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Entre humor e ‘dancinhas’: o fenômeno TikTok nas profissões

O uso da rede social para divulgação de trabalho tem atraído muitos profissionais para a plataforma


Por Ana Julia Oliveira, Juliana de Jesus Santana e Waldênnia Soares Teles



O TikTok tem funcionado como uma ferramenta de divulgação dos serviços de profissionais das mais diversas áreas. (Foto: SOPA Images/Getty Images)

Com o advento da tecnologia digital, pudemos presenciar o surgimento de diversas redes sociais com o intuito de conectar os seus usuários, como, por exemplo, o MSN Messenger, Orkut, Flickr e MySpace. A princípio, essas ferramentas online tinham como finalidade a interação social através do compartilhamento de músicas, fotos, vídeos e troca de mensagens privadas. No entanto, ao longo dos anos, as redes sociais se tornaram instrumentos primordiais para o marketing de variados negócios ao oferecerem espaços para o desenvolvimento de publicidades, como exemplo disso temos o Instagram, Facebook e a mais recente delas, o TikTok.


Criado para o entretenimento audiovisual, a rede social chinesa TikTok atingiu proporções imensuráveis ao bater o recorde de 3 bilhões de downloads no mundo, número que supera a marca de apps como Facebook, Instagram e WhatsApp. O destaque do TikTok foi tamanho que o colocou como alvo de ataques do ex-presidente estadunidense Donald Trump, que levantou uma discussão sobre o possível banimento do aplicativo em solo norte-americano.


A sua capilaridade entre os grupos de diferentes faixas etárias foi fundamental para despertar o interesse de profissionais em busca de estratégias de marketing digital para os seus negócios ou difusão de conteúdo relacionado à área de atuação no mercado. Divulgar produtos e serviços em um contexto onde a midiatização (difusão da comunicação através dos meios digitais) está cada vez mais presente no nosso cotidiano, se torna o jeito perfeito para adquirir a visibilidade desejada.


Não é difícil encontrar profissionais de várias áreas inseridos na rede social de modo a divulgar os seus serviços e produtos. Vale de tudo: dancinhas, conteúdos humorísticos ou de informação acerca de aspectos de cada área divulgada com leveza através de trends (as categorias de vídeo que estão em destaque na plataforma) e até mesmo vídeos que apresentam a rotina desses profissionais em seu ambiente de trabalho.


Dessa forma, o usuário conhece a experiência trabalhista da mulher que é atendente em uma loja, da pequena empresa que produz bijuterias ou moletons, e até mesmo da equipe que decora festas ou faz bolos. Encontrar um meio-termo entre o que é exigido do profissional, o que se quer entregar e o que os usuários esperam encontrar no TikTok é a “receita de bolo” para alavancar o alcance.


Em diversos casos, os vídeos compartilhados no TikTok viralizam de modo que muitos seguidores são conquistados por essas contas que buscam se destacar pelo seu trabalho. A partir disso, existe uma possibilidade real de converter em clientes ou pacientes uma parte desse público, perspectiva que torna a plataforma ainda mais atrativa para o profissional.


O nome dado a esse processo de adesão de profissionais à plataforma é chamado “Tiktokização” do trabalho. Esse conceito entende que existe uma crescente necessidade do uso do TikTok para a divulgação dos serviços de diversas profissões e que sem ela as chances de sucesso de um trabalhador estão reduzidas. Ou seja, o profissional só consegue novos clientes e novas oportunidades se está disposto a produzir conteúdo que pode viralizar ou servir para angariar vários seguidores.


O alcance da “Tiktokização”, por exemplo, cresceu com o lançamento de funções semelhantes ao aplicativo TikTok em aplicativos concorrentes. O sucesso da premissa da rede social chinesa foi tamanha que em agosto de 2020, o Instagram anunciou a criação do Reels, ferramenta da plataforma que possui finalidade e estrutura semelhantes. Com estilos de vídeos parecidos ao do TikTok, no Reels também é muito fácil encontrar profissionais promovendo os seus trabalhos.


Um desses profissionais é Lorena Neves, psicóloga e pós-graduanda em Teoria Cognitiva Comportamental (TCC), formada desde novembro de 2020 e que começou a atuar como psicóloga autônoma desde abril de 2021. Logo de cara, ela entendeu que para se lançar no mercado precisaria utilizar alguma rede social como trampolim.


“Percebi que na minha profissão, particularmente, precisamos ser reconhecidas. Mas como me formei não tem muito tempo, como seria reconhecida? Como as pessoas me conheceriam? Decidi começar me mostrando, compartilhando conteúdo com a finalidade de ser vista”, declarou.


A psicóloga, que possui 1.000 seguidores no Instagram, conta que utiliza o Reels para produzir conteúdo e relata que eles estão mostrando resultados. “Todos os pacientes que eu acompanho profissionalmente me conheceram através das redes sociais, pois se identificaram com minha forma de trabalhar e com a minha pessoa também”, conta Lorena, que não sabe indicar quanto tempo leva para pensar na elaboração dos vídeos.


A “Tiktokização”, mesmo sendo muito promissora, não acontece de forma célere e garantida para todo mundo. O trabalho empreendido para ter seu conteúdo exibido para milhões de pessoas na plataforma é enorme e demanda muito tempo e comprometimento dos profissionais. Desse modo, apesar de se caracterizar como uma boa opção para a divulgação de conteúdos, o TikTok acaba se tornando uma obrigação para trabalhadores que já lidam com muitas demandas trabalhistas.


Além disso, a obrigação para seguir o curto prazo de tempo dos vídeos da plataforma, somada ao acúmulo de funções do produtor de conteúdo apresentam pontos controversos e pouco debatidos. Transmitir informações profissionais sobre o seu produto ou área de atuação, em pouco tempo, torna o criador de mídia refém da possibilidade de cair na falta de aprofundamento da temática. Sem o cuidado necessário, a informação pode não ser transmitida ou chegar de forma errônea ao espectador da rede social.


Nesse sentido, é possível tratar os contras da “Tiktokização” como um via de mão dupla entre profissionais e espectadores. Cabe ao profissional e formador de conteúdo se certificar em ser cauteloso ao transmitir informações, garantindo que elas cheguem ao público de forma célere, mas ainda assim eficiente. Ao espectador, do outro lado, cabe a ação de selecionar criteriosamente o que está prestes a consumir e compartilhar na plataforma.


Mesmo diante dessas problemáticas, a taxa de desemprego 一 atualmente de 13,7% no Brasil, atingindo cerca de 14,1 milhões de pessoas 一 atrelada a pandemia do coronavírus, quase que aniquilaram a possibilidade de um profissional sobreviver fora desse sistema de vídeos e trends. As recompensas gradativamente alcançadas e diretamente relacionadas aos seus números na plataforma enchem os olhos do público ao serem consideradas uma solução para o desemprego e baixa no capital familiar e individual.


De fato, o TikTok se tornou uma das principais ferramentas da internet na promoção do entretenimento, contribuindo significativamente para a atenuação do ócio durante as rotinas isoladas da pandemia. É inegável que o incentivo a produção criativa de conteúdo, que atinge variadas faixas etárias, contribui diretamente para a difusão de culturas que ultrapassam inclusive barreiras sociais.


No entanto, também não podemos descartar que a população se tornar “refém” de uma rede social, de modo a conseguir o reconhecimento que deveria ser fomentado pelo mercado de trabalho, é certamente triste e desmotivador. Além de lidar com a jornada laboral, o profissional agora precisa se dividir em dois ou mais para ser reconhecido não só nos meios empregatícios como também na internet. Como se a sua jornada de trabalho já não lhe bastasse ou adiantasse muita coisa.


Agnaldo Rezende - entrevistaJoyce e Katiane
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