E segurança nenhuma aqui tem. A não ser que tenha um evento, mas quando acaba o evento, a polícia vai embora e a população fica entregue à sorte. Tem assalto direto. Inclusive, às vezes a fiação é roubada e a praça fica dias na escuridão”, reclama.


A professora polivalente Isabel dos Santos, que mora na região há cerca de 20 anos, reforça o pedido por segurança. “Precisamos de mais segurança inclusive. As pessoas que frequentam a praça não têm a confiança de trazer o celular para registrar os momentos, por medo de serem assaltados. Se tivesse uma presença constante da Guarda Municipal seria melhor”, considera Isabel.


Isabel dos Santos, moradora da região há 20 anos. Foto: Tatiane Macena

De acordo com ela, a praça é bem movimentada. “Tem bastante atividades acontecendo aqui, principalmente com o público idoso, mas a conservação do espaço não existe. Além disso, tem o calçamento também com buracos, que fazem o idoso que faz caminhada aqui sofrer. Estamos precisando que consertem isso para que nenhum idoso, que é o principal frequentador do local, tropece”, afirma a moradora.


Marcio de Souza Siqueira é servidor público e resolveu levar os filhos para se divertir. “É a primeira vez que venho a esta praça. Resolvi trazer os meus filhos para que eles possam se divertir. O ambiente é até legal, no entanto, há uma precariedade muito grande no local. Os equipamentos estão danificados, por exemplo, a gangorra que minha filha queria brincar e não conseguiu. Percebi que são três ou quatro, mas ela não conseguiu usar nenhuma dessas”, lamenta.


Para o servidor, o lugar deveria ser mais valorizado pela gestão municipal. “Acredito que falta um olhar especial para essa praça. Aqui é um lugar de diversão. Os equipamentos estão desgastados pelo tempo, então precisam de uma restauração e também tem alguns que precisam de reposição, fora isso para um primeiro olhar é um lugar legal. Moro por perto e pra não se deslocar para a orla de atalaia, decidi trazer meus filhos aqui. Se houvessem essas correções pontuais a movimentação poderia aumentar, pois é um lugar bacana”, pontua Márcio.


Servidor público Márcio de Souza Siqueira acompanhado de seus dois filhos. Foto: Tatiane Macena

Para o engenheiro Leonardo Nunes, alguns pontos são fundamentais na manutenção da praça para que a população possa usufruir dela. “Se os acessos de cadeirantes estão bem feitos, se estão obstruídos, a questão da segurança, os postes estão em boas condições, se os bancos estão bons, se a estrutura está segura.”, assegura Leonardo.


Apesar da falta de estrutura, os moradores utilizam diariamente a praça. Foto: Tatiane Macena


PRAÇA DOM JOSÉ THOMAZ


A praça Dom José Thomaz está localizada na Zona Oeste de Aracaju, no bairro Siqueira Campos. Um espaço com 15 mil metros quadrados, conta com a presença de quiosques, quadra, banca de jornal, palco, ponto de ônibus e área verde. Mesmo com uma grande área de lazer, a comunidade não frequenta de forma efetiva por conta da falta de manutenção e a falta de segurança.


Construída em um dos bairros mais importantes da capital e marcada por seu desenvolvimento comercial a praça Dom José Thomaz está rodeada de escolas, farmácias, bancos, supermercados, clínicas e lojas comerciais. Existe um alto fluxo de pessoas diariamente, principalmente por abrigar um ponto de ônibus que liga a cidade a alguns interiores do estado.


Ponto de ônibus da praça Dom José Thomaz. Foto: Nívea Estela


Porém, ao passar dos anos a praça virou abrigo para prática de atos delituosos. Muitas famílias e moradores da região deixaram de frequentar o espaço por conta do medo. Um local que era destinado a socialização e lazer, tornou-se pouco utilizado pela população pelo medo.


A ausência de segurança é bastante questionada pelos moradores e frequentadores da região. Não existe nenhum posto da Guarda Municipal em torno da praça e raramente são realizadas rondas policiais na região.


A aposentada Jilvanice Ferreira, desde os sete anos de idade é frequentadora da região, ao qual por alguns anos foi estudante e moradora. Ao ser questionada pela falta de segurança, relatou que já presenciou diversas cenas de assassinatro e roubo na praça. “Assalto mesmo já presenciei e inclusive já fui assaltada, levaram o meu celular há quatro anos atrás. Totalmente insegura a praça”, conta.


Em relação a infraestrutura do local, a aposentada comenta. “Há falta de segurança, falta de iluminação, a praça é muito escura, não tem uma boa infraestrutura que você possa andar livremente sem medo, ela não é uma localidade segura”.


Bancos desgastados por conta do tempo, situados na praça Dom José Thomaz. Foto: Nívea Estela

Mesmo sendo antiga a praça foi revitalizada, por poucas vezes. A última ação ocorreu em 2014, em que foi refeito o piso, nivelamento do pavimento e recuperação dos trechos danificados pela ação do tempo. Passados oito anos, a praça voltou a sofrer diversas degradações que não foram solucionadas.


Espaço de realização de atividades culturais em total desuso e falta de manutenção, localizado na praça

Dom José Thomaz. Foto: Nívea Estela.


Em 2015, o então prefeito João Alves Filho, assinou a ordem de licitação para a reforma, com um investimento de R$ 2,3 milhões de reais. Alguns dos benefícios que seriam implementados na praça seriam: sinal wi-fi, espaço de leitura, equipamentos de ginástica, parque infantil, casas de bonecas, área verde, mesas para jogos, quadra de esporte, pista de corrida e a presença da Guarda Municipal. Mesmo com a licitação, até hoje a obra não foi realizada.


O vereador Anderson de Tuca (PDT), considerado um representante da localidade, relatou que as únicas pinturas e tabelas que existem na praça só aconteceram por conta da sua iniciativa junto com a comunidade, ao qual lamentou a não continuidade do projeto pelo atual prefeito, que tinha como finalidade a revitalização da praça, realizado pelo ex-prefeito João Alves.


Foto 1: Vereador Anderson de Tuca (PDT) na quadra da praça Dom José Thomaz. Foto: Assessoria de imprensa do Anderson de Tuca; Foto 2: Jovens jogando futsal no final da tarde nas quadras da praça Dom José Thomaz. Foto: Nívea Estela


Mesmo com as poucas realizações de atividades destinadas à comunidade na praça, entre os dias 30 de agosto a 02 de setembro, ocorreu a sétima edição da Feira Estadual da Reforma Agrária, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na praça Dom José Thomaz, com programações culturais, muito artesanato e alimentos agroecológicos. A feira levou movimentação para a região, diversas pessoas estiveram presentes durante o decorrer do dia.


7º Feira da Reforma Agrária na praça Dom José Thomaz. Foto: Nívea Estela.


Os comerciantes estavam felizes com o sucesso das vendas e a ótima localidade. Maria Aparecida de Jesus, 49 anos, entrou no movimento dos trabalhadores sem terra no ano de 2000 e compartilhou o sucesso das suas vendas e a presença do público. “O movimento foi bom, consegui vender muita coisa, gostei da feira, era bom que tivesse mais com frequência, gostei da localidade e gostei das pessoas”, conta.


Feirantes com seus produtos, incluindo Maria Aparecida de Jesus (primeira foto) na 7º edição da feira da Reforma Agrária. Foto: Nívea Estela.


Manoel Antônio, do Setor de Produção do MST Sergipe, falou sobre a importância da localização da praça para a feira, por se tratar de um espaço localizado no meio do bairro que proporciona o deslocamento e a locomoção de várias famílias que moram no entorno. Ele ainda completou: ”É uma sociedade no bairro que é de classe trabalhadora de operários que realmente se alimenta e precisa fazer a comercialização.”


Alguns estandes e produtos comercializados da 7º Feira da Reforma Agrária na praça Dom José Thomaz. Foto: Nívea Estela.





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