Estudantes, professores e especialistas discutem corte de verbas da educação pública
Diante do contingenciamento de gastos nas universidades e institutos federais, divulgado em abril deste ano, um possível sucateamento entrou em questão. Tendo em vista a participação de 12,1% das matrículas da educação superior concentradas nas instituições públicas, o corte de verbas pode interferir, sobretudo, no número de graduados que pode ingressar no mercado de trabalho.
O economista Luís Moura, do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos e Estatística - Dieese, observa os efeitos provocados pelo descaso com a educação e o resultado que trará.
“Depois da reforma trabalhista, os poucos empregos que estão sendo gerados são informais e a busca por emprego de qualidade com carteira assinada está difícil. Mais de 80% dos brasileiros ganham até dois salários mínimos, com nível de escolaridade acima do nível médio, o que mostra que a situação está desagradável e isso só irá se reverter quando a economia voltar a crescer”.
O corte do orçamento afeta alunos e também funcionários. Ao primeiro grupo, no que tange à qualidade da formação e a dificuldade que esse fator irá representar para a obtenção de um emprego. Ao segundo, o impasse faz referência à necessidade de serviços operacionais como limpeza, vigilância e conservação da estrutura, desempenhados em escala crescente por meio de empresas terceirizadas.
A partir das universidades são gerados 13,7 mil cargos com funções ligadas à coordenação acadêmica de cursos técnicos, tecnológicos, de graduação e de pós-graduação stricto sensu, de acordo com análise jurídica do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior.
“O sucateamento tem reflexo na operacionalização da Universidade, sem os recursos básicos não há como os estudantes permaneceram lá, isso irá afetar principalmente aqueles cursos que utilizam laboratórios, energia, e também os estudantes que se beneficiam das bolsas de pesquisa, bolsa de permanência estudantil, a partir daí surgem altos índices de evasão no espaço acadêmico”, diz Lia Silva, estudante de História na UFS durante a manifestação em protesto aos cortes, realizada em junho em Aracaju.
Uma pesquisa realizada pelo Senac em parceria com a Fecomércio avaliou a influência da graduação na ascensão profissional e concluiu que mais de 60% dos entrevistados já graduados ingressaram no mercado de trabalho. Esse dado demonstra que a formação superior é grande diferencial no momento de concorrer a uma oportunidade. Além disso, uma possível retração no número de estudantes nas universidades significaria menos trabalhadores, e por consequência, menos contribuintes no mercado.
De acordo com dados do Dieese, é possível comprovar que a economia não tem força para acelerar e abrir postos de trabalho, por isso o desemprego permanece estacionado nas alturas. “O fato de você não ter o ensino superior é fator excludente, uma vez que é difícil que uma pessoa que não tenha segundo grau completo ou mesmo o nível superior completo consiga acessar empregos de qualidade, pois o mercado de trabalho está discriminatório”, declara o economista Luís Moura.
O sucateamento das instituições públicas afeta o crescimento da economia brasileira, porque a redução do nível superior público gera diminuição do número de empregados no Brasil. A situação se agrava se somada à reforma da Previdência, que dificulta o acesso à aposentadoria e condena à pobreza os futuros aposentados de baixa renda. Enquanto isso, a economia brasileira caminha em marcha lenta.
Produção da disciplina Oficina de Textos Jornalísticos - 2019.1
Reportagem - Larissa Moura, Marina Menezes, Gabriel Alcântara e Isadora Cândido
Orientação - Professor Daniel Brandi
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