Revelando histórias,
desvendando o invisível
O coração inquebrável de Almir
Tentaram destruí-lo de todas as formas. Mas, Almir do Picolé se manteve íntegro e cheio de amor para dar, não só aos seus filhos, mas também às mais de 90 crianças que frequentam a sua creche filantrópica, em Socorro.
Com um sorriso largo, Almir Almeida Paixão, ou melhor, Almir do Picolé, nos recebe em frente ao lugar que ele tem mais orgulho na vida, sua creche. É um dia de terça-feira, a creche se encontra cheia, afinal, são mais de 90 crianças que passam por lá todos os dias, localizada no bairro Piabeta, na Rua Maria Miralda dos Santos, n° 04.
Sempre solícito, Almir senta no banquinho e pergunta: “Assim ficou bom?”
Foto: Mira Marques
Empolgado, ele nos convida para conhecer o ambiente onde ele desenvolve seu trabalho social há quase 20 anos. Após apresentar o local, nos reúne em torno de uma das mesas onde acontecem as refeições das crianças, e começa a contar sua história de vida. Entre tantos relatos, alguns não muito felizes, ele sempre faz questão de ressaltar o orgulho de poder ajudar várias famílias através do seu projeto social.
Almir faz piadas sobre sua aparência, ao perceber que está sendo fotografado, e sorri tímido.
Foto: Mira Marques
Almir nasceu dia 29 de outubro de 1969, em Aracaju, mas, aos quatro anos foi abandonado na rodoviária da cidade. Com um semblante cabisbaixo, ele relembra dos dias na rua e conta a sorte de ter sido acolhido por um orfanato, no qual permaneceu por 13 anos até decidir fugir. Sim, fugir, repete. Mas porque fugir do lugar que te acolheu? “Apesar de ter sido acolhido, sofri muito bullying por conta da minha deficiência visual, sem aguentar toda aquela cisma comigo, decidi fugir de lá. Ser portador de miopia e estrabismo também me impossibilitou de concluir os estudos, fazendo encerrar na antiga 4° série, porém grato pelo estudo que ainda consegui obter”, revela.
Ao falar do passado e da vida pessoal, Almir fica apreensivo e inquieto. Foto: Mira Marques
Aos 17 anos, ele estava nas ruas novamente. O que fazer? No primeiro momento a rua era sua única opção, até conhecer o povoado Colônia 13. “Trabalhei em uma padaria, meu primeiro emprego'', relembra. E por meio desse emprego, e residindo no povoado com 32 famílias carentes, ele começou ajudar nas despesas com o pouco que recebia. Após a padaria, ele começou a vender picolés na rua, e mesmo assim, não deixou de ajudar os mais vulneráveis. “Eu saía para vender meus picolés, e escutava de uma das famílias do povoado que não tinha um quilo de carne para comer; na volta, eu passava lá e deixava a carne que havia comprado pra eles, e assim foi minha vida toda, ajudando sempre que possível”,
explica Almir.
Poucos imaginam o peso do passado que Almir carrega nas costas. Foto: Mira Marques
Muitos perguntam, porque ajudar os outros se você também não tinha muitas condições? Almir expressa uma resposta única: “Não desejo que eles passem pelo que eu passei, por isso sempre estive ajudando os outros”.
Tentaram destruir o coração dele de todas as formas, mas nada foi capaz de tirar o sorriso do rosto de Almir. Foto: Mira Marques
Ele não recebeu o amor que merecia na infância, mas, mesmo assim, sabe o que fazer para deixar uma criança feliz. Foto: Mira Marques
Em 2003, a Creche Almir do Picolé foi inaugurada. Para o espanto de todos, Almir explica que a creche nunca foi um sonho dele, mas que surgiu depois de “adotar” as famílias da Colônia 13. A construção da creche só foi possível pela doação do terreno, feita pelo empresário Yedo Santo Prado Barreto, e também porque Almir foi de porta em porta pedir ajuda à população para custear as obras.
Com a felicidade esbanjando no rosto, o brilho do olhar, as 60 premiações ao longo de sua vida são o reflexo de seu trabalho em prol dos menos favorecidos.
As marcas e sinais de expressão revelam que esse rosto muito sorri. Foto: Mira Marques
Desde berços, colchões, mesas, brinquedos, televisão, a estrutura é pensada para que a criançada se sinta em casa. As mães e os pais saem despreocupados, pois sabem que durante o tempo que os filhos estiverem lá, estarão cuidados, seguros e felizes.
“O sorriso da criançada, o bem estar delas, é o maior troféu que eu posso ganhar” - Almir do Picolé
Outra expressão de felicidade de Almir, foi sobre ter um filme contando a sua história. Mais ainda, foi ao chegar na Colônia 13, e toda a comunidade esperava ansiosa para assistir junto com ele, afinal, era a história de quem sempre os ajudou.
Umas mais tímidas, outras mais extrovertidas. Todas queriam ver a foto que a tia Mira tirou. Foto: Mira Marques
Com o filme, a creche recebeu mais de 50 mil reais em doações, e, desde a fundação, esse é o principal meio de sobrevivência do local. Sem ajuda governamental, a creche anda com a colaboração daquele que quer fazer o bem. “Do trabalhador que ganha um salário mínimo, ao empresário, recebo doações de todo tipo de gente. E assim a creche vai se mantendo, oferecendo quatro refeições diárias, atendimento médico, odontológico, e muito mais”, se orgulha Almir.
Esse é o Almir, abandonado aos quatro anos, passagem por orfanato até os 17 anos, morador de rua quando fugiu, mas que mesmo assim não se desvirtuou dos seus valores, e mesmo com tão pouco, fez questão de ajudar o próximo.
S.C.A.S. Almir do Picolé
Agência: 035-03
Conta Corrente: 101470-7
Aracaju
Banese
S.C.A.S. Almir do Picolé
Agência: 2346-9
Conta Corrente: 20074-3
Nossa Senhora do Socorro
Banco do Brasil
Quer ajudar a creche do Almir do Picolé? Saiba como doar:
PIX:
CNPJ: 07.281.386/0001-04
Celular: 79 9 9604 6058
S.C.A.S. Almir do Picolé
Agência: 4408-003
Conta Corrente: 786-6
Caixa Econômica Federal
Luciano Barreto Junior