Por Franciele Fernandes Brito e Fernanda Souza Dantas
O usuário de aplicativos de viagem no Brasil tem passado por transtornos na hora de solicitar uma corrida. Cancelamentos e atrasos, são alguns dos problemas relatados pelos clientes. Se de um lado as reclamações têm se acumulado entre os usuários, do outro, existe um grande número de motoristas prejudicados pelo aumento do combustível e pelo valor do repasse das empresas donas dos aplicativos.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), nos últimos 12 meses, a inflação para o motorista foi de mais de 18%, a maior marca dos últimos 21 anos. Esse fator está diretamente ligado ao aumento no preço do combustível e se reflete na realidade do motorista de aplicativo. O que era visto como uma alternativa para o montante de desempregados no país, se tornou agora motivo de preocupação e ainda mais desemprego.
Além disso, segundo a Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo (AMASP), a empresa Uber excluiu, em todo o país, cerca de 15 mil motoristas de aplicativo, por motivos de excesso de cancelamentos. A empresa nega essa quantia e informou que cerca de 1,6 mil motoristas foram excluídos da plataforma. Nos últimos meses, as reclamações de clientes que tiveram suas contas canceladas cresceram bastante. A insatisfação das pessoas também. Mas por outro lado, as condições de trabalho para os condutores têm se tornado cada vez mais insustentáveis.
Embora as empresas desses aplicativos tenham reajustado o valor do repasse para os motoristas, depois de muitos protestos, o que os condutores recebem não compensa os gastos com combustível, manutenção do veículo e alimentação durante as jornadas de trabalho. Os dados levantados pela AMASP também apontam que os condutores gastam cerca de 53% do que ganham com gasolina, etanol e gás. Enquanto isso, grandes entidades como a Uber e a 99 continuam lucrando às custas do trabalhador, que sem vínculo formal com a empresa, pouco pode exigir legalmente.
Mesmo o reajuste feito pelas empresas para os motoristas não foi o bastante para que os condutores parassem de selecionar as viagens, e muitas corridas estão sendo canceladas, causando um verdadeiro caos na vida de pessoas que dependem cotidianamente desses serviços. Os vários cancelamentos de cadastro dos motoristas de aplicativos, por sua vez, também causam transtornos na vida de muitas famílias que, muitas vezes, dependiam desse trabalho para sua sobrevivência.
A empresa Uber alega que passageiros e condutores têm o direito de fazer cancelamentos desde que não causem maiores transtornos e excedam os limites estabelecidos pela plataforma. No entanto, muitos motoristas alegam que o cancelamento da conta foi feito sem nenhum contato prévio, o que significa que as empresas não estão de fato preocupadas em estabelecer um diálogo, e, talvez, pensar pela ótica do trabalhador, que neste momento caótico no qual todos estamos vivendo, é só mais uma vítima do aglomerado de problemas e crises que acometem o nosso país.
Em meio ao grande número de desempregos no Brasil, as pessoas desempregadas encontraram como alternativa trabalhar em empresas como a Uber e a 99, no início — para muitos — a opção de trabalhar como motorista de aplicativo parecia promissora. Por um período até foi vantajoso, pois os condutores, em sua maioria pareciam satisfeitos. Muitos profissionais de outras áreas, como professores, advogados, engenheiros, começaram a trabalhar nesse ramo para complementar suas rendas ou até como alternativa para fugir do desemprego.
Não podemos negar que a empresa Uber, iniciante do ramo, teve uma grande ideia ao desburocratizar o serviço de transporte individual. Mas fica a reflexão: se o desemprego no Brasil não estivesse em números tão alarmantes, o crescimento da Uber e demais empresas seria tão grande quanto foi? A resposta é simplesmente não. Logicamente não haveria tantos motoristas disponíveis no mercado para trabalhar para uma empresa que oferece poucos benefícios e condições precárias de trabalho.
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