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População da Zona Norte de Aracaju sofre com falta de água há décadas

Cerca de 200 mil habitantes são impactados diariamente devido a problemas envolvendo o abastecimento da região

Por: Lílian Dias, Milânia Ribeiro, Sofia Amaral  e Verônica Soares 

Iraci dos Santos, 88, mora na rua Idalício Soares, no bairro Olaria, há mais de 20 anos e lida com a falta de água nas torneiras ao menos uma vez por semana. Sem condições financeiras para instalar uma caixa d’água, a aposentada armazena água em baldes com tampa, doados de estabelecimentos. E, em casos raros, compra água mineral para fazer comida, lavar os pratos, tomar banho e realizar outras atividades básicas do cotidiano. A realidade de dona Iraci, na verdade, reflete a de mais de 200 mil moradores da Zona Norte de Aracaju. 

Essa comunidade enfrenta desafios persistentes e diários ao longo de décadas devido a três fatores principais. O primeiro e mais preponderante deles é sua posição social periférica. De acordo com o último Mapa da Pobreza e Desigualdade Social de Aracaju, produzido em 2017 e divulgado pelo Observatório Social do Município, a Zona Norte concentra os maiores indicadores de pobreza. Em outras palavras, estamos narrando a história de uma população majoritariamente carente, que reside em  uma área onde investimentos em infraestrutura quase não chegam.

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FOTO 1_ INFOGRÁFICO DE MAPA DA ZONA NORTE.webp

Créditos: Milânia Ribeiro

Dados do Censo de 2010 indicavam que a população da Zona Norte era de 203.934 habitantes. Os mesmos dados do Censo de 2022 ainda não foram divulgados.

Os dois outros fatores explicam a dificuldade de abastecimento de água como um problema crônico, pois tratam-se de questões estruturais da região. A Zona Norte possui um relevo elevado, isto é, fica situada em uma parte mais alta da cidade, o que exige maior força de pressão da água para que ela chegue às residências. Além disso, o local tem uma tubulação precária devido a sua antiguidade. O bairro Santo Antônio, por exemplo, localizado na Zona Norte, foi sede do início da urbanização na cidade, ainda antes de sua fundação, em 1855.

A união desses desafios estruturais com sua posição periférica e os alarmantes índices de carência formam um complexo ciclo de vulnerabilidade. Além da falta de bem-estar cotidiano, os habitantes dessa região sofrem com ameaças à saúde decorrentes da persistente necessidade de armazenar água em vasilhas, tonéis, baldes, garrafas PETs e, na melhor das hipóteses, caixas d’água. Muitos deles, inclusive, afirmam ter medo da dengue. E ainda mais preocupante, nenhum dos entrevistados demonstrou saber, claramente, o motivo da falta de água, o que dificulta a busca por soluções.

ÁGUA VIAJA CERCA DE MIL QUILÔMETROS

Em Aracaju, existem três sistemas integrados de abastecimento, sendo cada um deles estrategicamente direcionados à distribuição de uma região da cidade. Um desses sistemas, o responsável pelo abastecimento da Zona Norte e, recentemente, da Barra dos Coqueiros, na região metropolitana, é alimentado pela Adutora do São Francisco. Essa unidade leva água a um reservatório com capacidade de 400 mil metros cúbicos, localizado em propriedade do Departamento de Saneamento de Sergipe (Deso), no ponto mais alto da Zona Norte. Então, a julgar pelas evidências, não há motivo algum para que a região sofra com a falta de água.

Conforme estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), cada indivíduo necessita de aproximadamente 110 litros de água por dia para atender às suas necessidades de consumo e higiene. Em termos práticos, essa quantidade poderia satisfazer as demandas de cerca de 1.090.909 de pessoas ao longo de um mês, enquanto a população de Aracaju, de acordo com o Censo Demográfico de 2022, é de aproximadamente 602.757 habitantes. Entretanto, essa reserva não é suficiente para suprir sequer as necessidades da Zona Norte, que, em 2010, possuía população estimada em 203.934 habitantes. 

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Foto: Julio Cesar

 Reservatório fica localizado em propriedade da Deso no bairro 18 do Forte, no ponto mais alto da Zona Norte

O Rio São Francisco, lugar de onde a adutora retira água, é o maior rio brasileiro. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e desemboca no Oceano Atlântico, na divisa entre Alagoas e Sergipe. A adutora, que leva o mesmo nome do rio, foi construída pela Deso e entrou em operação em 1982. Desde 2010, sua infraestrutura hídrica permite a produção de 3 mil litros por segundo. Além disso, também dispõe de estação compacta com capacidade para tratar 600 litros por segundo. 

Os outros dois sistemas de abastecimento de água da cidade também são alimentados por captação superficial, isto é, de rios, lagos ou represas. Nesse sentido, a Barragem do Rio Poxim é responsável pelo fornecimento de água à Zona Central e a Adutora da Cabrita, à Zona Sul. Em todos os casos, a responsabilidade de distribuição é da Deso. No entanto, ainda com a diversificação de canais e suas grandes capacidades de produção, há registros de falta de água em todas as áreas, embora sejam com menos frequência quando comparados aos da Zona Norte.

De acordo com Julio Cesar Soares, pesquisador geocientista vinculado ao Núcleo de Ensino e Pesquisa em Petróleo e Gás da Universidade Federal de Sergipe (NUPEG-UFS), dentre os 75 municípios do estado de Sergipe, 71, incluindo Aracaju, possuem contrato com a Deso. Os municípios que não possuem são Estância, São Cristóvão, Capela e Carmópolis, lugares onde o abastecimento de água se mostra ainda pior, pois possuem o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). “Nesses casos isolados, a situação é ainda mais agravante devido à dificuldade de um município possuir volume de caixa para manter um sistema de saneamento básico de qualidade”, argumenta.

Por outro lado, a alta capacidade de oferta apresentada pela Deso revela a empresa como estável e lucrativa. Em 2022, o último balancete anual divulgado pela companhia indicava um lucro aproximado de R$ 45 milhões. Estamos tratando de uma empresa que atende a cerca de 1,8 milhões de habitantes, espalhados em diferentes regiões do estado; uma empresa que tem potencial aquisitivo e estrutural. Então, por que na casa de dona Iraci, que abriu esta reportagem, e de boa parte da população da Zona Norte, falta água com frequência? 

POR QUE FALTA ÁGUA?

Notícias diárias relacionadas à água na Zona Norte de Aracaju frequentemente incluem expressões como 'adutora falhou', 'cano estourou' e 'rompimento alagou a avenida'. Essa dificuldade no abastecimento permanece há décadas devido a problemas crônicos e sociais da Zona Norte, que se desdobram em uma série de incidentes. Diante desse cenário, uma vez que o reservatório destinado ao abastecimento dessa área tem capacidade para suprir além das suas próprias necessidades, o motivo central para a falta de água constante na maior parte das residências dessa área de habitação é a negligência do poder público.

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Créditos: Sofia Amaral

Notícias sobre a falta de água na Zona Norte são frequentemente divulgadas na mídia sergipanas

Caso o problema fosse unicamente estrutural, ou seja, relacionado à necessidade de maior pressão, também faltaria água nas áreas mais altas de bairros como Atalaia, na zona nobre da cidade. A antiguidade das tubulações é aspecto fundamental nessa análise, pois faz com que estas se apresentem mais frágeis e propensas a falhas e danificações. De fato, substituir as tubulações mais antigas por materiais modernos em uma área tão extensa seria uma iniciativa de alto custo e de difícil logística. No entanto, pequenas intervenções voltadas à melhoria da infraestrutura seriam capazes de mudar o quadro. 

Isso porque, parte significativa dos rompimentos de tubulação ocorre devido ao atrito causado pelo constante movimento dos veículos sobre a pista. Sem a camada protetora de asfalto, o tráfego torna as tubulações mais suscetíveis ao desgaste. Na Zona Norte, a quantidade de trechos sem asfaltamento é alarmante. Inclusive, são notadas nas áreas mais altas, onde a falta de água é mais sentida. Investir na pavimentação dessas vias não solucionaria completamente o problema, já que existem rompimentos naturais do sistema. Mas, reduziria significativamente as ocorrências. 

De forma complementar, estamos diante de uma população pouco orientada em termos de formalização de denúncias. Durante a produção desta reportagem, poucos moradores afirmaram já ter realizado uma denúncia à Deso. Alguns expressaram, ainda, não saber a quem recorrer diante da falta de resolução. Esse é o caso de um senhor de 50 anos, ao afirmar: “Diz eles que o abastecimento aqui da Pedro Moura, conhecida como Olaria, não pode ser puxado de outra rede, aí a gente fica dependendo dessa bomba. Quando quebra, ligo para fazer reclamação e a resposta é a mesma: não tem o que fazer, só aguardar a troca”.

Outro fator, dessa vez mais recente, que tem contribuído para a dificuldade de abastecimento na Zona Norte é o rápido crescimento da Barra dos Coqueiros, município vizinho também abastecido pela Adutora do São Francisco. Tendo em vista que o reservatório tem capacidade para suprir a necessidade de água para uma população ainda maior, o crescimento da Barra dos Coqueiros não é um impedimento direto. Contudo, por ser situada em uma região mais baixa, consegue abastecimento mais rápido e prioritário da água, desviando o fluxo e afetando a pressão da água que seria destinada à Zona Norte. 

Aracaju não é a única cidade que encontra dificuldade de abastecimento na Zona Norte, exemplos próximos são Maceió, Salvador e Santa Catarina. No último caso, além de investimentos significativos na infraestrutura urbana, a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN) conseguiu reduzir drasticamente os rompimentos por meio da instalação de válvulas redutoras de pressão. Estas são responsáveis por aliviar a pressão da água fora do horário de pico do consumo da água, que, em Aracaju, ocorre das 8h às 17h, pois as válvulas fazem com que a sobrecarga do encanamento diminua, reduzindo a chance de rompimento. 

Embora muitos moradores tenham direito à Tarifa Social, ação criada pelo governo federal em 2002, que garante a inscritos no Cadastro Único desconto entre 20% e 50% na conta de água, a depender do consumo, o valor pago não é favorável. Inclusive, essa tarifa encontra-se ameaçada diante da possibilidade de privatização da Deso. Hoje, pagar a conta mensal já não é suficiente para essa população ter acesso à água em casa, é preciso recorrer constantemente à compra de água mineral, compra de reservatórios como tonéis e instalação de caixa d'água, o que pesa no bolso. Com a falta da tarifa, a situação tende a piorar ainda mais. 

Foto: Lílian Dias e Sofia Amaral

População enfrenta irregularidades no abastecimento e recorre ao armazenamento de água

Por outro lado, além das alternativas que pesam no bolso, a ausência de intervenções como a introdução de válvulas redutoras de pressão e a carência de investimentos significativos na infraestrutura dos pontos mais altos dos bairros desta zona obrigam a população a buscar alternativas desagradáveis e perigosas para solucionar a falta de água em suas casas. Mas, já que contornar problemas geográficos não é uma opção, a pergunta que fica é: por mais quantas décadas os moradores dessa área precisarão enfrentar desafios diários?

MORADORES SOFREM MAIS

Há pouco mais de uma década, quando a falta de água se prolongava, os moradores da Zona Norte eram socorridos com o fornecimento por meio de carros-pipa. O ritual de levar baldes, bacias e todos os recipientes disponíveis até o passeio, aguardar ansiosamente a chegada do carro na rua, enchê-los e, em seguida, carregá-los de volta para dentro de casa, era parte da rotina diária. A situação mudou quando, em 2014, a Deso instalou bombas de água em diferentes bairros, para atender exclusivamente as áreas que mais sofriam com a falta de água, como é o caso das ruas Pedro Moura e a rua Idalício Soares, no bairro Olaria. 

Lamentavelmente, os moradores ainda sofrem com a falta de água e, ao tentarem denunciar as irregularidades, muitas vezes se deparam com a quase inexistência de canais adequados para realizá-lo. As bombas instaladas com o objetivo de levar água às ruas mais altas, quebram frequentemente, e quando isso acontece, é preciso esperar por dias para que o reparo seja feito, como conta um morador que reside no bairro Olaria há quatorze anos. Segundo ele, quando a bomba quebra, a falta de água se estende de 3 a 4 dias, e raramente carros-pipa são fornecidos.

Esse problema enfrentado ano após ano levou os moradores a buscarem alternativas para amenizar os impactos da falta de água. Na tentativa de atenuar os efeitos causados na rotina diária, muitos recorrem ao uso de tonéis para armazenamento. No entanto, a ausência de notificações por parte da empresa de abastecimento torna difícil mantê-los cheios, uma vez que é recomendável trocar a água armazenada regularmente para garantir sua própria potabilidade e evitar a proliferação de microrganismos e vetores de doenças, como a dengue.

 

O bairro Olaria é conhecido como uma das áreas mais carentes de Aracaju, e é também onde a falta de água é mais sentida. Segundo apurou o +Contexto, Soledade é o segundo bairro com maior falta de água. Marilia Silva, 35, moradora que recentemente passou quase uma semana sem água em sua residência, diz que existe uma grande dependência de reservatórios na região. Não há a quem recorrer para garantir água além dos próprios vizinhos. “A gente fica acordado até duas horas da manhã pra esperar chegar os ‘pinguinhos’, e quando não chega, tem que pedir na casa de vizinha; tem que ficar pedindo um pouquinho a uma e a outra que tem reservatório”, afirma.


Ela relata que já registrou várias reclamações à Deso, mas não houve qualquer medida para resolver o problema em nenhum caso. Para os moradores, essa situação é percebida como falta de consideração com os contribuintes que regularmente pagam seus impostos e, em troca, recebem um serviço de qualidade inferior. Apesar das promessas de enviar alguém para investigar, ninguém aparece e o problema persiste, com interrupções frequentes no abastecimento de água, fazendo com que os moradores enfrentem até 15 dias sem água.

Créditos: Lílian Dias e Sofia Amaral

Moradores relatam problemas diários devido a dificuldade de abastecimento de água

Embora as reclamações sobre o abastecimento na zona sejam frequentes, a moradora Rebecca Maria Santos Araújo, 28, do bairro 18 do Forte, é uma exceção. Para Rebecca, a escassez de água na região não causa um impacto significativo na rotina. De maneira ponderada, ela ressalta que, embora a falta de água seja uma realidade presente, sua rotina não é drasticamente afetada, pois dispõe de alternativas de abastecimento independentes da rede pública, como o uso de um filtro domiciliar, caixa d'água e água mineral para as necessidades do dia a dia. 

 

Esses recursos fazem com que Rebecca e sua família estejam preparadas para lidar com os desafios decorrentes da escassez de água. No entanto, os custos associados à manutenção desse padrão de qualidade ou dignidade básica são excessivamente altos, o que impede que a maioria da população da Zona Norte tenha acesso a essa realidade. Ou seja, Rebecca é uma exceção; uma das poucas pessoas que dispõem de condições financeiras para custear a qualidade de vida de ter água nas torneiras. 

 

Após analisar os dados obtidos através de um Google Forms criado pelo +Contexto e divulgado exclusivamente para moradores da região Norte, foi constatado que a maioria deles utiliza água mineral. Atualmente, um galão de água com 20 litros dura, em média, 10 dias, variando de acordo com o número de pessoas e o quanto consomem. Considerando uma utilização estável de 20 litros a cada 10 dias, o gasto anual é de 288 reais, sem levar em conta as variáveis. Uma opção mais econômica seria investir em uma caixa d'água, entretanto, o preço desse reservatório pode variar entre 200 a 3.500 reais, dependendo de sua capacidade, além das despesas relacionadas à instalação.

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Foto: Lilian Dias

Caixas d’água são soluções entre aqueles com maior poder aquisitivo diante das dificuldades de abastecimento na região.

Mesmo não sendo tão afetada quanto os outros moradores, Rebecca está atenta à situação da escassez de água em sua comunidade, percebendo a falta temporária de água nas torneiras. Além disso, ela observa que quando o fornecimento de água é restabelecido, nota-se uma coloração amarelada nas primeiras corridas de água, o que sugere possíveis impurezas no sistema de distribuição. Todos esses fatores, destacam a complexidade da situação enfrentada pela comunidade, evidenciando a precariedade da disponibilidade da água e as constantes e incertezas em relação ao futuro.

PRIVATIZAÇÃO DA DESO TRAZ NOVAS INCERTEZAS

As discussões em torno da privatização da Deso, defendida pelo Projeto de Lei Complementar n° 398/2023, são um tema de relevância diante dos desafios relacionados à irregularidade no abastecimento de água enfrentado pela população. Mas, seria essa medida capaz de solucionar os problemas de abastecimento enfrentados pelos moradores da Zona Norte de Aracaju? Essa questão nos convida a refletir sobre o valor da água e seu impacto direto no bem-estar coletivo.

 

Há aproximadamente uma década, a possível privatização da Deso vem sendo estudada, refletindo um processo demorado pelo qual o governo estadual pretende realizar a concessão parcial dos serviços de saneamento básico. Isso implica em conceder parte da operação e gestão da empresa para o setor privado, enquanto o governo mantém a propriedade e o controle geral.

Nesse caso, a concessão planejada para ocorrer em maio deste ano e ir até 2033, a água, um recurso essencial à vida, seria administrada e distribuída com base em considerações de lucro e eficiência operacional por uma entidade privada para a distribuição e faturamento. Esse processo levanta questões sobre a natureza da água como uma mercadoria versus um bem obrigatório e essencial à vida.

A perspectiva em torno da privatização preocupa muitos, como Maria Vasconcelos, 60, moradora do bairro Cidade Nova. “Eu não entendo como vai funcionar, mas sei que vai ser ruim, que a taxa vai aumentar”. Essa é uma preocupação que reflete as apreensões compartilhadas pela maioria dos que se opõem à medida, pois acreditam que a privatização da água pode resultar em aumento de tarifas, redução do acesso para comunidades carentes e falta de transparência nas operações.

Mário Rodrigues, 47, também morador do bairro Cidade Nova, acredita que a privatização possa trazer melhorias. “Eu acredito que melhore o fornecimento de água. Pode até aumentar a taxa, mas o fornecimento da água, acho que é melhor, é que nem a energia né? Como na Energipe, era aquele caos, depois da Energisa está bem melhor”. A argumentação é semelhante à utilizada por aqueles que apoiam a concessão por acreditarem que a gestão privada poderia trazer investimentos, tecnologia avançada e eficiência operacional para melhorar o sistema de abastecimento. 

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Foto: Sofia Amaral

Manifestantes expressam oposição à privatização da Deso durante a primeira assembleia de Colegiado, realizada em 18 de janeiro de 2024.

Enquanto nada se resolve, a dúvida persiste em relação à concessão. Será que realmente haverá melhoria? Até o fechamento desta reportagem, nenhum contrato sobre a privatização foi divulgado. Essa ausência dificulta possíveis avaliações sobre a efetividade das propostas e se elas vão solucionar o problema de abastecimento, principalmente na Zona Norte, uma região que é constantemente afetada. Experiências anteriores em estados como Rio de Janeiro e Alagoas revelam que concessões semelhantes resultaram em aumentos significativos nas taxas de água e sem trazer melhorias perceptíveis no abastecimento.


No contexto do Rio de Janeiro, a concessão de 2021 e em Alagoas, em 2012, gerou críticas pela falta de transparência e exclusão de comunidades carentes. Esses casos destacam os desafios desse sistema, como a necessidade de realizar obras para melhorar a infraestrutura. Esses exemplos são indicadores de desafios e falhas no sistema de abastecimento, que podem ocorrer após a concessão de serviços de água e saneamento para empresas privadas.

 

Apesar das promessas de melhorias na eficiência e qualidade dos serviços, as experiências passadas sugerem que transferência para o setor privado não garante automaticamente resultados positivos para a população. No fim das contas, não há como identificar se a situação vivenciada por dona Iraci, mencionada no início desta reportagem, irá melhorar após a concessão da Deso, deixando um cenário de incerteza quanto aos impactos reais dessa mudança.

Produção labotarial do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

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Produção labotarial do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

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