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Papel da Fapitec no incentivo à ciência e à tecnologia em Sergipe

Fazer pesquisa no Brasil não é dos trabalhos mais fáceis. O investimento e a atenção que são dados à ciência e à tecnologia muitas vezes ficam longe do ideal. Nos últimos anos, o orçamento para pesquisa e tecnologia no Brasil vem sofrendo cortes pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC). Em 2018, em nível de interesse, o Governo Federal investiu R$ 3,4 bilhões na área, contra cerca de R$ 10 bilhões em 2010 em valores atualizados.


O pouco incentivo do Governo Federal no fomento à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico reflete no desempenho tímido do país, quando comparado a outras nações do mundo em investimentos e produções nessa categoria. No ranking mundial de inovação elaborado pela Universidade de Cornell, pela escola de negócios Insead e pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), o Brasil ocupa o 64º lugar. Entretanto, é notável que nos últimos anos houve um crescimento do número de produções científicas no país, fazendo o Brasil alcançar um destaque moderado no exterior. É o país latino mais bem colocado no ranking de produções científicas, que é liderado por Estados Unidos, China e Reino Unido.


No relatório intitulado Research in Brazil, produzido pela equipe de analistas de dados da Clarivate Analytics para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o Brasil é, atualmente, o 13º maior produtor de publicações científicas (papers). O relatório analisa o desempenho de trabalhos de pesquisa brasileiros publicados entre 2011 e 2016.


O impacto do Brasil na produção científica mundial aumentou ano-a-ano de 0,73 em 2011 para 0,86 em 2016, o que resultou em um aumento de 18%. Essa escala (em que 1,0 é considerada a média mundial) leva em conta a contagem de citações de publicações que foi normalizada em relação à média mundial de citações esperada para o campo de conhecimento e o ano de publicação. Caso essa tendência atual seja mantida, em 2021 o Brasil atingirá a média global de 1,0.


Hoje, no país, são produzidos alguns artigos significativamente citados nas principais bases de dados, alcançando boas taxas de citações entre os 1% dos artigos mais citados no mundo (aqueles com um impacto médio de citação maior ou igual a 4,0).

Segundo relatório divulgado pela Universidade de São Paulo (USP), em 2018 a região Nordeste teve a menor média de fatores de impactos médios do Brasil, próximo a 0,80. De acordo com o relatório Research in Brazil, nosso país possui uma concentração da atividade de pesquisa em alguns estados, especialmente, em São Paulo, que sozinho obteve 111.029 produções nesse recorte de período (2011-2016). Diante desse cenário, Sergipe é o 19° colocado, com mais de 2.658 produções científicas no Brasil, à frente de estados como o vizinho Alagoas, outros dois do Nordeste (Piauí e Maranhão) e cinco do Norte (Tocantins, Rondônia, Acre, Amapá e Roraima).


Em Sergipe, a Fundação de Apoio à Pesquisa e a Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITEC) é uma das fundações mais importantes no incentivo à pesquisa e tecnologia por parte do poder público estadual. A FAPITEC atua há quase quinze anos, com o objetivo de financiar, promover e incentivar a ciência, a inovação e a tecnologia. Sendo assim, uma das poucas instituições governamentais com esse caráter no Estado.

Segundo Ronaldo Guimarães, diretor técnico da FAPITEC, os recursos que a fundação possui são investidos em áreas estratégicas de necessidade no Estado. "Nós acreditamos que a ciência e a tecnologia não se podem fazer com discurso e sim com recurso. Essa nova diretoria vem otimizando os recursos para melhor aplicá-los nas áreas estratégicas de necessidade prioritárias no estado de Sergipe", afirma o diretor técnico.


No ano de 2018, a FAPITEC lançou dez editais, visando atender as diversas áreas da ciência e inovação tecnológica em Sergipe. Esses editais mobilizaram em torno de dez milhões de reais e atenderam várias áreas da ciência.


Na Universidade Federal de Sergipe (UFS) a FAPITEC financiou, no ano de 2018, 102 bolsas de pesquisa, sendo 74 na linha 1, voltadas para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), e 28 na linha 3, voltadas para projetos temáticos, ambas as linhas gerenciadas pela Coordenação de Pesquisa (COPES/UFS). Além disso, a instituição financiou, ainda, 14 bolsas de pesquisa voltadas para a linha 2 do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Tecnológica (PIBITI), gerenciados pela Coordenação de Inovação e Transferência de Tecnologia (CINTTEC/UFS). Além da UFS, a FAPITEC também financia bolsas de pesquisa na Universidade Tiradentes (UNIT).




A pesquisa como um propósito na graduação


Clayane Matos da Costa, 22, de Nossa Senhora da Lourdes - SE, foi uma das bolsistas de iniciação científica financiadas pela FAPITEC na UFS. A bióloga conta que o interesse no ramo da pesquisa iniciou em 2016, influenciada pela professora Mariana Alves Pagoto, do Departamento de Biologia, enquanto ainda estava na graduação de Ciências Biológicas. Ela ressalta que a pesquisa serviu como um propósito na universidade, já que, até então, ainda não tinha se encontrado no seu curso.


Clayane Matos durante apresentação da sua pesquisa de TCC. Foto: Divulgação


“Desde o primeiro dia de aula, ela me fez sentir que a botânica seria minha área. Eu recordo bem uma frase que marcou muito aquele dia, onde brincando em meio a conversas de apresentação e da aula introdutória, ela falou que a botânica seria o novo glossário da biologia. E foi a partir desse momento que eu vi a oportunidade de fazer valer a minha graduação, pois até então eu não tinha me encontrado no curso”, afirma a pesquisadora.


E foi dessa forma que ela entrou no laboratório de anatomia vegetal e dendrocronologia do Departamento de Biologia. Clayane realizou sua pesquisa financiada pela FAPITEC, durante sua graduação na UFS, na área de dendroecologia, que é uma sub-área da dendrocronologia, que nada mais é que os estudos dos anéis de crescimento dos troncos das árvores ao longo do tempo.


A bióloga conta que analisou em seu estudo amostras da espécie Cedrela odorata, popularmente conhecida como cedro, dentro do bioma caatinga. A pesquisa trouxe resultados expressivos. “Através das análises anatômicas macroscópicas, eu percebi que essa espécie é além de anéis verdadeiros e falsos, também existia a presença de anéis ausentes e essa informação constitui uma novidade para pesquisa nessa área, com essa espécie”, afirmou. A pesquisadora relata que durante as análises no laboratório concluiu que as árvores do bioma caatinga são muito jovens (a mais longeva estudada durante a pesquisa tinha 56 anos), por conta do desmatamento e negligenciamento que esse bioma enfrentou ao longo dos anos. Outro resultado que a pesquisa apontou é que a temperatura do oceano do ano anterior influencia na precipitação do ano corrente da região, que, por sua vez, vai influenciar diretamente no crescimento das árvores.


Ela destaca a forma que a sua pesquisa foi realizada pode intervir na vida do sertanejo e do agricultor da região estudada. “Percebi que no ano passado os sertanejos e os agricultores sofreram muito com a seca, que perderam toda a sua plantação. Então, diante desses resultados, verificados sobre a precipitação, eu pretendo dar continuidade e acompanhar a fenologia e o crescimento dessas árvores mensalmente, para que eu veja se realmente é isso que está acontecendo, se as árvores estão crescendo, para que possa alertar os agricultores se eles devem investir na agricultura ou não”, ressalta Clayane.


Clayane sendo prestigiada por amigos, após apresentação do TCC. Foto: Divulgação


A dificuldade em fazer pesquisa no Brasil, ainda mais na região Nordeste, também afetou as pesquisas da estudante. A bióloga começou a se dedicar à pesquisa em 2016 e ficou um ano e meio trabalhando no PICVOL (Programa de Iniciação Científica Voluntária) sem nenhuma remuneração, só em 2017 ela conseguiu a bolsa financiada pela FAPITEC. Mas, a falta de recursos foi um dos maiores obstáculos enfrentados durante o período da pesquisa, problema esse que é vivenciado por pesquisadores de todo Brasil. “Um dos maiores obstáculos enfrentados na pesquisa não é um problema pessoal, eu vejo isso como um problema da maioria dos pesquisadores brasileiros, que é com relação aos recursos. Apesar do laboratório onde eu estou hoje ter uma boa estrutura física, eu sinto a necessidade de novos equipamentos, de novas tecnologias para o avanço da pesquisa”, enfatizou Clayane, que pretende ingressar no mestrado acadêmico e dar continuidade no campo da pesquisa.


Todavia, acima de qualquer dificuldade, para ela, a bolsa FAPITEC serviu como um constante incentivo a não desistir da pesquisa e, ainda, proporcionou experiências que sempre estarão guardadas em sua memória. “Foi através dela (bolsa FAPITEC) que eu participei do Congresso Nacional de Ecologia em 2017, na cidade de Viçosa-MG. Foi o meu primeiro congresso fora do Estado e lá eu tive experiências ímpares, foi muito bom conhecer uma nova universidade, ter contato com outros pesquisadores. Eu levarei esse momento sempre em minha memória”, recorda a bióloga.


Clayane pretende ingressar em um mestrado acadêmico para dar continuidade a pesquisa e, por isso, fala como esse incentivo governamental precisa de continuidade, para que assim novos pesquisadores sejam incentivados a fazer ciência. “Assim como eu tive essa oportunidade eu espero que o governo continue incentivando a pesquisa para que outros pesquisadores tenham a mesma oportunidade que eu tive”, ressalta a pesquisadora.

Pesquisa aproxima estudante às práticas do seu curso


O interesse por pesquisas acadêmicas não envolve somente os alunos, incluem também os orientadores que se empenham em auxiliar os seus orientandos no desenvolvimento de projetos. Esse é o caso do Professor Cláudio Sergio Lisi, do Departamento de Biologia (DBI), da UFS.


Cláudio, que orientou o trabalho de Clayane, citada nesta reportagem, destaca a importância desse estudo e da necessidade de material humano para dar continuidade às pesquisas. “No Nordeste, o laboratório da UFS é o único em plena atividade nesSa área (dendrocronologia) e precisa de gente para gerar mais conhecimento. Aí entra a importância das bolsas de Iniciação Científica e de Pós-Graduação”, afirma o orientador Cláudio.


Para ele, as bolsas são importantes pois fazem com que os estudantes se aproximem com as atividades práticas do seu curso, além de fortalecer o crescimento da ciência na região. “Elas são necessárias para incluir os estudantes em atividades práticas da área de escolha deles, porque assim eles se aproximam mais das práticas propostas pelo curso que eles escolheram. O envolvimento com as pesquisas acadêmicas forma profissionais atuantes nas áreas em que as pesquisas são desenvolvidas, além de desenvolver o Nordeste cientificamente”, destaca o professor.


Além da ajuda financeira das bolsas, os bolsistas necessitam de outros tipos de incentivo para que as pesquisas avancem. Segundo o professor Cláudio, “são necessários o estabelecimento de metas a serem cumpridas pelos alunos para que a pesquisa prossiga”, concluiu.


Divulgação e reconhecimento


Um dos maiores desafios dentro da pesquisa científica é a possibilidade de difundir aquilo que se produz de maneira clara e objetiva para quem não convive e pouco conhece sobre o que é produzido no meio acadêmico. Em Sergipe, uma das estratégias adotados para a popularização da ciência é o Prêmio João Ribeiro de Divulgação Científica, realizado pela FAPITEC, e o papel fundamental dos jornalistas na divulgação dessas produções.


"Com esse prêmio a gente consegue reconhecer o trabalho dos pesquisadores, dos estudantes e também dos jornalistas que estimulam a divulgação científica e inovação tecnológica. A sociedade precisa ver o que a FAPITEC vem produzindo no Estado", é o que afirma Ronaldo Guimarães, diretor técnico da FAPITEC. Em 2018, mais de 36 mil reais foram investidos apenas no prêmio.


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