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Mais um dia de "cão" para quem usa transporte coletivo em Aracaju


Por James Santos e Lucas Emídio


O dia é uma quinta-feira (14) do mês de setembro, e como todos os dias da semana o passageiro sai de seu trabalho às 17h, olha em seu aplicativo que determina o horário dos ônibus na cidade e descobre que o seu transporte deve passar às 17h30. Meia hora já não é mais algo absurdo quando se está acostumado com o transporte público na cidade de Aracaju. O costumeiro ponto de ônibus desse passageiro está especialmente cheio nesse dia. Uma senhorinha que reclama do atraso do ônibus o faz lembrar do motivo: “Esses motoristas não querem saber é de trabalhar”.


Nas últimas semanas, foi noticiado sobre a greve dos rodoviários do Grupo Progresso e sua única reivindicação: receber os dois meses de salário atrasado. Afinal de contas quem trabalha quer receber não é mesmo? Não precisa muito para entender o quão difícil é essa situação toda.


A greve dos motoristas do transporte urbano da região metropolitana de Aracaju reflete as principais dificuldades passadas por esses trabalhadores. Além disso, a população também sente na pele as dificuldades ocasionadas pela falta de ônibus. Mas não é de agora que as pessoas observam a situação difícil em que se encontra essa modalidade de transporte. Principalmente neste momento pandêmico.


Como a frota dos ônibus havia diminuído, as pessoas que esperavam no mesmo ponto perceberam que só havia um único ônibus circulando naquela linha. Alguns atravessaram a rua correndo e garantiram seus assentos quando ele passou do outro lado da avenida. Outros preferiram esperar pelo ônibus.


Para ter certeza de que só existia um veículo daquela linha circulando, o passageiro recorreu ao aplicativo e confirmou a má notícia. O app avisava que aquele ônibus só iria chegar às 18h30. Somente um único ônibus para atender toda a cidade. Com essas informações expostas, o único cenário possível para aquela viagem seria uma grande aglomeração dentro de um espaço apertado, com pouca ventilação e, o pior, durante a pandemia.


Após todos esperarem uma hora, que parecia uma eternidade, o ônibus finalmente está por vir. E, como se fosse uma forma de anunciar sua chegada, o passageiro ouve, desde a esquina, o ranger da lataria velha atravessando a estrada de uma forma estranhamente lenta e pesada. Como esperado, o veículo está lotado.


O passageiro não entendeu como, mas conseguiu passar pela catraca. Porém, não passou disso. A quantidade de pessoas dentro daquele transporte era tão absurda, que conseguiu dar apenas dois passos após passar da catraca, e teve que permanecer na mesma posição até o final do percurso.


O clima estava tenso, as pessoas murmuravam reclamações e o motorista aturava calado. Até o momento em que o motorista se descuidou e avançou o veículo antes de uma passageira descer do ônibus. Todos gritaram numa mesma voz de desaprovação e o motorista parou, esbravejando indignação porque, devido a grande aglomeração, não tinha condições de ver quem estava descendo ou subindo.


Esse tipo de situação poderia ser facilmente resolvida se o ônibus tivesse um cobrador. Mas com a ausência dessa figura, as pessoas fizeram esse papel. E, contrariando as expectativas, colaboraram com o motorista o norteando em relação aos momentos em que deveria parar e seguir em frente: “BORA MOTÔ, PÉ EM BAIXO”. Nesse ambiente ambíguo de colaboração e raiva, o passageiro finalmente chega em seu destino e agora só precisa caminhar 500 metros até chegar em sua moradia.


Mesmo com a conflituosa situação, a população entende a dificuldade dos motoristas de transporte público, principalmente nos momentos de “rush”. As horas com maior lotação dos ônibus que circulam pela região metropolitana são pela manhã cedo, e ao final da tarde e noite. Ademais são os momentos que os trabalhadores estão indo ou retornando para suas residências. Nos últimos meses a população se surpreendeu com a falta de cobradores nos ônibus de grande porte. Na capital, apenas os motoristas trabalhavam sozinhos apenas nos micro-ônibus.


Essa situação gera acúmulo de funções para esses trabalhadores que agora passam a conferir quem sobe ou desce do transporte, receber os valores e passar o troco, liberar a passagem pela catraca, controlar as portas que abrem e fecham, e dirigir. Por outro lado, a empresa alega ter tomado essas medida por falta de receita durante a pandemia.


O Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT-SE) determinou, em abril deste ano, que os motoristas não devem receber dinheiro sem as devidas medidas de segurança nos ônibus. A decisão visa proteger tanto os motoristas quanto os passageiros.


Após o término da greve, e com a retomada dos ônibus, não houve grandes mudanças. O Grupo Progresso prometeu que realizaria o pagamento dos salários e benefícios atrasados até o final do mês de outubro. Com o retorno desta frota que estava paralisada, houve um maior fluxo de ônibus. Sendo assim, os passageiros conseguiram, novamente, se deslocar do centro até a zona de expansão.


Enquanto isso, para a população que viaja pela cidade por meio de transporte público, pouca coisa mudou. Pois, essa retomada só resolveu os problemas que foram criados pela própria greve. Todos os outros que existiam antes permaneceram. A frota ainda é pequena, o que ocasiona aglomeração e atraso, os veículos continuam desgastados e os motoristas continuam exercendo duas funções, de motorista e cobrador, o que causa diversos contratempos e transtornos. Ou seja, o transporte público continua precário.




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