A educação sexual é pouco abordada dentro das escolas, visto que ainda é tida como tabu dentro da sociedade brasileira. Porém, para desgosto de muitos adultos, o tema faz parte da vida dos jovens. Atualmente, o adolescente tem iniciado a vida sexual durante a fase da puberdade, que acontece entre 13 e 17 anos, e nem sempre é amparado por uma educação que aborde a sexualidade dentro dos parâmetros curriculares de ciências do Ministério da Educação (MEC).
O presidente Jair Bolsonaro disse numa entrevista, em novembro de 2018, ser contra a abordagem da sexualidade dentro das instituições de ensino. “Quem ensina sexo para criança é papai e mamãe. Escola é lugar de aprender Física, Química, Matemática. Fazer com que tenhamos um bom empregado, um bom patrão e um bom liberal’, argumentou.
Como é abordado o tema nas escolas?
De fato, o sexo é assunto pouco abordado, e quando é tratado em sala de aula gira em torno de temas como o funcionamento do sistema reprodutor humano e como acontece a gravidez. O resultado disso são os aumentos de gravidez indesejada e dos casos de doenças sexualmente transmissíveis, em virtude da prática do ato sem o uso da camisinha, por exemplo.
Com o advento do projeto Escola sem Partido e de conceitos como “ideologia de gênero”, muitos pais começaram a questionar se, de fato, é necessário esse tema ser ensinado nas escolas. Por outro lado, especialistas argumentam que o pouco que é ensinado em sala não é o suficiente, e que os pais não têm conseguido conversar com seus filhos sobre isso.
Quais os problemas apresentados?
Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), a taxa de detecção de AIDS tem aumentado entre meninos de 15 e 19 anos, além do crescimento nos índices de gravidez na adolescência e violência sexual. De acordo com estimativas da Unicef (Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas), nove em cada dez casos de violência sexual contra crianças e adolescentes são cometidos por um conhecido da vítima, e a grande parte é da família.
O que os pais dizem a respeito?
Maria Renilza Dantas, 55, mãe de uma estudante do ensino médio, relatou que, na geração dela, o tema não era abordado nas escolas ou em casa, mas considera importante a iniciativa. “Gostaria que meus filhos recebessem aulas sobre o tema na escola, pois previne as doenças sexualmente transmissíveis (DST) e a gravidez indesejada”, relata. Para ela, a família às vezes não quer entrar nesse tema por motivos de vergonha e, na escola, normalmente há professores qualificados para abordar o assunto.
O que os professores pensam a respeito?
Francisca das Chagas, 79, diretora aposentada do colégio estadual Francisco Alencar Cardoso, comenta que a educação sexual não é muito abordada, mas que conversava com os alunos sobre o tema. “Quando eu falava sobre sexo, meus alunos admiravam e até pediam para ter uma nova aula sobre o assunto, tudo dentro da ética”. Ela comenta que é importante ter essa conversa na escola e dentro de casa, e que os pais devem conversar com seus filhos para que eles possam ter consciência dos seus atos.
A professora Érica Fernanda Gomes, 36, do Instituto Educacional Menino Jesus, informa que isso deve ser trabalhado desde o Maternal. “Algumas famílias ainda possuem algum tabu de outra geração, ainda tem pais que têm um constrangimento em relação a esse assunto com seus filhos, então a escola é como uma ponte entre o pai e o filho quando a sexualidade é debatida”, afirma.
Ela argumenta que a maior dificuldade para se trabalhar esse tema é devido à religião. “Algumas doutrinas não permitem que seus fiéis tenham interesse sobre o assunto, porque acham que vai despertar o desejo da sexualidade”.
Érica comenta que recebeu formação necessária para abordar o tema por meio de apostilas e alguns debates entre colegas, mas lembra que o papel de educar sexualmente é da família, pois o aluno já vem de casa com algo em mente. “Alguns pais acham que a escola tem a obrigação de ensinar tudo a seus filhos, mas a escola existe para orientar, tirar dúvidas. Tem que falar e orientar, e não deixar para os professores”, defende a professora.
O que pensam os estudantes a respeito do tema?
Miguel dos Santos Bezerra, 15, estudante do colégio Sesi, disse que não sabe por que os diretores não incorporam a ideia de colocar uma matéria sobre sexo nas escolas, pois seria muito melhor para os jovens terem conhecimento e poderem prevenir doenças sexuais. “Na minha escola, não conheço ninguém que tenha DST, mas é um problema, e tem de ser passado essa ideia de se prevenir”, diz.
Tatiane Macena dos Santos, 21, estudante de Jornalismo, informa que estudou numa escola que debateu muito sobre o tema e que teve acesso às informações por meio de palestras. “Eu acho muito importante discutir sobre o assunto, pois pode prevenir uma gravidez na adolescência”, informa. Para ela, o que impede que o assunto seja debatido em sala de aula é o conservadorismo. “A mulher que entende o que é sexo vai estar mais preparada para não ser vítima de estupro”, acredita.
“Durante minha vida escolar, a temática nunca foi citada de forma direta, apenas quando estudávamos o corpo humano em Biologia”, relata o estudante de Direito, Lucas Vinicius Ribeiro Fraga, 21. Segundo ele, o assunto deveria ser abordado com frequência como uma matéria obrigatória no currículo escolar, já que pode influenciar o jovem a praticar o ato sexual de forma segura e responsável. “A educação sexual tem de ser discutida na escola e na família, pois um ensino vai complementar o outro”, defende o estudante.
Prof. Érica: “a escola é uma ponte entre pai e filho quando a sexualidade é debatida”
Produção da disciplina Oficina de Textos Jornalísticos - 2019.1
Reportagem - Caio Queiroz
Orientação - Professor Daniel Brandi
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