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Museu do Mangue, no bairro Coroa do Meio, nunca funcionou efetivamente

Atualizado: 28 de mar. de 2019


Projeto do Museu do Mangue (Foto: Wellington Barreto)

Quem passa pela frente do prédio do Museu do Mangue, no bairro Coroa do Meio, muitas vezes, nem sabe que aquela construção era para ser realmente um museu. O local está com várias pichações, estrutura depredada, tapumes nas janelas para tentar tapar os vidros quebrados e um cenário de total abandono do espaço. O projeto que começou com o intuito de fortalecer à região nunca funcionou efetivamente.


Em novembro do ano passado, o Ministério Público Estadual (MPE/SE) entrou com ação civil pública para obrigar a Prefeitura de Aracaju a adotar medidas para revitalizar o espaço. O processo, contudo, está parado porque houve troca do promotor responsável, que ainda está se inteirando do caso, segundo informações obtidas junto à Promotoria de Meio Ambiente. A ação pede também que equipamentos de segurança sejam instalados para que o museu funcione da forma segura.

 

Construção


Aracaju é uma cidade na qual os mangues fazem parte de sua história. Em 2010, uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Aracaju e o Ministério das Cidades deu início a um projeto que visava incentivar e preservar as áreas de mangue ainda existentes, além de, consequentemente, revitalizar o bairro onde seria instalado. Foi assim que surgiu a ideia do Museu do Mangue, localizado na Avenida Desembargador Antônio Góis, bairro Coroa do Meio.


À época da sua construção, em 2010, a prefeitura informava, em seu site, que o projeto teria “ponto de atração turística diferenciado, oferecendo trilhas sobre passarelas, degustação de comidas típicas, passeios contemplativos, competições, etc”. Destacava ainda a criação de empregos, “em função do desenvolvimento de uma série de atividades educativas, artesanais, culturais, turísticas, gastronômicas, comerciais e recreativas”. A consciência ecológica, a população e a memória de Aracaju estavam no centro do projeto.


A ideia do projeto era revitalizar o bairro e preservar as áreas de mangue. (Foto: Ascom/Emurb)

No dia 23 de junho de 2011, um ano depois do início das obras, um incêndio deu fim ao pouco até então existente. A inauguração de fato nem chegou a acontecer e o local se tornou abandonado.


Seu José Reis dos Santos é presidente da Associação de Pescadores da Coroa do Meio e mora no bairro desde 1986. Conhecido pela comunidade como Irmão Reis, ele conta que desde o começo da construção do museu, dialoga com a prefeitura e alerta sobre a falta de planejamento das gestões. “Eles fizeram a estrutura, que era muito bonita, não entregaram a ninguém e não inauguraram, então os vândalos acabaram com tudo. Está tudo destruído. O poder público não tem interesse de colocar realmente para funcionar”, afirma.

 

Primeira reforma


Em 2017, sob gestão da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema), obras foram feitas nos quiosques e banheiros da estrutura. Segundo a prefeitura de Aracaju, em matéria veiculada pelo site oficial da instituição, “a reforma estava sendo feita com o objetivo de dificultar as ações de vandalismo”.


Primeira reforma do museu, em 2017. (Fotos: Ascom/Emurb)



Um total de R$ 432 mil foram investidos e o Museu do Mangue poderia então funcionar. Nessa época, a comunidade promoveu eventos culturais e chegou a fazer uso da estrutura instalada. Irmão Reis conta que mesmo com a depredação no espaço, feirinhas de artesanato foram organizadas e começaram a gerar renda na região.


No entanto, a movimentação no espaço público não durou muito tempo. O porquê disso? Irmão Reis responde prontamente. “Acho que ali agora só funciona com a Força Nacional. Ficava só um guarda tomando conta, é claro que não ia dar certo”, diz.

 

Insegurança na região


O abandono do espaço afastou a população e o local se tornou ponto de vandalismo e de tráfico. Segundo o MPE/SE, em nota veiculada pelo Portal A8SE, nem quem deveria fazer a segurança estava se sentindo seguro na região. Em 2017, a Guarda Municipal reconheceu o problema e informou que os próprios guardas estavam recebendo ameaças.


“A prefeitura faz a obra para a comunidade e a comunidade precisa ter consciência e tomar conta. É um conjunto entre governo e moradores. Eu tento conversar com os jovens para que eles entendam isso. Quando cheguei para ser presidente da associação, isso aqui era só ponto de drogas. Eu fui devagar conversando com eles e explicando que precisávamos cuidar”, explica José Reis.


Abandonado, o espaço se tornou ponto de vandalismo e tráfico. (Foto: Portal Infonet)

Tamires Bezerra, 28, é moradora da Coroa do Meio desde que nasceu. Pra ela, o museu seria ótimo para movimentar a região, porém a violência no local desestimula o desenvolvimento do projeto. “No começo, a comunidade achou bacana, só que aqui tem muito crime e as pessoas ficam com medo. Começou a ter briga, já teve troca de tiro, então o pessoal da feirinha desistiu. As pessoas daqui não se sentem à vontade e nem vem gente de fora porque a situação da segurança é horrível”, conta.

 

Revitalização do Museu


A terceira chance para o local chegou no final de 2018 com uma ação civil pública ajuizada pelo MPE/SE contra a Prefeitura de Aracaju e a Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb). Em reportagem veicula pelo Portal Infonet, a situação descrita pelo MPE/SE foi de que “a área se encontra em péssimo estado de conservação e sem segurança, necessitando de urgentes medidas de preservação”.


Em contato com a Assessoria de Comunicação da Sema, a informação recebida é de que realmente existe um plano de revitalização em andamento, que envolve diversos órgãos da gestão de Aracaju, como Emurb, Guarda Municipal e Secretaria de Segurança Pública. Porém, não foi possível marcar entrevista com o atual secretário - Augusto César de Mendonça Viana – nem com algum representante porque o caso ainda estava em aberto. Também foi pedida nota de esclarecimento que pudesse responder à algumas dúvidas, porém não foi enviada.


Até hoje, não se sabe ao certo quando que o museu vai funcionar plenamente. Questões como inauguração e acervo ainda são desconhecidas até mesmo pela gestão do órgão, e há dúvida se realmente o espaço será aberto. Mas essa informação não foi esclarecida pela Prefeitura de Aracaju.


Enquanto isso, a população segue no cotidiano de estruturas vazias e a única memória ali presente é a dos vários incidentes. Um espaço que deveria servir para lazer e preservação ambiental – e também cultural – está destruído e passa longe de cumprir com seu objetivo.


“É difícil, mas eu ainda acho que alguma coisa boa vai sair dali, sabe? A gente, enquanto morador, não pode perder as esperanças. O Museu do Mangue segue sendo uma luta, mas nada acontece de forma fácil, então quem sabe se daqui a alguns anos esse espaço não vai estar cheio de novos turistas. Seria muito bom”, afirma Irmão Reis.


 

Produção da disciplina Laboratório de Jornalismo Integrado II - 2019.1

Repórter: Letícia Nery

Orientação: Prof. Josenildo Guerra

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